Páginas

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Miseráveis (Os) – Victor Hugo



Les Miserábles é a principal obra de Victor Hugo e um dos Grandes Clássicos da literatura Universal. Publicado simultaneamente em 1862 em vários países (dividido em cinco volumes, todos eles temáticos), é uma obra que, desde o início estava destinada a ser um enorme êxito devido, não só ao seu conteúdo histórico e de análise, como também porque obedeceu a uma estratégica de marketing não muito usual naqueles tempos.

O argumento em si não difere muito de um livro de aventuras tão em voga na altura. A história começa em 1814. Um homem é condenado às galés por roubar um pão que serviria para dar de comer aos sobrinhos e, devido a várias tentativas de fuga, vê a sua pena sucessivamente aumentado, ficando preso por longos 19 anos. Sai com o estigma de ladrão e, até ver a “imaculada redenção” que o vai salvar dos maus caminhos, ainda faz algumas patifarias que irão ter alguma repercussão anos mais tarde.

Pelo meio surge a típica jovem inocente abandonada pelo namorado rico e estouvado que a deixa com uma criança nos braços e que, devido à miséria em que cai, se vê obrigada a deixar a filha ao cuidado de uns estranhos que a escravizam até ser salva por esse condenado, à época, transformado em homem de bem.

Depois há as fugas mirabolantes desses dois personagens, o malvado polícia que, obcessivamente, os persegue e um conjunto de personagens que oscilam entre o bem e o mal, tudo num clima, repito, aventuroso, semelhante a outros clássicos da época.

No entanto o que faz de “Os Miseráveis” uma obra imortal e, de facto, um dos melhores livros alguma vez escritos e que alguma vez li?

Primeiro porque Victor Hugo era exímio na arte de contar uma história. Ele sabia criar suspense, situações de cortar a respiração que nos levam a querer virar a página rapidamente numa leitura compulsiva e prazerosa. Depois porque a obra encerra em si uma séria de análises históricas e humanas que abrangem uma época importante e vital, não só para a França, como igualmente para o resto do mundo. Por outro lado, o autor soube analisar os vários comportamentos humanos (o conflito da crise de consciência do principal personagem é brilhante), pintando uma tela onde expressa todas as características socio-culturais da época e onde exibe todos os podres e virtudes da sua sociedade, mostrando também uma Paris há muito desaparecida, algo inclusive que ele, aqui e ali, vai referenciando.

A obra é muito extensa e Victor Hugo não poupa nos detalhes narrativos, por vezes até em excesso. Facilmente captamos as simpatias políticas de Hugo e, através das inúmeras reflexões que pululam no livro, vamos percebendo a História por detrás de importantes acontecimentos como, por exemplo, a batalha de Waterloo ou as barricadas de Paris, amplamente descritas e explicadas. Curiosa também a forma como demonstra que o acaso, ou a sorte e o azar, tiveram papel fundamental no percurso desses acontecimentos e que, se não fosse Deus, a quem ele atribui o acaso, os ingleses não tinham vencido a batalha de Waterloo e, hoje em dia, a Europa seria diferente.

Admito que não é muito encorajador proceder à leitura das suas mais de 1000 páginas. Em todo o caso, podem estar certos que irão ter acesso a uma época muito interessante que muito explica o mundo que hoje temos, assim como, vai-se emocionar com uma imensa galeria de personagens com características e perfis muito dispares entre si, análises profundas ao comportamento humano, ao bem e ao mal e a uma sociedade que, 150 anos depois de ser descrita, demonstra ser tão contemporânea como a actual.

De menos positivo, na minha opinião, é o exagero do estilo descritivo que chega a ser exasperante. Recordo-me da descrição de um convento e do modo de vida das freiras ao longo de muitas dezenas de páginas que peca pelo excesso e que me entediaram. Também considero ser um livro algo erudito que necessita de alguma preparação, por parte do leitor, do contexto histórico. Uma obra que merece ser lido quando o leitor se sinta preparado e motivado para tal e nunca por obrigação, pois assim corre o risco de não o apreciar ou de o ver e sentir apenas como um simples romance de cariz policial e de aventuras.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Resultados do Passatempo “A Brisa do Oriente”



O Blog NLivros e a Saída de Emergência agradecessem a todos os participantes do passatempo “A Brisa do Oriente”, que decorreu do dia 09 de Julho até as 23:59 do dia 23 de Julho.

Intencionalmente foram efectuadas questões com alguma dificuldade que necessitavam de uma leitura atenta do excerto, até porque uma das questões continha uma rasteira.

Em todo o quase face à qualidade do prémio, penso que a complexidade das questões se adequava.


