Cristina Torrão, do blog "Andanças Medievais", que muito aprecio e escritora dos brilhantes romances históricos "Afonso Henriques, o Homem" e "D. Dinis - A quem chamaram o Lavrador", para além do seu primeiro romance histórico intitulado "A Cruz de Esmeraldas", aceitou, para minha alegria, o meu convite para nomear o pior livro que leu até à data, eis a sua apreciação:
O Pior Livro |
Por mais que desse
voltas à cabeça, não me consegui lembrar de um livro que possa apontar como o
pior que li, por isso, e sendo apreciadora e escritora de romances históricos,
resolvi falar do que não gosto de encontrar num romance histórico, dando, como
exemplos, dois livros que me ficaram na memória pelas piores razões.
Em primeiro lugar,
não aprecio aspetos fantásticos num romance histórico. Excluo deste pressuposto
obras que assumem pertencer ao domínio do fantástico e outras em que é impossível
separar a História da magia, como é o caso da saga do Rei Artur. O que não me
agrada é quando um livro se intitula de romance histórico e comece a enveredar
pelos caminhos do fantástico, criando situações inverosímeis. Li, há vários
anos, Child
of the Phoenix,
de Barbara Erskine,
que se baseia na vida de duas damas da Idade Média, que a autora considera que
podia ter sido só uma. É certo que as vidas das mulheres medievais não se
encontram bem documentadas, sendo quase sempre impossível averiguar, por
exemplo, as suas datas de nascimento e de morte. Mas considerar que determinada
senhora, em vez de ter morrido com quarenta e tal anos, enveredasse numa
segunda vida, em que fez novo casamento, deu à luz um filho já depois de ter
passado os cinquenta, traiu o marido com cerca de setenta e morreu com mais de
noventa, tudo isto com a ajuda de poderes misteriosos, parece-me bastante
despropositado na época medieval e num livro que se assume como romance
histórico. De Barbara Erskine, encontrei, na WOOK, um único título português: A
Princesa Guerreira.
Já agora, se surgir aqui alguém que conheça esta obra, agradecia que desse a
sua opinião. Até pode ser que tenha gostado, eu é que fiquei sem vontade de ler
mais livros desta autora.
Um outro aspeto que
não me agrada (e não só em romances históricos) é quando o enredo muda de rumo
sem resolver as pontas soltas que deixou num primeiro momento, como se, de
repente, começássemos a ler outro livro. Foi essa a sensação que tive ao ler Ring der Steine, de Anna Lee Waldo, versão
alemã de Circle of Stones, do qual encontrei, na WOOK, uma versão em castelhano: Circulo
de Piedras.
A obra baseia-se na lenda de um galês chamado Madoc que terá chegado à América
três séculos antes de Colombo. O livro, porém, não soube explorar este admirável
potencial. Começa de maneira interessante, com a mãe de Madoc, amante do
príncipe galês Owain, a partir para a Irlanda, depois do nascimento do filho,
onde aprende as artes mágicas dos druidas. Desenvolve-se um enredo atraente,
mas, a partir do momento em que Madoc parte para a sua viagem, tudo isso é
esquecido e o livro torna-se exaustivo. Li-o há cerca de dez anos e já não me
lembro de pormenores, só sei que estive várias vezes para o largar e nem estou
certa de ter atingido a última página.
Concordo com o que referes nos dois casos.
ResponderEliminarPessoalmente adoro Romances Históricos e não gosto de fantasia porque me aborrece de morte as cenas de magias e afins.
Também já fui enganado por diversas vezes por supostos romances históricos com fortissimos componentes fantásticos. Recordo-me de um que até estava a ser interessante até que a autora decidiu que tudo aquilo era obra de extraterrestres. Enfim.
Em todo o caso há também muitos casos que são mal classificadas pelas editoras ou classificadas erradamente de uma forma propositada.
Depois há imensos casos em que os acontecimentos são abondonados sem qualquer explicação. A meu ver isso é uma falta de consideração pelo leitor.
No entanto tenho sempre algo em mente quando estou a ler um romance. Tudo aquilo é ficção. O autor não tem a obrigação de contar a realidade, mas sim ficcionar dados da realidade, dando-lhe, contudo, uma forma coerente e, de alguma forma, realista. Pessoalmente encontro isso em Bernard Cornwell. O homem pega em temas cuja informação é reduzida e consegue construir histórias coerentes e incrivelmente excitantes e reais. Tudo é ficção envolta em acontecimentos reais.
Do que li de Bernard Cornwell, a sua versão muito especial da saga do rei Artur, também gostei muito.
ResponderEliminarFoi uma boa ideia teres ilustrado o texto com as capas dos livros ;)
De Cornwell apenas não li a série Sharp, nem pretendo ler. É o autor que mais aprecio, impressionante a forma viva como consegue construir os seus tramas.
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