A Anabela, do Blog "Livros & Saltos", lançou o desafio para se criar um Clube de Leitura.
Parece-me uma excelente iniciativa.
Tomo a liberdade de divulgar a iniciativa, aproveitando igualmente para endereçar o convite a quem quiser participar.
segunda-feira, 17 de junho de 2019
sexta-feira, 14 de junho de 2019
Origem (A) – Dan Brown
Já aqui tenho referido da minha
saturação por thrillers onde questões religiosas se misturam com factos
históricos, originado teorias de conspirações seculares, descobertas em
pormenores visualizados em quadros, estátuas, monumentos, sei lá, em qualquer
coisa que tenha sido criada em séculos passados.
E digo mais, sem dúvida que o “Código
Da Vinci” foi um livro que fez imenso furor, porque soube, de uma forma muito
bem delineada, explorar a História e a Arte, gerando um enredo bem pensado e
coerente que teve o condão de criar celeuma em várias áreas da sociedade,
sobretudo criou um imenso debate sobre o papel da Arte e da Religião e como as
duas se interligavam. A partir daí foram centenas de títulos que pretenderam
aproveitar a maré, a maioria sem qualquer qualidade e que, na minha opinião,
acabou por saturar o mercado. Tenho a certeza que hoje em dia este género de
livros não vende tanto e perdeu aquele toque de surpresa.
Pois bem, o novo livro de Dan
Brown é exactamente do mesmíssimo género, o que, por si só, já se torna algo
aborrecido. Ou seja, confesso que as minhas expectativas não eram muito altas e
só me decidi na sua leitura porque se tratava de Dan Brown, se fosse outro
autor qualquer, garanto que não lhe pegava.
As questões iniciais e que
acompanham todo o enredo é: “De onde viemos?” e, “para onde vamos?”
E, obviamente, como seria
expectável, teria de haver uma situação estrondosa no início. Temos assim um
cientista que afirma ter uma descoberta que irá revolucionar a religião e a
ciência e que, quando se souber, será bombástica e criará o pânico, o horror, o
desespero na população mundial.
Depois, como expectável, existe
alguém que quer matar esse cientista, que por acaso (só por acaso), é amigo
pessoal de Robert Langdon e que, com a ajuda de uma menina (o que seria
expectável, pois há sempre uma menina na molhada que mesmo em situações de
perigo manda umas larachas), são perseguidos por esse assassino religioso fundamentalista,
com um bispo à mistura, uma seita anti-católica que tem de meter sempre o
bedelho, polícias, jornalistas, enfim, o costume. Ah, vá lá, para ser algo
diferente, temos um príncipe e o rei de Espanha ao barulho.
Depois, tiros, mortes, quedas, helicópteros,
super computadores que falam, porrada de criar piolho, complôs, códigos
criptados, códigos sem ser criptados, códigos simples, complexos que se tornam
simples, uma sopa primordial que vai desaguar na sopa primordial que
responderá, de uma forma algo caricata, quem somos e para onde vamos, querendo
colocar-nos uma questão ética mas que, na minha opinião, é algo rebuscada e
exagerada, pois, sinceramente que essa revelação fosse capaz de destruir a
crença em qualquer religião ou em qualquer Deus é algo excessiva.
É um livro que entretém, isso é
um facto o que, por si só já é de realçar, porém e embora contenha várias informações
interessantes, a sua acção acaba por aborrecer visto ser mais do mesmo, com
situações muito similares com anteriores romances de Brown.
Para quem pretender uma leitura
leve, valerá sempre a pena, nem que seja por descobrir algumas informações
interessantes. Mas para quem pretenda algo explosivo, que irá revelar algo
bombástico, então esqueça, pois irá sentir-se desiludido.
terça-feira, 11 de junho de 2019
US (2019)
Escrito, produzido e dirigido por
Jordan Peele, “US” (traduzido literalmente por NÓS), é um filme do género suspense/terror
que vem na senda do primeiro filme de Jordan Peele, o nomeado para os Óscares, “Get
Out”, filme que recebeu inúmeras opiniões favoráveis, dado a inteligência do
argumento.
Como parte do elenco temos Lupita
Nyong'o, Winston Duke e Elisabeth Moss, entre outros, “US” consegue-nos cativar
logo desde o início, criando uma aura misteriosa e nebulosa, perspetivando
acontecimentos estranhos que dão o mote ao filme.
Porém, à medida que o filme se
vai desenrolando, é percetível, porque o realizador a isso nos habitou, que não
se trata de um mero filme de terror e sim uma alegoria à sociedade norte-americana,
com alusões a várias outras obras, realçando as profundas diferenças sociais
entre a população, sobretudo entre a comunidade negra, simbolizados por aqueles
que vivem na parte de baixo, no subsolo, e a classe alta, simbolizada por
aqueles que vivem na parte de cima, pelos originais, e que vivem em liberdade.
E isso torna-se claro quando
constatamos em dois pormenores:
O trocadilho com o título do
filme: “Us” (NÓS) = United States.
E quem são os NÓS?
Isso é respondido pela dupla da
personagem principal protagonizada por Lupita Nyong’o: Somos Americanos!
