Este é o terceiro romance de
Miguel Sousa Tavares (MST) e, depois do best-seller “Equador” e “Rio das Flores”,
MST dá à estampa um romance pouco cativante, monótono que, embora bem escrito,
se revela uma desilusão.
A premissa até é apelativa: tudo se
inicia numa madrugada. Quatro jovens alcoolizados irão ter uma experiência que
os marcará para toda a vida e que, anos depois, irá influenciar a vida de
outros.
O primeiro capítulo é a narração
deste caso e, de facto, ficamos com água na boca para o que aí vem, sobretudo
para quem conhece o “jeito” de MST em narrar uma boa história.
E, confessando que é um livro que
se lê bem e que tem momentos de verdadeiro deleite literário, o certo é que a
história se mistura com outras histórias sem que percebamos qual o verdadeiro
significado daqueles intricados cruzamentos, sucedendo-se alguns episódios
incoerentes que, a meu ver, nada vêem acrescentar ao trama e ao destino dos
personagens. Até porque rapidamente esse primeiro episódio cai para outro plano
e só quase no fim do livro surge com todo o fulgor, acrescentando ainda mais dissonância
a todo o contexto. Aliás, confesso que achei muito forçado e até utópico a fase
final do livro, coincidências muito ingénuas arranjadas um pouco à pressa por
quem, e isso não entendo, pareceu, às tantas, ter pouca paciência para arranjar
um fim coerente.
No entanto, para além da
história, entendi a mensagem, carregada de ironia, de MST aos políticos,
política e seus jogos de influências. Conforme senti nos outros romances, aqui
também me parece que MST escreve e constrói personagens com alguém, muitos, no
pensamento. Os exemplos de corrupção que constroem a acção do livro, a forma
como são trabalhadas, creio, é a de como são feitas em Portugal. Isso já se
sabe, no entanto acredito que aquando da construção dos personagens, MST se
baseou em pessoas e exemplos reais que, enquanto jornalista, conhece bem. Fico
sempre com essa ideia em todos os livros dele e neste isso sobressai na forma
como ele “arranja” os partidos políticos e os jogos de “bastidores”.
Um livro bem escrito, que se lê
bem mas que está a léguas de “Equador” e de “Rio das Flores”.
Nota final para o elevado preço
dos livros de MST, sobretudo este. Com 350 páginas cheias de diálogos, este é
um livro que se lê, e pausadamente, em oito horas, pelo que dar 20€ por uma
obra que pouco rende e que no fim nem é nada de especial, é algo que devia ser
revisto por quem tanto critica, e bem, as medidas de austeridade que têm
assaltado o povo português.
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