Páginas

domingo, 11 de maio de 2008

Jack, o Estripador - Patricia Cornwell


O dia 6 de Agosto de 1888 era feriado oficial em Londres. A cidade entregava-se a festejos em que as pessoas podiam fazer coisas extraordinárias por pouco dinheiro, se pudessem, é evidente, dispor de algum”.

É assim que começa este ensaio de Patricia Cornewll. Situa-nos logo na época do seu estudo, num dia de festa onde o assassino mais famoso de todos os tempos se preparava para iniciar a sua longa carreira, pelo menos na opinião de Cornwell.

Quem foi esse assassino que matava de uma forma animalesca e ainda se dava ao luxo de enviar cartas à polícia a gozar com o facto de não ser apanhado?

Patricia Cornwell começa por traçar, de acordo com a ciência actual, o retrato psicológico de “Jack, o Estripador”, acabando por apontar explicitamente um nome, fazendo então uma exaustiva análise à sua vida, dando-nos, e isso para mim foi a mais valia do livro, uma visão clara do modo de vida, de agir, pensamento e costumes daquele tempos, sobretudo efectua uma descrição pura e dura da pobreza daquele local de Londres e não se cansa de focar o pouco profissionalismo dos detectives que investigaram os crimes, no entanto, não se pense que os detectives não descobriram o assassino porque eram incompetentes, o caso é que, para além da ciência forense estar pouco ou nada desenvolvida, houve provas que não foram tidas como tal (por exemplo as roupas das vítimas eram mandadas fora ou dadas a outros pobres; os corpos eram lavados antes de serem vistos, etc), que fizeram com que “Jack” nunca fosse apanhado.

Mas Patricia Cornwell desde o início afirma, sem ter dúvidas, que “Jack, o Estripador” foi pintor Walter Richard Sickert, nascido em 1860 e falecido em 1942.

E desde o início do livro ela começa a expor a sua teoria, teoria essa sobretudo assente em variadíssimos factos que muitos podem considerar coincidências.

Pegando nas provas que resistiram até aos nossos dias, e Cornwell foca por variadas vezes a enormidade de provas que desapareceram, ela começa a construir uma teia envolvendo o personagem Sickert, analisando a sua vida, onde ele estava nos dias dos crimes, os seus hábitos, as cartas que ele escrevia, os seus relacionamentos, enfim, ela “descasca” completamente a vida de Walter Sickert, fazendo-nos realmente crer que foi ele o psicopata que aterrorizou o East End em finais da década de 80 do séc. XIX.

Passe isso, o que não é pouco, que de facto achei muito interessante mas que, quanto a mim nada consegue provar pois ela apenas joga com suposições intercaladas com opiniões pessoais e situações imaginadas. Este livro deu-me uma outra perspectiva desse assassino. Primeiro desconhecia que tivesse havido mais, muito mais crimes que os que oficialmente consta. Ou seja, até à data sempre li que a primeira vítima havia sido Mary Anne Nichols e a última, num total de seis, Mary Kelly, dois meses depois.

No entanto e tal como eu sempre havia desconfiado, Cornwell aborda outros crimes que, devido às cartas e ao modus-operandus, tudo aponta para que tivessem sido cometidos por Jack.

Será?

Certamente nunca o saberemos, mas o facto é que a autora apresenta dados concretos e muito curiosos que nos leva a crer que um psicopata nunca pára só com meia dúzia de crimes no curriculum, ainda mais um que tinha um imenso sangue frio e mostrava ser mais esperto que a polícia.

Enfim, o livro vale pelas descrições dos assassinatos vs. modo actual de investigar, sendo curioso que mesmo com poucos conhecimentos das circunstância reais, a autora tenta recriar os crimes.

Vale também pela descrição do infeliz modo de vida daquela gente e pelo modo largo como Cornwell conduz a investigação.

Uma investigação rigorosa e honesta sobre Walter Sickert, que nos leva ao assassino mais famoso de todos os tempos. Porém e por muito que a gente queira acreditar no que Cornwell escreve, ela nunca apresenta provas palpáveis, e de facto era difícil dada a distância dos crimes, mas fica a coragem da escritora e, no final a dúvida mantém-se: Quem foi “Jack, o Estripador”?

Por último quero referir o modo pormenorizado e ao mesmo tempo grotesco como Patricia Cornwell descreve o estado das vítimas… houve altura em que me senti agoniado, e eu conheço as fotos que ela descreve.

6 comentários:

  1. Sempre tive uma enorme curiosidade relativamente a este caso ... muitas suspeitas foram levantadas, mas por vezes penso até que ponto é que não se saberá mesmo a verdade?
    Confesso que não tenho o hábito de ler policiais ... os únicos que li até agora foram "O Último Acto em Lisboa"; "O Cego de Sevilha" e "As Mãos Desaparecidas", todos eles do Robert Wilson e até que gostei !
    Mas ao ler esta tua opinião, fiquei novamente com vontade de "investigar" mais os meandros psicológicos deste serial-killer!

    ResponderEliminar
  2. Este livro, embora o tenha classificado como Policial, não o é, sendo sim um estudo puro e duro que Cornweel efectua sobre os indícios, as poucas provas e as notícias acerca deste caso.

    O curioso é que ela utiliza toda a tecnologia actual para proceder a um estudo minucioso do caso chegando a conslusões inconclusivas, é certo, mas que fazem muito sentido e que, mais importante, trazem ao de cimo muitos pormenores que o grande público desconhecia.

    ResponderEliminar
  3. Também não leio muitos policias, e conheço Patricia Cornwell como um escritora de policiais. Pelo que descreveste, percebi logo que não era o tipo de policial que se lê, mas sim o estudo de uma personagem que assombra os casos policiais. O facto de ser um pouco subjectivo não me atrai, pois livros como estes devem sempre acentar em factos que nos façam acreditar. Não posso dizer que não o leia, pois o Estripador é uma personagem deveras intrigante...

    ResponderEliminar
  4. Também nunca fui dado a policiais deste tipo, não existe conexão nenhuma! Prefiro os livros de Conan Doyle e Agatha Christie, gosto imenso deles...

    Na minha opinião os melhores em termos de policiais (não que eu conheça muitos)!

    ResponderEliminar
  5. Acredito que o livro vale pela exaustica pesquisa de Patric Cornwell, o facto de acreditar ou não que Walter era de facto, o Estripador é irrelevante. O livro vale por lançar uma nova perspectiva sobre o assunto. Abraço. Caso queira poderá ler a resenha do mesmo livro em www.helloclarice-fabiana.blogspot.com

    ResponderEliminar
  6. Acredito que o livro vale pela exaustica pesquisa de Patric Cornwell, o facto de acreditar ou não que Walter era de facto, o Estripador é irrelevante. O livro vale por lançar uma nova perspectiva sobre o assunto. Abraço. Caso queira poderá ler a resenha do mesmo livro em www.helloclarice-fabiana.blogspot.com

    ResponderEliminar