É um assunto que me prende por
diversas vezes, perceber se o que estou a ler é boa ou má literatura.
Isso porque, por diversas vezes,
me proponho a ler obras consideradas como excepcionais mas que não me prendem,
me aborrecem inclusivé a ponto de as abandonar a meio.
Isso poderá levar a várias
considerações, porém uma pergunta que faço sempre é: o que faz um leitor gostar
de determinado livro?
Pessoalmente a literatura tem
para mim a função de entretenimento. Quando quero ler algo que me enriqueça em
termos de cultura geral, procuro sempre livros de teor científico e histórico.
Um romance é para me entreter, tem de me agarrar pelo enredo e pela temática. A
estética, a linguagem, nada me diz, não a valorizo.
Ou seja, não leio porque a
obra em si contém um texto belo, ou que siga alguma corrente literária inovadora, ou que
seja um best-seller, um Nobel, etc. Nada disso, a sinopse tem de me convencer e
o enredo tem de me agarrar nas primeiras cem páginas, caso contrário, mesmo que
seja o livro mais considerado um portento, coloco de lado.
Dou como exemplo o “Ulisses” de
Joyce. Já o tentei ler mas não passei da página 20. Aborreceu-me de morte e não
compreendo onde está a beleza da obra. Mas sou um leigo, sou um simples leitor
que efectivamente já leu muitos livros, muitos clássicos e, embora me considere com alguma bagagem literária, não me interessa a análise do texto, a sua linguagem e outras considerações.
Tenho contudo enormes dificuldades em aceitar pseudo-intelectuais afirmarem que obra ou autores X ou Y são geniais e que outras,
geralmente as Best-seller, não tem qualidade literária. Isso são balelas. O que
interessa é o prazer que a leitura nos dá e o resto é conversa. Se assim não
fosse, Agatha Christie não seria a escritora mais vendida de todos os tempos e não
víamos obras de Dan Brow ou J. K. Rowling nos tops de todo o mundo durante
semanas.
Meu caro Miguel,
ResponderEliminarEsta é a pergunta que um leitor mais procura responder, e ao mesmo tempo aquela que menos importa. No fundo, o livro não é nada sem o seu leitor.
Descartes dizia que corpo e mente eram duas entidades distintas, onde a nossa consciência fazia parte de uma esfera que não era o nosso corpo. António Damásio quis mostrar que corpo e mente são na verdade um só, e que a racionalidade não pode existir sem emoção. (gostaste da minha introdução pseudo-poética?) E os livros, serão boa literatura e boa leitura entidades distintas? Também num livro existe racionalidade e emoção, ou as duas não vivem uma sem a outra?
Por vezes a "boa literatura" encontra uma leitura agradável, outras vezes não. À cabeça, lembro-me sempre de livros como "Samarcanda", considerado um clássico e na minha opinião um livro fraco que só goza do seu estatuto por explorar tempos históricos incomuns na literatura ocidental. Para mim não é boa literatura, e no entanto é aplaudido como tal, e não o digo por ser má leitura. E depois lembro-me de livros como "Memórias de Adriano", que sinceramente odiei ler (tenciono ler em breve e possivelmente mudar a minha opinião) mas que reconheço como boa literatura não só pelo texto mas também pela abordagem histórica.
Recentemente, li "Um Gentleman em Moscovo" e adorei. E quando o li considerei-o boa literatura. Olhando para trás, se calhar exagerei um pouco no meu julgamento. Não obstante, adorei a leitura e considero um bom "novo clássico". Já li o "Anjos e Demónios" e achei uma excelente leitura. É boa literatura? Poucas pessoas o diriam.
