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terça-feira, 21 de maio de 2019

Ladrão da Eternidade (O) - Clive Barker


Considerado um clássico da literatura fantástica, escrito como uma espécie de metáfora para um público juvenil mas que devia ser lido por adultos, este Ladrão da Eternidade é uma obra estranha, que a colocaria mais no campo do surreal do que propriamente no fantástico, porém, é indiscutível e perceptível várias metáforas subjacentes em toda a obra que são, elas mesmas, os verdadeiros pilares desta obra que até apreciei mas que, em vários momentos, achei tão estranha que estive quase para desistir, mas não o fiz.

Depois, penso que descobri uma das fontes de inspiração de J.K Rowling para o “seu” Harry Potter.

Se analisarmos todo o contexto da obra, retirando as várias metáforas que suportam a história, observamos um rapazinho, corajoso e inteligente, que descontente com a sua vida e desejando estar num local diferente, é abordado por um ser com aspecto de homem, que o convida a ir para uma casa onde tudo é fantástico e a diversão impera. Faz-vos lembrar algo?

Depois, à medida que os dias vão passando, e depois de o entusiasmo diminuir, esse rapazito começa-se a aperceber de várias “coisas” estranhas, cuja explicação, simplesmente, não lhe é dada, mais, ele apercebe-se que há um véu de secretismo. A acção vai-se desenrolando, até que surgem vários seres que ele apelida de vampiros, mas que fazem lembrar muito algumas das criaturas maléficas de Harry Potter, sobretudo uma delas, muito, mas mesmo muito semelhante a Voldemort. E mais não conto, mas sempre adianto que há várias outras semelhanças, por exemplo o nome: o nome da criança deste livro é Harvey.

No entanto, este livro é verdadeiramente uma metáfora sobre o tempo. Ou seja, aquele tempo que vai passando sem que nós nos apercebamos ou que o valorizemos. 

Isso é claríssimo. A forma como esse miúdo se deixa ir pelas ilusões, num tempo que não volta mais, em busca da ilusão da felicidade e bem estar, fugindo dos problemas e, sobretudo, o não aproveitar a vida e aqueles que nos querem bem.

Depois, um dia, olha-se para trás, e apercebemo-nos que a eternidade nos foi roubada, e aqui eis outra metáfora, pois o Ser Humano considera-se Eterno, até que um dia constata que isso é pura ilusão. Vivemos de uma forma apressada, sempre em busca do dia seguinte, do fim-de-semana, das férias, para depois, um dia, constatarmos que não vivemos e o tempo passou e estamos idosos.

Ou seja, são essas duas principais metáforas que estão na base do livro. O desperdício do nosso tempo, a ilusão do mesmo, da felicidade, do bem estar. Uma idiotice pegada aquilo que somos. Reparem que diariamente estamos aprisionados em tarefas que, por ser mesmo um cativeiro, nos fazem estar sempre ansiosos pela hora seguinte, pelo dia seguinte, pelo fim-de-semana seguinte, pela semana seguinte, pelo mês seguinte. Para quê? Tudo é ilusão, quando chegamos ao patamar desejado, verificamos que não nos satisfaz e ficamos logo lançados para o outro patamar. Não usufruímos do momento, da NOSSA VIDA, das pessoas que verdadeiramente nos amam.

Um bom livro, um pouco ingénuo, que se lê num par de horas e que tem algumas mensagens introspectivas muito interessante.

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