Hemingway é considerado, e justamente, como
um dos monstros sagrados da literatura universal. Pese embora eu não seja um grande admirador da sua obra, admito que tem um dom maravilhoso, pois através da escrita consegue fazer passar a sua visão das coisas, ou seja, tal
como o nosso Eça, consegue descrever na perfeição objectos, cores,
sabores e cheiros. No entanto, "O jardim do Éden" fica muito aquém
das suas melhores obras.
Baseado em factos reais acontecidos com o próprio
Hemingway na Riviera francesa em 1926, quando, com a sua mulher Hadley, aí
passou o Verão na companhia da amiga comum Pauline, conta-nos uma história esquisita
e surreal passada em França, envolvendo um casal e uma outra mulher que entra
de uma forma repentina nas suas vidas.
Romance póstumo publicado em 1986 cerca
de 25 anos após o suicídio de Hemingway, desde logo esta obra ficou
imersa em controvérsia dada a forma como foi terminada e posteriormente editada
e publicada. Sabe-se que Hemingway trabalhou cerca de 15 anos nesta obra, tendo
escrito 200.000 palavras. Colocou-o de lado para escrever outros romances, no entanto, o certo é que nunca o terminou e, aquando da sua morte,
esta foi uma das várias obras que deixou por terminar. Já nos anos 80, Tom Jenks (penso que o seu editor), atirou-se ao trabalho de
revisão e, quando terminou, o livro continha as 70.000 palavras hoje compõem o romance. Podemos então questionar, será mesmo a obra que Hemingway idealizou,
pese embora Jenks tenha vindo a público jurar que se limitou a cortar e a rearranjar?
Em todo o caso, seja
esta obra inteiramente Hemingway ou não, o certo é que não gostei. O sentido
descritivo continua vivo e intacto e até entendo que o autor quis construir o
romance baseado na sua vivência pessoal nos turbulentos anos 20, no entanto, as descrições não têm grande
interesse, as situações são enfadonhas e os diálogos são demasiado surreais
para o meu gosto, parecendo tudo fazer parte de um sonho. Das várias obras que
li de Hemingway, esta foi a que menos gostei e a que menos saudade me deixou.
A obra menos conseguida deste génio. Apesar tudo vale a pena para todos amantes de Hemingway.
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