"Nós estamos num
estado comparável somente à Grécia: mesma pobreza, mesma indignidade política,
mesma trapalhada económica, mesmo abaixamento dos caracteres, mesma decadência
de espírito",
Eça de Queiróz, 1872.
José
Gomes Ferreira, conhecido jornalista que tem efectuado várias e incomodas
análises na SIC sobre a crise no mundo e as suas causas, lança-se, com este
livro, numa análise mais vasta e global sobre o estado do país, principalmente,
abordando também e porque estão interligados, a crise na Europa e no mundo.
Não sendo
economista, José Gomes Ferreira revela um profundo conhecimento na abordagem
minuciosa que efectua, descobrindo todo um vasto mundo sujo e hipócrita que nos
levaram para o estado em que estamos, não se demitindo em criticar todos os
quadrantes políticos e sociais, pois e como ele deixa provado, todos temos
culpas, não apenas os políticos que, desde 1974, têm desgovernado Portugal.
Mais
profunda do que aparenta, a presente crise vem sendo construída há muito tempo
de uma forma esquemática e pensada. Ou seja, esta crise foi concebida e
destinada a acontecer por políticas neo-liberais intencionais que entregaram todos
os quadrantes do país a mercados altamente gananciosos que, em proveito
próprio, prejudicaram o país.
Tudo aqui
é escalpelizado. As políticas ruinosas e irresponsáveis sempre em prejuízo do
povo que ficaram e ficarão sem condenação, os pré-conceitos que os políticos tentam,
e conseguem, passar para a opinião pública. Por exemplo, esses políticos não se
cansam de afirmar que a Segurança Social dá prejuízo e o melhor seria privatiza-la.
É falso! A Segurança Social dá lucro e recomenda-se. A intenção é fazer crer
que dá prejuízo de forma a passa-la para os privados e com isso, uma vez mais,
prejudicar o povo.
Mas há
mais, muito mais. A esquerda irresponsável, sempre tão corrosiva a criticar
qualquer política que se faça, é aqui também culpabilizada por defender poderes
instituídos, por não ter visão e por estar sempre com a mesma conversa sem
reparar que o mundo mudou e que defender a continuação deste sistema, apenas
está a defender os mesmos poderes que têm desgovernado e ganho milhões em
prejuízo do povo.
O povo
irresponsável, que com o seu desligamento, o deixar andar, permitiu aos políticos
fazerem o que quiseram até chegar ao presente onde a vergonha e o decoro se
perderam por completo.
A direita
irresponsável dos lobbies que tem na sua base política o neo-liberalismo
desenfreado onde apenas olha a números sem qualquer preocupação social. Que protege
grandes grupos económicos que não merecem e que não tem coragem para agir
contra esses mesmos grupos que tanto prejuízo têm dado ao país.
Os
grandes empresários que passam a vida em conferências e colóquios a criticar e
a mandar bitaites sobre a economia e como e estado devia agir, em vez de estar
a gerir as suas empresas, que é para isso que são principescamente pagos.
As
ruinosas PPP’s que mandaram o país de vez para a valeta, criando uma dívida que
vamos estar a pagar até 2040. Hoje em dia, os responsáveis por essas ruinosas
parcerias aí estão a pavonear-se, enquanto quem definha e paga é o povo.
Em suma,
José Gomes Ferreira aponta o dedo e nomeia culpados, no entanto este não é um
livro onde apenas se refere o que de mal, e foi muito, foi feito. É apontado,
pasme-se, políticas e acções boas para o país e, sobretudo, o autor dá a sua
visão e aponta alternativas válidas que apenas requerem boas intenções e
vontade de lutar contra os lobbies que agrilhoam este país, vontade de
trabalhar e fazer políticas que criem riqueza em prol do povo, que façam este
país sair do estado em que está. Não é difícil, apenas requer vontade e isso é o
mais difícil.
Nota final
para a forma como a minha perspectiva de Angela Merkel mudou. O autor explica a
política e as intenções de Merkel. Faz sentido, sobretudo quando dá exemplos no
que de positivo tem feito pelos países em crise e pelo contraste que existe com
os Estados Unidos da América. Fiquei elucidado e com a crença que o federalismo
é mesmo o melhor para Portugal, pois se formos obrigados a seguir uma política
de rigor feita para o povo, não tenho dúvidas que Portugal pode ser um país
forte, pois temos um povo fantástico que já deu provas ao longo da História e
em qualquer continente.
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