Pessoalmente evito ler livros que
não sejam minimamente verossímeis, principal razão pela qual não leio livros de
fantasia, pois por muito que o autor se possa basear em factos, eventos ou
sociedades reais, quando me deparo com dragões, elfos e demais criaturas míticas,
logo o meu interesse esmorece ao ponto de nem me lembrar mais do que estou a
ler.
Quando li a premissa do primeiro
livro de Timur Vermes, confesso que fiquei um pouco receoso, pois o facto de
começar com uma cena de Adolf Hitler a acordar num descampado nos dias actuais,
sessenta anos após o seu desaparecimento, como se nada tivesse sucedido,
criou-me alguma desconfiança, porém deixei-me levar pela menção de ser uma obra
metafórica, mordaz e irónica sobre a actual sociedade, assentando,
naturalmente, na actual sociedade germânica.
E não fiquei desiludido com o que
li, pois efectivamente o livro efectua uma crítica corrosiva a toda a sociedade
ocidental que estão a ser minadas por dirigentes conservadores de ultra direita
que nos trazem à memória os líderes fascistas que proliferaram na primeira
metade do século XX.
Porém a crítica é mais longa e
toca em algo que nos deve fazer pensar. Sabe-se que o Ser Humano não aprende
com os erros do passado. Parece que a memória da História Universal se apaga
logo após duas gerações a terem vivido e isso o autor deixa claro quando
constrói o ressurgimento de Adolf Hitler que apenas age como agiu a partir de
1921 quando se tornou o líder do partido alemão dos trabalhadores, futuramente denominado
partido nazi.
E como é que ele agiu?
Efectuando discursos inflamados,
promovendo as suas opiniões sobre o antissemitismo e anticomunismo. A imprensa
da altura achava-lhe graça e não lhe dava grande crédito. No entanto Hitler
conseguiu, aos poucos, chamar a atenção do eleitorado até que chegou a
Chanceler da Alemanha e, depois disso, é só ler nos livros de História o rumo
que o mundo tomou.
Neste livro o paralelismo é
semelhante.
Surgindo do nada, Hitler que tem
apenas o só o mesmo discurso antissemita e ultra nacionalista, age como se o tempo
não tivesse passado. A sociedade olha para ele como um cómico e não o leva a
sério, porém aos poucos o cenário vai mudando e eis que o xenofobismo escondido
se começa a revelar…
Embora ele seja ridicularizado,
Hitler logo se apercebe da enorme mudança do Seu tempo com o actual e, conforme
fez a partir de 1921, ele começa a utilizar de uma forma séria as redes
sociais, tv e jornais (mais uma critica). Ele aproveita todas as oportunidades
para aparecer, mesmo se apercebendo que as pessoas não o levavam a sério, ele
sabia que tudo era uma questão de tempo até a sua mensagem começar a entrar e
isso de facto começa a acontecer, começando a ganhar espaço e eis que surge em
todo o se fulgor.
É um livro engraçado que serve
também como alerta para o que estamos a viver, nomeadamente ao surgimento de
vários líderes que têm discursos muito similares, discursos cheios de clichés,
chavões e profundamente violentos, exacerbando ideias nacionalistas ou tendo
como alvo minorias. Isso é visível hoje em dia em grandes países supostamente
democráticos mas que elegeram dirigentes que copiam bem o estilo de Hitler, e
isso é muito preocupante, até porque a História repete-se de forma constante e
está no tempo de se repetir.