As Vencedoras são:

Inês Rodrigues – Lisboa
Mónica Pinho Silva – Leça da Palmeira

Parabéns às vencedoras e continuação de boas leituras.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Cada Dia é um Milagre – Yasmina Khadra




Yasmina Khadra é, para mim, a grande revelação de 2012.

Embora já tivesse ouvido falar de alguns dos seus romances, sobretudo as “Andorinhas de Cabul”, confesso que pouco interesse me havia despertado os livros deste autor argelino, até que me deparei com a obra “O que o Dia Deve à Noite” e fiquei rendido à sua escrita sublime e, principalmente, à sua capacidade de enlevo que apenas os Grandes Escritores, aqueles que nasceram com o Dom da escrita, possuem.

Cada Dia é Um Milagre (no original “L'équation africaine”), é o seu mais recente romance e tem a mão do génio, o enlevo que nos embala por uma narrativa belíssima, mas igualmente crua e nua que mostra a essência do Continente africano, a violência do quotidiano que o mestre Yasmina vai pincelando numa tela que os nossos olhos vão apreciando com horror, hipnotizados pela magia que cada palavra encerra.

E o principal personagem é mesmo África.

A África de Yasmina Khadra que nos entra alma dentro ávida de ser ouvida, é como um grito lancinante de sonhos perdidos, projectos inacabados, de contrastes infames, um futuro adiado cujos responsáveis são aqueles que juraram governar em nome do povo mas que fecham os olhos e até contribuem no selvático despojo diário a que a gente simples, rude do povo está sujeita sem poder reagir, sem qualquer tipo de defesa do que aquelas ajudas humanitárias que diariamente assistimos pela televisão no conforto do nosso lar. Uma África onde a vida humana vale tanto como um grão de areia de qualquer deserto inóspito.

E é isso que Yasmina nos mostra de uma forma quase surrealista.

Tudo se inicia com um suicídio que eu considero a própria contra-metáfora do que a partir daí se vai desenrolar. Mais à frente, o autor cogita sobre o assunto e refere, como é possível, alguém que tudo tem, um bom marido, dinheiro na conta bancária, saúde, amigos e família, suicidar-se por uma questão supérflua?

Kurt Krausmann vê-se num turbilhão de emoções e desgostos. Sem saber bem o que fazer da sua vida, resolve aceitar o convite do seu amigo de longa data, o milionário e benfeitor Hans, numa viagem humanitária às Comores.

No entanto e já em águas internacionais, o veleiro é atacado por piratas e inicia-se aí um trajecto feito de humilhações e violência, mas igualmente um trajecto de descoberta de uma África completamente desconhecida, mas também um processo de autodescoberta que irá mudar para sempre a vida de Kurt.

Embora seja África o centro do livro, todo o livro acaba por ser também uma intensa reflexão sobre a natureza humana e a forma como o local e as circunstâncias moldam essa natureza, a forma impressionante como o ser humano se adapta a qualquer condição. Ou seja, sobressai que cada ser humano só é diferente entre si pelo seu passado que lhe moldou as características, pelo meio onde vive e o que observa. Por outro lado, o livro é também um hino à vida e à importância que pequenas coisas, que não damos valor, podem ter na nossa vida e o quão importante se tornam quando não as temos. Isso sente-se de uma forma muito violenta aquando do suicídio que marca o início do livro e que se vai sentindo ao longo de toda a obra.

São estes os dois principais pilares da obra que o autor nunca deixa cair.

No entanto, em contraposto, o autor também desenvolve uma mensagem de esperança, não só para África, como também para o género humano que, no fundo, sabe ser generoso, sabe perdoar e fazer o bem ao seu semelhante. Há um personagem que é a síntese desse paradigma e, mesmo sendo apresentado aos nossos olhos como o monstro que exemplifica a violência em África, acaba por se tornar, ele próprio, o exemplo da moldagem humana segundo as circunstâncias.

Um livro fascinante que me comoveu pelos seus contrastes e pela forma como me fez meditar no bem e no mal, no supérfluo e no essencial, na alegria e riqueza de estar vivo e de saúde num local aprazível que me fornece estabilidade e condições para viver com dignidade.

Mais uma obra belíssima e envolvente de um escritor que muito aprecio.


Vive cada manhã como se fosse a primeira
E deixa ao passado os remorsos e as más acções,
Vive cada noite como se fosse a última
Porque ninguém sabe de que será feito o amanhã

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Citações (III)

Vive cada manhã como se fosse a primeira
E deixa ao passado os remorsos e as más acções,
Vive cada noite como se fosse a última
Porque ninguém sabe de que será feito o amanha.