O filme, que possui algumas
falhas e pontas soltas, que, na minha opinião, são produzidas de forma
propositada a fim de parodiar os clichés dos filmes de terror, é extremamente
inteligente, tanto no desenrolar dos acontecimentos, como igualmente nos
diálogos, vai desfilando várias alusões a outras obras, como por exemplo, é
clara a referência a “Alice no País das Maravilhas” e a toca do Coelho, pois
note-se que uma das sequência finais é, na prática, retirada das primeiras
páginas da obra de Lewis Carroll.
Assim como fica subentendido a
Alegoria da Caverna de Platão. Nos diálogos, afirmava Sócrates – “Agora, imagina a maneira como segue o estado
da nossa natureza relativamente à instrução e à ignorância. Imagina homens numa
morada subterrânea, em forma de caverna, com uma entrada aberta à luz; esses
homens estão aí desde a infância, de pernas e pescoços acorrentados, de modo
que não podem mexer-se nem ver senão o que está diante deles, pois as correntes
os impedem de voltar a cabeça; a luz chega-lhes de uma fogueira acesa numa
colina que se ergue por detrás deles; entre o fogo e os prisioneiros passa uma
estrada ascendente. Imagina que ao longo dessa estrada está construído um
pequeno muro, semelhante às divisórias que os apresentadores de títeres armam
diante de si e por cima das quais exibem as suas maravilhas”.
Longe de ser um daqueles típicos
filmes de terror, cheio de tentativas de sustos e muito sangue, aqui, num ritmo
propositadamente lento, o realizador consegue agarrar o público, erguendo um
clima de tensão que se vai construindo através de um conjunto de teias e
labirintos que, no fim, se vão entrelaçar.
E é nos pormenores que a
inteligência da realização se torna notável. Para além do já referido nos
parágrafos anteriores, existem alusões a trechos bíblicos que nos vão dando
pistas sem que nos apercebamos, para além disso, há outros sinais que julgamos
irrelevantes, mas que se revelam fundamentais.
Em suma, um excelente filme.
Mordaz, irónico e corrosivo, que demonstra a profunda desigualdade que grassa,
não apenas na sociedade norte-americana, como igualmente em qualquer outra
parte do globo.
sexta-feira, 7 de junho de 2019
Jane Eyre - Charlotte Brontë
A minha atracção pelos clássicos
da literatura, levou-me, desta vez, a pegar num romance que há muito estava na
minha lista e que usufrui de imensas apreciações positivas em todo o mundo.
Publicado em 1847, Jane Eyre é
uma espécie de autobiografia da sua autora (ela própria admitiu isso),
misturada com diversos episódios ficcionais mas que vão servindo de contraponto
para o que Brontë pretendia expor.
Acompanhamos assim Jane Eyre da
infância à fase adulta, pese embora exista um hiato de 8 anos que, segundo Jane
Eyre, não se passou nada de especial. Desse modo e após a narrativa mostrar a
sua difícil e traumatizante infância, eis que nos surge Jane Eyre com 18 anos e
completamente adaptada ao ambiente onde vive.
Sempre confrontada com dilemas
éticos e morais, Jane Eyre vai-nos traçando um esboço da sua personalidade,
sobressaindo a sua imensa força psicológica, a sua força de vontade, que irá
fazer com que a sua vida, de uma forma gradual, vá mudando.
O trama em si mesmo, é
vincadamente vitoriano (como é natural), completo de críticas sociais que
envolvem a circunstância da mulher, sobretudo a sujeição, razão pela qual se
percebe ter tanto sucesso junto do público feminino, pois Jane Eyre representa
a figura que qualquer mulher defende e anseia, ou seja, uma mulher que mesmo crescendo
num ambiente hostil, consegue encarar as dificuldades da vida de uma forma
frontal, que tem atitude e força para viver a sua vida de forma digna.
Considerado uma romance de
formação, e isso a meu ver é claríssimo dada o desenvolvimento da narrativa
estar interligado com a evolução humana da protagonista, a autora vai
efectivamente contra aquilo que na altura se pensava, ou seja, à época, a
mulher era considerada um ser que não era apta para trabalhar. O seu dever era
casar, ter filhos e gerir a casa. Charlotte Brontë demonstra que as mulheres
eram tão capazes de trabalhar quanto os homens e isso foi uma espécie de
pedrada no charco na época, pois é amplamente conhecida o forte puritanismo que
envolvia a sociedade europeia, sobretudo a britânica onde as tradições e o
moralismo estavam muito enraizados.
Jane Eyre é assim um romance da
sua época que necessita de uma abordagem prévia no seu contexto histórico, pois
e caso contrário, perde completamente a sua intenção, tornando-se, de forma
injusta, um romance algo supérfluo e sem sentido aos dias de hoje. E isso ao
acontecer, é injusto, pois não se pode retirar a sua importância e, sobretudo,
a coragem, em expor a condição da mulher da primeira metade do séc. XIX.
Pessoalmente gostei muito de ler
este clássico e perceber que, independentemente da época e das tradições
culturais, o Ser Humano, na sua essência, é sempre igual, seja nos dias de
hoje, seja no séc. XIX ou há dois mil anos.
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