Conforme referi na opinião do
primeiro volume, aqui, A Brisa do Oriente” situa-nos em pleno séc. XIII, numa
Europa Medieval extremamente violenta e onde os ventos da intolerância
religiosa sopravam em todo o seu esplendor e a Inquisição varria quem se
atravesse a questionar qualquer crença ou doutrina do catolicismo.
Este Volume 2 é simplesmente a continuação do volume anterior
(no original esta obra é composta por um só volume e em formato de bolso), sendo
que continuamos a acompanhar Umberto de Quéribus, agora já homem que se compromete
com a sua consciência e parte em busca do sentido para a sua vida, à medida que
nos vais descrevendo o seu quotidiano e uma época que tem tanto de fascinante
como de aterradora.
Nesta segunda parte a autora foca-se mais na questão
herética que abalou a Europa e que levou a uma cega e intolerante perseguição
aos Cátaros e a todos aqueles que ousavam questionar algumas atitudes menos
correctas por parte da igreja católica. E é brutal percebermos quantas
injustiças e quão duro e horrendo seria a vida naquela altura, sempre sob o
jugo da igreja que tudo podia, que tudo ordenava em prol de uma ideologia, de
um fanatismo absurdo que colocou a Europa, durante centenas de anos, nas trevas.
E a autora é exímia na reconstrução história da época.
Como era de esperar, assistimos a perseguições de
pessoas que nada fizeram, excepto serem vistas como inimigas pelos poderosos
que, usando do seu poder e influência, exerciam contra elas toda a violência de
forma a eliminá-los. E isso é assustador porque sabemos que isso sucedeu mesmo.
Devia ser horrível saber que se não nos vergássemos à vontade dos poderosos,
que em nome de deus, abusavam da sua posição de forma a humilhar aqueles que
lhes prestavam vassalagem, éramos acusados de heresia e, depois de um
julgamento de fantochada, o destino seria a morte pelo fogo numa agonia que
tinha espectadores ávidos e divertidos com a visão. Eram esses homens que se
proclamavam os juízes de deus, os seus representantes, aqueles que tornaram a
igreja católica na poderosa instituição que dominou a Europa durante centenas e
centenas de anos.
E é cativante a forma como a
autora interliga esses terríveis acontecimentos com a vida de Umberto. Intensa a
sua escrita, levando-nos a sentir a época. Os personagens são trabalhados de
forma a que nos relacionemos de uma forma, diria, fraternal, ou seja, a maioria
dos personagens são-nos apresentados e com eles construímos uma espécie de
amizade, mesmo aqueles que são os vilões, não deixamos de nutrir por eles uma
amizade que nos permite quase participar na acção e vê-los como seres reais.
Em todo o caso esta obra não
é perfeita.
Pese embora a autora consiga
construir todo um argumento onde a veracidade Histórica está bem misturada com
a ficção, a meu ver, a autora força várias situações, tornando o desfecho algo previsível
quando tinha muito espaço, que ela própria construiu, para avançar por outros
caminhos. Embora ela esclareça os casos que havia deixado pendentes, há situações
também um pouco atabalhoadas que chegam a ser incoerentes e que me levaram a
considerar menos esta obra como tinha considerado aquando da leitura do volume
1º.
No entanto essas considerações
não chegam para não o avaliar como um excelente romance histórico, cheio de
situações verdadeiramente empolgantes e onde a autora nos situa, de uma forma
brilhante, numa época negra mas que admiro, envolvendo-nos em todo o trama de
uma forma muito intensa.
Caro Iceman, fiquei um pouco confusa, porque dizes que a obra nos situa em pleno século XI e depois falas de grande intolerância religiosa, da Inquisição e da perseguição aos Cátaros. Depois, cliquei no link para o 1º volume e constatei que se trata do século XIII, pelo que depreendo que se trata de um erro involuntário. Talvez o pudesses corrigir. Na verdade, no século XI, havia mais tolerância religiosa do que 200 anos mais tarde e ainda não existia a Inquisição, nem os Cátaros, ou outros movimentos. Os últimos séculos da Idade Média são muito mais "escuros" e intolerantes do que os séculos X, XI e, até, XII. Claro que a Peste Negra, no século XIV, deu o seu contributo para esse estado de espírito, pois pensava-se que se tratava de um castigo de Deus. Mas os radicalismos já haviam começado no XIII.
ResponderEliminarOlá Cristina!
ResponderEliminarObrigado pelo reparo, pois tens toda a razão, trata-se de um erro e o livro tem a sua acção no séc. XIII e aborda a temática do catarismo, a sua perseguição e a inquisição.
Já foi corrigido! :)
Obrigado!