Dado à estampa em folhetins em
1860, Grandes Esperanças é tido como o romance mais sério de Charles Dickens e
aquele onde o autor procurou abordar vários temas e estilos. Durante a sua
leitura, de facto, constatamos que o autor procura construir uma sátira humorística
mesclada de policial que roça, inclusive, o thriller psicológico.
De Charles Dickens já li as suas
principais obras e, confesso, esta foi a que menos gostei.
O estilo está lá, a explanação do
contexto social da Inglaterra da primeira metade de séc. XIX, a abordagem à essência
do Ser Humano e ao comportamento das várias camadas sociais, sobretudo a separação
entre as mesmas e as roturas que daí advinham. Isso é especialmente notório em
determinadas alturas do livro, pois a história trata da transformação, de um
momento para o outro, da vida de um rapazinho que passa de pobre e sem
esperança, para muito rico e com grandes esperanças. Mas subentende-se mais
durante a leitura desta obra. O eterno conflito entre a ética e a ambição foi
algo que mais me marcou neste romance, um pouco como o tinha sentido em “crime
e castigo” de Dostoievsky.
A primeira parte do livro é
tipicamente Dickensiana. Um pobre rapaz órfão que é criado com a irmã e o
cunhado e que se sente sozinho e abandonado. Único amigo, o seu cunhado, também
ele um pobre coitado que tem medo da mulher. Assim, Pip, é criado com “mão de
ferro” e sente que a sua vida não vai sair daquilo. Até que um dia a vida de
Pip muda drasticamente quando recebe a notícia que herdou uma imensa fortuna de
um benfeitor misterioso e que lhe vai alterar as suas esperanças para o seu
futuro e a partir daí, Pip muda o seu comportamento.
A sua parte do livro é, quanto a
mim, a mais aborrecida.
Dickens situa toda a acção em
Londres e aborda todas as tentações de uma cidade onde abunda a corrupção e o
crime. Cheio de personagens excêntricas, Dickens elabora uma narrativa cheia de
humor, é um facto, mas cuja futilidade nos atinge de uma forma violenta, assistindo
à evolução de Pip e à perda da sua identidade.
Finalmente, a terceira parte é o
culminar da acção e quando Pip se apercebe dos erros que tem cometido.
Chega-lhe o arrependimento e as dúvidas morais assaltam-no de uma forma
violenta.
O livro não é de fácil leitura,
há muitos momentos aborrecidos em que tive dificuldade de entender o significado
e o objectivo. O percurso de Pip é interessante e as questões que são
levantadas são igualmente interessantes e demonstram, também, que são eternas e
que são sempre actuais, no entanto não é um livro que me deixa grandes
saudades, pese embora tenha achado os seus personagens muito fortes e de grande
carácter algo que também é uma das marcas desse génio da literatura chamado
Charles Dickens.
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