David Herbet Lawrence, nasceu em Eastwood, Inglaterra, no ano de 1885.
Sabe-se que o seu amor pelo erotismo se revelou bem cedo, vindo então a escrever pequenos textos onde o amor e o sexo eram descritos como uma força da natureza, uma expressão natural do sentimento humano. Para Lawrence, as mulheres eram a força motriz da natureza, as mães e esposas de todos os homens e os seres que carregavam no ventre o vaso da semente masculina. A sua importância para os homens vai para além do que a sociedade de Lawrence defendia, ele achava que a existência da mulher era decisiva para a sobrevivência dos homens, eram o bálsamo que alimentavam a existência dos homens. Em suma, Lawrence amava as mulheres.
É a partir desse relacionamento, que posteriormente vem a dar em casamento, que ele começa a desenvolver para romances algumas das suas ideias. Encontra assim um porto de abrigo onde, e segundo as suas próprias palavras, conhece os verdadeiros prazeres sexuais com a mulher, não olhando a falsos pudores nem vergonhas, entregando-se totalmente ao prazer.
Lawrence julgava o sexo como uma manifestação física natural e normal. Ao pensar dessa forma, ele começou a criar uma série de anticorpos na sociedade inglesa, tão agarrada a valores vitorianos e que via o sexo como algo puramente animal, só sendo digno para o efeito de reprodução.
Em 1926, e já a viver na Toscana com a sua musa inspiradora, Lawrence escreve aquele que é, ainda hoje, considerado a sua obra máxima e, saliento, considerada como um dos melhores cem livros do séc. XX: "O Amante de Lady Chatterlley".
De volta a Inglaterra, o jovem casal vai viver para a mansão de Clifford, começando então uma existência fútil, triste e vazia. Eram ambos jovens, no entanto Clifford estava morto da cintura para baixo, enquanto Connie sentia-se arder por dentro, o desejo subia-lhe pelo corpo em vagas sucessivas e via na sua vida futura algo sem nada.
Vendo a situação da sua esposa, Clifford dá-lhe autorização para que ela arranje um amante e, inclusive, tenha um filho deste, desde que ninguém saiba, que o amante seja alguém de boa posição e que a criança seja considerada dele.
A partir daí... meus amigos, Lawrence oferece-nos descrições verdadeiramente excitantes dos encontros sexuais entre Connie e Oliver. Uma verdadeira loucura erótica onde as palavras são colocadas de uma forma nua e crua, mas e ao mesmo tempo, de uma forma terna, acabando em climaxes esplendorosamente apoteóticos.
Neste romance, e por muito que se façam análises sobre outras intenções do autor, nomeadamente intenções de ferir ou de chocar a sociedade, o que é verdade e isso é claro, penso, contudo, que a grande força e beleza deste romance está essencialmente assente em três factores:
- Na forma como Lawrence glorifica a virtude do sexo e os movimentos dos corpos, as descrições dele são divinais.
- Este é um romance que homenageia a sua mulher: Frieda. Até digo mais, tenho poucas dúvidas que parte das descrições de Lawrence, são dele próprio com a mulher.
Simplesmente porque essas cenas de sexo transmitem toda a força do sexo. Nessas descrições, homem e mulher entregam-se um ao outro de uma forma muito quente, sem qualquer tipo de pudores. A linguagem que usam é vernácula, todo o ambiente criado é excitante. No entanto todo esse erotismo não acaba quando acaba os movimentos corporais, esse erotismo continua no resto da narrativa, no amor que sentem um pelo outro, nos seus pensamentos e nos carinhos. Um erotismo que nos leva a encarar o sexo como fazendo parte do lado efectivo e não do lado animal como era defendido pelos moralistas. E isso não foi compreendido na época, tanto é que o livro foi apreendido, impedida a sua venda durante alguns anos e Lawrence acusado de atentado ao pudor.
Um romance brilhante, perfeito, cheio de mensagens num jogo de sentimentos soberbo, longe portanto de ser um simples romance erótico, muito longe mesmo.
Fiquei interessado no livro.
ResponderEliminarA tua opinião mostra um livro profundo, um livro que dá um retrato da sociedade extremamente bem desenhado, uma mistura de diferentes "cores".
Parece-me interessante, talvez pense duas vezes...
Sem dúvida.
ResponderEliminarEste é um dos tais livros que, quanto a mim, necessitam de um conhecimento prévio da época e até da forma de estar e pensar do autor.
Lawrence quis e conseguiu chocar a sociedade que vivia de aparências na sua pureza imaculada. Conseguiu expressar a essência do ser humano, aproximando-o de meros animais que se entregam à luxúria e ao prazer.
Pessoalmente considero este "Amante de Lady Chatterley" um dos livros que expressa melhor a mentalidade da sociedade britância pós I Grande Guerra, sociedade essa ainda muito agarrada a tradições vitorianas.
Cump.
Aí que delícia, história inglesa, sexo e amor... interessante.
ResponderEliminarLerei e depois te envio um cometário.
Gosto da cabeça de D. H. Lawrence, antes mesmo de ler qualquer livro dele havia me interessado por ele de forma particular. Quando li o livro me solidarizei com a Connie de Lawrence e imaginei como deveria ter sido para ele construir está jovem mulher em uma sociedade tão hipócrita e intolerante como a do século 20, ainda mais entre os ingleses que até hoje sustentam aquele ar conservador como parte de suas tradições mais nobres. O ponto principal, para mim é a biologia gritante em Connie (“sentia-se arder por dentro”), se até hoje a sociedade (mundo de forma geral) acreditam na ideia disseminada á séculos de que sexo é pra homem e que as mulheres não tem a “necessidade” de sexo (estou mentindo?) faço ideia naquela época, afinal fomos todos educados de forma indireta de que mulher não deve ‘gostar’ de sexo, prazer é uma busca quase que absolutamente masculina. Mas aos poucos estas barreiras estão caindo, a passos lentos, mas aos poucos caindo...
ResponderEliminarTodo autor coloca muito de si próprio em sua obra (criação, crenças, valores etc) e Lawrence não foge a regra. Eu gosto da escrita erótica de Lawrence e diferente de alguns escritores que tenho como costume ler (Javier Moro, por exemplo), ele se mostra bem resolvido nesta área(sexual), outra coisa que admiro no autor é a quase sensibilidade, ele aprecia o ser feminino como poucos homens conseguem.
Bem rsrs, deixa eu parar por aqui, mas uma vez parabéns, você não só nos instiga a querer ler algo que resenha como também nos impulsiona a ler outra vez a mesma obra e prestar atenção em detalhes que na 1º leitura passaram despercebidas.
Tudo de bom suas resenhas.