  In "Cada Dia é Um Milagre", Yasmina Khadra, Pág. 299

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Passatempo “Histórias Bizarras de um Mundo Absurdo”


O blog NLivros, em colaboração com a editora A Esfera dos Livros, tem para oferecer 1 (um) exemplar do livro " Histórias Bizarras de um Mundo Absurdo” de João Ferreira.

Título: Histórias bizarras de um mundo absurdo
Colecção: História Divulgativa
Nr de páginas: 304 + 8 Extratextos
PVP /c Iva: 20 €
ISBN: 978-989-626-370-6

Sinopse
A história de Portugal e do mundo está cheia de episódios fantásticos, brutais, manhosos, picantes ou mesmo bizarros, capazes de atrair as atenções e de ajudar a perceber como nos tornámos – nós e os nossos sete mil milhões de vizinhos – naquilo que somos. Depois do sucesso de Histórias Rocambolescas da História de Portugal, em 8.ª edição, o jornalista João Ferreira regressa à escrita para nos contar estas histórias surpreendentes. Reis, tiranos, traidores, bandidos e espiões, gente de carne e osso que foi protagonista de alguns episódios decisivos no curso da história de Portugal e da humanidade. Ao longo destas páginas, ficamos a conhecer como foi traçado o caminho marítimo para a Índia graças à intervenção de espiões ao serviço de D. João II, como foram forjadas falsificações odiosas por si mesmas e pelas atrocidades a que deram origem, como os venenosos Protocolos dos Sábios de Sião, e outras mais inofensivas mas espectaculares, como o caso dos falsos diários de Hitler; desmontam-se mitos como a Papisa Joana ou os que foram construídos à volta de D. Afonso Henriques; contam-se mortes misteriosas, como a de Sá Carneiro; fala-se de enigmas que, ao longo dos séculos, têm fascinado a humanidade, como as pirâmides do Egipto.

Um livro surpreendente e divertido.


REGRAS DE PARTICIPAÇÃO:

1) O passatempo decorre a partir de hoje até às 23h59 do dia 08 de Agosto,

2) Só é aceite uma participação por pessoa. Participações duplicadas serão desqualificadas sem aviso.

3) O vencedor será sorteado aleatoriamente, sendo o anúncio do vencedor efectuado por e-mail e publicado no blog.

4) Por motivos logísticos só serão aceites participações de residentes em Portugal.

5) Só serão aceites participações de Seguidores do blog NLivros.


PASSATEMPO ENCERRADO

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Nero – Vincent Cronin


Nero Claudius Cæsar Augustus Germanicus nasceu em Dezembro de 37 d.C. e foi imperador do Império Romano durante 14 anos, tendo sucedido ao seu tio Cláudio aquando da sua morte por envenenamento.

Figura controversa, até pela forma como subiu ao poder, está associada a inúmeras acções de uma barbaridade extrema a fim de satisfazer o seu enorme ego. A ele é atribuída a ordem de assassinato da sua mãe, a famosa Agripina, ela própria implacável e a principal responsável da subida de Nero ao poder. A sua primeira esposa, Cláudia Octávia, filha do imperador Cláudio, também ela assassinada, assim como o irmão desta, Britânico, também estão associados a Nero, assim como a sua segunda esposa, Popeia Sabina, esta morta a pontapé pelo próprio Nero. O devastador incêndio que deflagrou em Roma durante três dias ou a brutal perseguição aos cristãos que serviam de entretenimento nas arenas e tantos outros eventos terríveis que deixaram para a História uma imagem de crueldade e tirania.

Em todo o caso, a questão que poderemos colocar é: foi realmente assim? Deve-se a Nero todas essas acusações, esteve de facto Nero por detrás desses horríveis actos?

Este livro, de uma forma muito cuidada e coerente, responde a todas essas questões.

Confesso que a História de Roma sempre me aborreceu. Nunca fui um grande entusiasta desse magnífico império. Já li muito sobre o império romano e, embora admita o meu fascínio pelo seu legado, as suas intrincadas teias e influências políticas sempre me aborreceram, sobretudo os obscuros jogos políticos e de interesses que o Senado mantinha, das conspirações e demais excessos.

Esta obra não escapa a essa teia.

Agripina toma desde o início a preponderância que a História lhe atribui. É ela a principal protagonista a desbastar o caminho da subida ao poder do seu jovem filho Nero.

A história é-nos narrada por um irmão de Lúcio Séneca, célebre pensador e filósofo romano que foi o tutor de Nero.

É através das suas memórias que o trama de Nero se vai desenrolando e o autor, de facto, faz um trabalho notável de pesquisa e posterior escrita romanceada da época e dos acontecimentos.

