Embora o ponto de partida desta obra seja a de um grupo de crianças perdidas numa ilha deserta, o que nos poderá levar a pensar tratar-se de uma obra vincadamente aventureira, o Deus das Moscas trata-se na verdade de uma enorme alegoria ao Ser Humano e às suas características que o tornaram no ser dominante do planeta e, em simultâneo, a sua verdadeira essência ou, se quisermos, a sua essência primordial.
Como premissa, temos um avião que se despenha numa ilha deserta situada algures. A bordo, várias crianças (e alguns adultos que morrem no desastre) que, dessa forma e sem adultos, se vêm sozinhas e completamente livres. Está dado o mote para o que Golding nos reserva e, embora possa aparentar tratar-se de um livro sobre crianças que se metem em aventuras para pesquisar e descobrir essa ilha, o certo é que Golding traça-nos a complexa cadeia da sociedade humana com todas as suas vertentes, incidindo no que mais negro o ser humano possui.
É também importante ressalvar que William Golding procurou com esta obra criar uma metáfora às questões que se colocaram após a Segunda Guerra Mundial. Golding participou como soldado nesse conflito e célebre ficou a sua seguinte afirmação: “Qualquer pessoa que tenha passado por esses acontecimentos terríveis sem entender que o homem produz o mal como a abelha produz o mel estava cega ou louca”. Ou seja, por essa frase, facilmente se compreende ou se encontra analogias a este Deus das Moscas. Por isso, é importante olhar para esta obra como um grito do próprio Golding à sua percepção das propriedades imutáveis do Homo Sapiens.
É uma história que nos marca e que nos vai hipnotizando á medida que sulcamos pelas suas páginas. A ambição desmedida pelo poder é o polo que vai despoletar os conflitos que se iniciam à medida que esses miúdos vão se dando a conhecer. No entanto, bem ou mal, há uma construção de sociedade alicerçada em moldes muito frágeis mas que se vai mantendo numa linha muito fina que se rompe quando os conflitos se iniciam e os egos são colocados à prova. E, dessa prova de fogo, rompe, com uma forma monstruosa, as características maléficas que nos vão surpreender e assustar, pois facilmente constatamos que vivemos numa sociedade… igual.
Uma obra genial, assustadora e perturbante.
Olá,
ResponderEliminarLi esse livro há muitos anos como leitura de uma disciplina na faculdade. E confesso que detestei. A história pelo menos. Fiquei estarrecida com aquela história, enojada mesmo.
Hoje, passado uns anos, provavelmente um pouco mais cínica e descrente, leria o livro de outra forma. Mas tenho a certeza que o sentimento de tristeza com que terminei a leitura seria o mesmo.
Por isso concordo: genial (a um livro que me conseguiu transmitir sentimentos tão fortes só posso chamar genial) e assustador.
Boas leituras
Olá Iceman!
ResponderEliminarNunca li este livro mas penso que já vi um filme com este enredo...
Houve alguém que disse que num choque de culturas ou civilizações o que sobrevive é o pior de ambas.
A organização da sociedade - qualquer uma - é assente no medo. A lei do mais forte ou do mais hábil tem no medo que inspira aos demais um forte factor para o sucesso.
Embora chocante não me parece nada de espantar a violência entre estas crianças. Trata-se apenas do cumprir do ritual estabelecido para a organização de uma sociedade de seres humanos...
Um abraço!
Olá Iceman
ResponderEliminarconcordo com a interpretação que fazes da obra; a sociedade é capaz de alterar por completo a natureza humana; aquelas crianças não eram más, mas a convivência conduz à competição e a todos os sentimentos negativos...
Perturbador, de facto... é um livro que me marcou.
Deveras "uma obra genial, assustadora e perturbante"!
ResponderEliminarUm livro que mexe demasiado com os sentimentos do leitor. Deixa-o inquieto.
Arrepia!
Olá Patrícia.
ResponderEliminarÉ, quando temos de ler obrigados, geralmente não conseguimos apreciar a obra. É assim, por exemplo, com os Maias, livro genial e que tantos dizem detestar.
Olá André!
ResponderEliminarÉ bem possivel porque já houve adaptação para o cinema. Não vi o filme e, curioso, nunca me senti muito atraído. Talvez por medo de o mesmo disvirtuar a intenção do livro.
Sim, de facto não espanta isso suceder com crianças.
Abraço!
Olá Manuel!
ResponderEliminarA sociedade humana é terrivel. Esta obra foca um dos "nossos" aspectos, no entanto a literatura está cheia de outras análises.
É um livro espantoso!
tonsdeazul!
ResponderEliminarO livro é inquietante e deixa-nos assustados porque sabemos, até de uma forma consciente, que nós somos assim, e isso, debaixa da mascara diária, assusta.
Olá Iceman,
ResponderEliminarTerminei este livro há pouco tempo e uma das frases que mais me marcou foi no fim, quando o oficial que os encontra diz mais ou menos assim: "Eu esperava que vocÊs, rapazes britâncios fossem capazes de fazer mais do que isso..." acho que esta frase reflecte o que referes/ o que Golding refere ao dizer " “Qualquer pessoa que tenha passado por esses acontecimentos terríveis sem entender que o homem produz o mal como a abelha produz o mel estava cega ou louca”. Está visto que o oficial não passou e daí o seu pensamento. Será que estou certa? :)
Olá Paula!
ResponderEliminarMuito bem observado, conseguiste captar, de facto, a essência do pensamento de Golding. Honestamente não me recordava dessa frase, mas tinha na ideia que o oficial havia efectuado uma observação que continha precisamente o pensamento de Golding. Independentemente da nacionalidade ou educação, o Ser Humano produz o mal de uma forma gratuita.
Aguardo a tua opinião! :D
Olá Iceman,
ResponderEliminarApesar de ter lido "obrigada" não foi por isso que não gostei. Não deixei de apreciar a escrita e a forma genial como a história foi contada.
Achei-o duro, sem esperança, lúgubre. Como disse, hoje, uns anos passados, provavelmente (e infelizmente) não me revoltaria tanto.
E por acaso adorei os Maias, os Lusíadas e outros livros que fui obrigada a ler.
É pena que não ter a mesma opinião que a passada no post leve a um "não soubeste apreciar a obra".
Boas leituras