Como milhares de leitores, descobri a
personagem Drácula no filme de Vicent Price de 1982. A par de um outro título,
foi esse o filme responsável pela minha paixão por filmes de terror e,
confesso, acabei por assistir ao Drácula com Bela Lugosi, filme que muitos
consideram o primeiro grande filme do género e ainda hoje o clássico dos
clássicos quando se aborda a personagem criada por Bram Stoker.
No entanto para quem ler o livro,
depressa se apercebe que esse filme de 1931 está longe do original literário,
sendo sim uma variante com poucos pontos em comum, sendo que, a meu ver
Nosferatu, de 1922 se aproxima mais da obra literária. Em todo o caso e filmes
à parte, é sobre a obra de Dacre Stoker e Ian Holt que me proponho a falar.
Simplesmente a pretensão desta obra é
ser uma espécie de continuação, abençoada pela família Stoker, da obra literária
de Bram…
A obra em si não está mal conseguida,
no entanto, confesso, causa alguma estranheza ver, coabitar no mesmo romance,
para além das personagens criadas por Bram Stoker, Jack “O estripador”, a
condessa Elizabeth Bathory e outros que habitam nos anais da História.
O cenário é Londres, 25 anos depois
dos acontecimentos descritos em Drácula. O casamento de Mina e Jonathan, completamente
deteriorado, arrasta-se para o fim, enquanto o seu promissor filho, Quincey, se
deixa deslumbrar pelo teatro sem a aprovação dos seus pais. O dr. Seward vive uma
existência de vicios, enquanto Arthur Holmwood, vive atormentado pelo remorso e
pela saudade da sua Lucy. Van Helsing, é agora um ancião doente e debilitado
que se prepara para o seu confronto final.
É pois neste contexto que esta obra é
escrita e não se julgue que está mal conseguida. Pessoalmente até gostei de
seguir a narrativa, porém, para além de outros personagens que surgem, não
achei grande piada às ligações que os autores pretenderam incluir. Por exemplo,
os crimes de Jack O Estripador dá-se numa altura em que é escrita a narrativa
de Drácula e os autores pretendem, simplesmente, dar a entender que Drácula e
Jack são a mesma pessoa. Não é assim tão descabido como pode parecer, mas,
enfim, penso que é algo forçado.
De notar, porém, que a maioria dos
acontecimentos, segundo os autores, é aproveitada através de notas deixadas
pelo próprio Bram Stoker que, pensa-se, tinha em mente uma continuação da obra.
Porém o sucesso da obra em vida foi um fiasco e o próprio Bram Stoker deixou de
lado essa pretensão. Ou seja, os autores dizem que simplesmente aproveitaram o
que foi deixado nas notas de Bram Stoker para fazer esta continuação, até porque
o objectivo deles é fazer uma espécie de ajuste de contas com o passado, pois a
família Stoker perdeu os direitos de autor muito cedo e causa-lhes urticária os
filmes que se fizeram baseados no livro.
Lê-se bem, mas deviam ter deixado
Drácula como está. Esta continuação não faz jus ao clássico nem à personagem
criada em 1897 e que anda hoje é lido por milhares de leitores.