Esta foi a minha primeira incursão
pela literatura da castelhana Júlia Navarro que, com o presente livro, tem a
sua estreia no género “romance histórico”, ela que é conhecida pelos seus romances de
mistério que tanto sucesso lhe deram.
No entanto, e segundo a própria
autora, este género é aquele com que ela mais se identifica, planeando
continuar dentro do género nos seus próximos romances.
“Diz-me Quem Sou” não é um romance
magistral, tão pouco o considero um grande romance, antes sim, uma história que
se lê bem, que entretém e que tem o condão, bem que a espaços, de nos empolgar
e de querer continuar a ler, ou seja, a espaços torna-se um romance de leitura
compulsiva face ao suceder dos acontecimentos, ao encadeamento da história.
No entanto, quanto a mim, tem falhas
que não lhe permitem ascender ao patamar dos grandes romances, embora
fisicamente seja dos maiores que li até hoje.
Basicamente a história centra-se em
Amélia Garayoa, personagem que se alicerça nitidamente na lendária Mata-Hari. O
livro inicia-se no presente com o jornalista Guillermo Albi, que se encontra
desempregado e sem expectativas algumas (aqui nota-se a primeira critica de
Júlia Navarro, pois refere várias vezes que a ausência de expectativa de
Guillermo se deve à inexistência de cunhas) a ser incumbido pela sua tia em
investigar a vida da sua misteriosa bisavó.
Mulher lendária, nome proibido na família,
Guillermo aceita esse trabalho como qualquer outro, no entanto e há medida que
vai desbravando a vida de Amélia, Guillermo começa-se a interessar cada vez mais
pelo assunto, ao ponto de se tornar quase uma obsessão, pois descobre que a vida da sua
desconhecida bisavó está para além daquilo que imaginava no início.
Guillermo viaja por meio mundo em
busca do rasto de Amélia e, como esse trajecto, vai-nos desvendando a
fascinante vida de uma mulher com uma personalidade forte, de uma imensa
coragem cuja fidelidade e desejo de expiação a fez estar presente e tomar parte
na Guerra Civil de Espanha, 2ª Guerra Mundial e na Guerra Fria. Em simultâneo,
Navarro vai também delineando o surgimento dos regimes totalitaristas que se
seguiram à Guerra Civil espanhola e o quanto perigosos foram e podiam ter sido
se tivessem vingado. Nesse ponto é indiscutível que se trata de uma critica
frontal a esses e quaisquer regimes totalitaristas e é inegável a
semelhança entre os tempos que antecederem o surgimento desses regimes e os
tempos actuais, ou seja, actualmente há um clima propício para o surgimento de
regimes fascistas.
Obviamente que o livro tem informações
ricas e diversas para serem constatadas ao longo da sua narrativa, em todo o caso há vários pormenores que
podiam ser melhores. Penso que podia ter explorado melhor os acontecimentos
graves da Guerra Civil, algo que passa um pouco ao lado. Depois a história
é-nos contada por vários protagonistas de diversas nacionalidades, e o que se
percebe é que não há diferenças na forma narrativa que é algo monótona. Bem sei
que é Guillermo que, na prática, nos narra a história, no entanto a forma como
agem é muito semelhante, para não falar de conhecimentos que possuem que não
era suposto terem porque não estavam lá, ou seja, nota-se alguma incoerência em
vários aspectos da narrativa.
Porem, repito, o livro é bom e lê-se
muito bem. Dá-nos uma perspectiva clara das dificuldades daqueles anos e
transporta-nos até 1989 por uma Europa em polvorosa e em constates mutações.