O que eu quero dizer com estes exemplos todos é que por vezes a boa literatura toca o entretenimento, outras vezes não. No fim, isso não importa minimamente. Aqui não há nenhum dualismo que mereça ser discutido, porque na verdade existe uma terceira entidade: o leitor (ora diz lá se não fui ligar bem à minha introdução, hem?). E esse terá sempre a última palavra. Nunca haverá um livro universalmente apreciado por todos. Haverá sempre quem goste e quem não goste. E depois haverá aqueles livros que gostamos quando somos jovens e que odiamos quando somos mais velhos, e vice versa. Boa Literatura será nada mais nada menos do que aquele livro que a maioria das pessoas gosta, em qualquer idade.
(pessoalmente, no entanto, creio que a chamada "Boa Literatura" deve gozar sempre de algum traço de entretenimento. Por amor a São Francisco de Sales, nós não estamos a falar de documentos administrativos nem de manuais de ciências, estamos a falar daquela Literatura que lemos para nos distrairmos um pouco. Um pouco de entretenimento é inerente a Boa Literatura, nem faz sentido sê-lo de outra forma. Boa Literatura mede-se por um texto bonito, ou mais irreverente? Claro que não. Mas coloca nesse texto bonito ou irreverente bom conteúdo, com uma história interessante e boas personagens, e será um prazer ler em todos os sentidos)
Grande Pedro!
ResponderEliminarEfectivamente é como dizes, embora seja uma pergunta que qualquer leitor procura responder é, no fundo, aquela que menos importa.
O que vais referindo vai muito de encontro aquilo que penso. Eu assumo que literatura para mim tem o condão de entretenimento, sabes, já me deixei de ler textos/livros que intelectuais aconselham, já me deixei de seguir determinados conselhos, pese embora, confesse, que procuro sempre opiniões quando me proponho a ler algum livro e simplesmente porque não me apetece perder tempo com livros que, à partida, têm opiniões negativas. Dou-te dois exemplos, há dias comecei a ler Americanah, um livro que tem tido um enorme sucesso e desisti passado algum tempo. porquê? Simplesmente porque a temática pouco me diz e porque o estava a achar muito monónoto e pensei "Bom, não vou andar aqui duas, três semanas a ler só isto para nem sequer me entreter". Bom ou mau livro? Para mim é um livro banal.
Outro exemplo, O Pintassilgo de Donna Tartt. Comecei a ler e hás tantas achei aquilo tão chato que desisti. resolvi pesquisar e eis que me deparo com várias opiniões de pessoal que tece as mesmas considerações que as minhas. Boa ou má literatura? Subjectivo, é óbvio, mas a mim aborreceu-me.
Eu penso que boa literatura tem de nos entreter, tem de nos agarrar. Se eu quiser saber algo, então procuro biografias, livros cientificos, História, etc. Romance é apenas para nos entreter.
Sou capaz de ler os "grandes livros", e procuro fazê-lo de vez em quando, até porque por alguma razão são tão aclamados certo? Não obstante uns serem melhores do que outros, a probabilidade de agradarem não deixa de ser maior... Se não o fizesse, nunca teria descoberto o meu amado Gabriel García Márquez por exemplo... Apenas faço-o mantendo em aberto todas as perspectivas. Tentando perceber porque é considerado um bom livro, mas sem me deixar levar pelo pretenciosismo.
ResponderEliminar(nunca li o Americanah, apesar de a escritora estar muito na moda. Ando muito desligado das novidades na verdade, muito mesmo, quase nunca leio livros novos. Donna Tartt tenho A História Secreta e O Pequeno Amigo por ler).
Ando muito pelo Goodreads para ir buscar as opiniões. Apesar de não ser o sítio mais fiel (quase todos os livros têm uma média de pontuação de 4 estrelas). Curiosamente, nunca leio as opiniões de cinco estrelas, vou sempre para as críticas negativas! Tenho esta ideia de que as críticas mais duras são as mais "objectivas", e acaba por acalmar as minhas expectativas e dar-me um retrato mais fiel do livro que vou encontrar.
Para além disso, acho o Goodreads uma boa forma de ir registando o meu progresso (uso como uma espécie de Twitter).