O Manuel do Blog "Dos Meus Livros", blog que muito admiro e considero, aceitou o meu convite para nomear o pior livro que leu até ao presente e a sua escolha vai para um livro que eu também já li: “Mulheres” de Charles Bukowsky.
O Pior Livro |
As suas considerações:
Chinaski, personagem principal, é o alter-ego do autor.
Um autor alcoólico, como ele próprio se define, hedonista
até ao limite, escreve para poder dormir até ao meio dia. É esse o seu objetivo
maior.
Ao longo de centenas de páginas, a “paisagem” não muda
muito: Chinaski rodeia-se de mulheres, quantas mais melhor, e de garrafas de
vinho.
E a narrativa vai prosseguindo sem novidades: a imagem que
se vai criando na mente de quem lê é a de um velho, cada vez mais decrépito,
rodeado de mulheres, mais ou menos bem pagas para que o senhor das letras vá
disfrutando do que lhe resta dos prazeres carnais.
Talvez se possa dizer deste livro que foi uma pedrada no
charco do conservadorismo, que foi um grito de rebeldia, etc. etc. Na minha perspetiva
não vai muito além da literatura pornográfica. Mulheres, dinheiro e álcool
constituem um quadro deprimente, estéril, desprovido de qualquer interesse
literário.
Na época (o livro foi publicado em 1978), os críticos apreciaram
a rebeldia e a voz contestatária do autor. A mim, simples e descomprometido
leitor, parece-me um livro inútil e disparatado.
Na leitura mais benevolente que se possa fazer, este livro
demonstra a incongruência, a ausência de sentido em que a vida humana pode
cair: enterrada nas profundezas do álcool e do sexo, sem qualquer sentido que
não seja o do prazer efémero, ele próprio assumidamente deprimente.
Trata-se, em suma, do livro ideal para quem queira
afundar-se numa depressãozinha capaz de fazer esquecer qualquer crise. Perante
este panorama, o FMI, a troika ou o governo que nos esfola presentemente não
passam de anjinhos benevolentes. A vida de Chinaski consegue ser mais
deprimente que os discursos do nosso ministro das finanças.
À parte a seriedade do assunto, confesso que o Manuel me fez rir com este seu excelente texto ;)
ResponderEliminarExiste aquele mito de os artistas ficarem mais criativos por influência de álcool ou drogas. Na verdade, essas substâncias não nos põem mais criativos, apenas mais desinibidos, tanto com os outros, como connosco próprios, o que nos pode levar a aceitar ou a admitir certos prensamentos e atitudes, ou recordar certas vivências, que, sóbrios, nos esforçamos por esquecer ou recalcar. É essa a única vantagem (se é que se pode falar de vantagens, em casos destes). No caso, porém, de a substância, ao soltar-nos, nos inspirar uma ideia inovativa, só a deveremos pôr em prática depois de passado o efeito, caso contrário, não sai nada de jeito. Como Bukowsky o prova!
Por alguma razão, este escritor começou a aparecer bastante à minha frente e a despertar o meu interesse. E confesso que, apesar do tom mais negativo, esta crítica me fez querer ainda mais ler alguma coisa do autor, porque sinceramente esta "decadência" é coisa que me fascina.
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