terça-feira, 27 de agosto de 2013

Meu Programa de Governo (O) - José Gomes Ferreira


"Nós estamos num estado comparável somente à Grécia: mesma pobreza, mesma indignidade política, mesma trapalhada económica, mesmo abaixamento dos caracteres, mesma decadência de espírito", Eça de Queiróz, 1872.

José Gomes Ferreira, conhecido jornalista que tem efectuado várias e incomodas análises na SIC sobre a crise no mundo e as suas causas, lança-se, com este livro, numa análise mais vasta e global sobre o estado do país, principalmente, abordando também e porque estão interligados, a crise na Europa e no mundo.

Não sendo economista, José Gomes Ferreira revela um profundo conhecimento na abordagem minuciosa que efectua, descobrindo todo um vasto mundo sujo e hipócrita que nos levaram para o estado em que estamos, não se demitindo em criticar todos os quadrantes políticos e sociais, pois e como ele deixa provado, todos temos culpas, não apenas os políticos que, desde 1974, têm desgovernado Portugal.

Mais profunda do que aparenta, a presente crise vem sendo construída há muito tempo de uma forma esquemática e pensada. Ou seja, esta crise foi concebida e destinada a acontecer por políticas neo-liberais intencionais que entregaram todos os quadrantes do país a mercados altamente gananciosos que, em proveito próprio, prejudicaram o país.

Tudo aqui é escalpelizado. As políticas ruinosas e irresponsáveis sempre em prejuízo do povo que ficaram e ficarão sem condenação, os pré-conceitos que os políticos tentam, e conseguem, passar para a opinião pública. Por exemplo, esses políticos não se cansam de afirmar que a Segurança Social dá prejuízo e o melhor seria privatiza-la. É falso! A Segurança Social dá lucro e recomenda-se. A intenção é fazer crer que dá prejuízo de forma a passa-la para os privados e com isso, uma vez mais, prejudicar o povo.

Mas há mais, muito mais. A esquerda irresponsável, sempre tão corrosiva a criticar qualquer política que se faça, é aqui também culpabilizada por defender poderes instituídos, por não ter visão e por estar sempre com a mesma conversa sem reparar que o mundo mudou e que defender a continuação deste sistema, apenas está a defender os mesmos poderes que têm desgovernado e ganho milhões em prejuízo do povo.

O povo irresponsável, que com o seu desligamento, o deixar andar, permitiu aos políticos fazerem o que quiseram até chegar ao presente onde a vergonha e o decoro se perderam por completo.

A direita irresponsável dos lobbies que tem na sua base política o neo-liberalismo desenfreado onde apenas olha a números sem qualquer preocupação social. Que protege grandes grupos económicos que não merecem e que não tem coragem para agir contra esses mesmos grupos que tanto prejuízo têm dado ao país.

Os grandes empresários que passam a vida em conferências e colóquios a criticar e a mandar bitaites sobre a economia e como e estado devia agir, em vez de estar a gerir as suas empresas, que é para isso que são principescamente pagos.

As ruinosas PPP’s que mandaram o país de vez para a valeta, criando uma dívida que vamos estar a pagar até 2040. Hoje em dia, os responsáveis por essas ruinosas parcerias aí estão a pavonear-se, enquanto quem definha e paga é o povo.

Em suma, José Gomes Ferreira aponta o dedo e nomeia culpados, no entanto este não é um livro onde apenas se refere o que de mal, e foi muito, foi feito. É apontado, pasme-se, políticas e acções boas para o país e, sobretudo, o autor dá a sua visão e aponta alternativas válidas que apenas requerem boas intenções e vontade de lutar contra os lobbies que agrilhoam este país, vontade de trabalhar e fazer políticas que criem riqueza em prol do povo, que façam este país sair do estado em que está. Não é difícil, apenas requer vontade e isso é o mais difícil.

Nota final para a forma como a minha perspectiva de Angela Merkel mudou. O autor explica a política e as intenções de Merkel. Faz sentido, sobretudo quando dá exemplos no que de positivo tem feito pelos países em crise e pelo contraste que existe com os Estados Unidos da América. Fiquei elucidado e com a crença que o federalismo é mesmo o melhor para Portugal, pois se formos obrigados a seguir uma política de rigor feita para o povo, não tenho dúvidas que Portugal pode ser um país forte, pois temos um povo fantástico que já deu provas ao longo da História e em qualquer continente.

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