Não esquecendo que se trata de ficção, Cronin, não descura o mínimo pormenor.

Desde a infância de Nero até à sua morte, toda a vida de Nero é aqui escalpelizada, não se omitindo nenhum facto. No entanto o autor não se limita a narrar o que a História refere. Ele, à luz da mentalidade e do contexto da época, emprega uma congruência que me surpreendeu e que dá ao texto verosimilhança que nos transporta e faz crer que Nero agiu daquela forma e não, se calhar, como a História apregoa.

Exemplo disso é os acontecimentos que dão origem ao incêndio de Roma. Durante muito tempo a História defendeu ser o mesmo da responsabilidade de Nero, depois que Nero tocava harpa enquanto observava a devastação da cidade. No entanto, provavelmente, não foi bem assim. E porquê? Simplesmente porque Nero agiu antes e posteriormente de determinada forma, o que impede que ele tivesse procedido de forma insana que a História refere.

Em suma, um livro algo denso devido à imensa informação nele contida, que nos mostra um Nero algo diferente daquele que a História apregoa. De sublinhar a imensa importância e influência de alguns personagens na vida de Nero e o quanto ele foi responsável pelo futuro desse grande império que, nessa altura, já demonstrava muitos sinais de decadência.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Citações (II)

"Quando encontrei o amor, disse para comigo, é isso, passo da existência à vida, e prometi a mim mesmo zelar para que a alegria nunca me abandonasse. A minha presença na terra descobria um sentido e uma vocação, e eu uma singularidade. "


In "Cada Dia é Um Milagre", Yasmina Khadra, pág. 9

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Passatempo "A Brisa do Oriente"




O blog NLivros, em colaboração com a editora Saída de Emergência, tem para oferecer 2 exemplares da excepcional obra (2 volumes) "A Brisa do Oriente” de Paloma Sanchez-Garnica.

Título: A Brisa do Oriente (Vol 1 e Vol. 2)
Autor: Paloma Sanchez-Garnica
ISBN: 9789896374112 + 9789896374235
Págs.: 384 (Vol. 1) + 384 (Vol. 2)
Preço: 17,08€ + 17,08€
Género: Romance Histórico


Podem ler as opiniões do Volume I e Volume II.


Sinopse

Em 1204, acompanhando o seu abade, Umberto de Quéribus, um jovem monge de Cister, inicia uma viagem que o levará a Constantinopla. A partir desse momento, arrastado para perigos e situações extremas, em que perde a candura infantil, a sua vida muda completamente. Durante a viagem de regresso ao mosteiro, conhece a insensatez da guerra, a violência desmedida e a imoralidade da avareza. Toma igualmente consciência das verdadeiras consequências da obediência cega e da enorme incerteza na destrinça do que está bem e do que está mal, imerso numa luta constante entre o que lhe ensinaram e o que de facto sente. É atingido pela flecha do amor indomável e adolescente e descobre o desassossego provocado pelo sentimento de culpa, o ferrão do ressentimento e, sobretudo, o sentido mais profundo da amizade, encarnada no cavaleiro Esteban de Clary e no monge Roger, com quem aprenderá o significado da cultura, a importância do que se escreve e a influência e o poder do copista ao manejar, alterar ou mudar completamente o texto escrito. A sua aproximação inconsciente à heresia acaba por colocá-lo em perigo, ao ponto de se ver obrigado a abandonar o mosteiro depois de ver a catástrofe semeada à sua volta.


REGRAS DE PARTICIPAÇÃO:

1) O passatempo decorre a partir de hoje até às 23h59 do dia 23 de Julho.

2) Só é aceite uma participação por pessoa. Participações duplicadas serão desqualificadas sem aviso.

3) Os vencedores serão sorteado aleatoriamente pela editora, sendo o anúncio dos vencedores efectuado por e-mail e publicado no blog.

4) Por motivos logísticos só serão aceites participações de residentes em Portugal.

MUITO IMPORTANTE: As Respostas para as questões APENAS podem ser encontradas neste excerto


PASSATEMPO ENCERRADO

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Estejam Atentos!



Nos próximos dias, em parceira com a Saída de Emergência, o Blog NLivros irá abrir um passatempo que contempla a oferta dos dois volumes da excepcional obra “A Brisa do Oriente” de Paloma Sanchez-Garnica.

Já li os dois volumes e considero ser um dos melhores romances históricos que alguma vez li.

Podem ler as opiniões do Volume I e Volume II.

Aconselho também a leitura do Excerto da Obra, pois as questões vão sair daqui.

Fiquem Atentos!