Sendo eu um apaixonado pelo futebol, confesso que desde os anos 90 deixei de acreditar na honestidade da maioria dos torneios que acompanho, perguntando a mim mesmo porque ainda sigo esses torneios se não acredito na justiça dos seus resultados?
É esse o fascínio do futebol. Por muito factos estranhos que eu tenha assistido à descarada, o certo é que gosto de acompanhar e assistir quando posso, pese embora não vá a um estádio de futebol há uns 15 anos e nem penso em lá voltar.
Declan Hill, jornalista, tornou-se num dos maiores investigadores do mundo sobre a viciação de resultados e corrupção no desporto e, em “Máfia no Futebol”, ele descreve a investigação que levou a cabo e que lhe deu a conhecer o mundo paralelo do futebol, um mundo da batota e de corrupção.
E, mesmo não me surpreendendo por aí além, o resultados dessas investigações, são de facto surpreendentes face à dimensão e o que abrange ou até onde abrange: tudo, literalmente tudo.
Fenómeno surgido na Ásia, grupos de arranjadores ligados a organizações criminosas, que arranjam jogos nos maiores torneios desportivos do mundo (não apenas no futebol), transformaram o futebol numa industria atolado em criminosos e batoteiros, onde o lucro e outros interesses financeiros, influenciam os resultados dos jogos e das competições.
Aposta ilegais à escala mundial, esses arranjadores são como um polvo cujos tentáculos tudo alcançam, pois o dinheiro fala mais alto. E ninguém escapa: jogadores corruptos que se deixam corromper para facilitar dentro de campo, dirigentes que usam das suas influências para corromper, árbitros que são “obrigados” a facilitar depois de uma noite bem acompanhado ou então “obrigados” a facilitar depois de prendinhas pequeninas em ouro e afins, treinadores que “erram” nas substituições a fim de facilitar a outra equipa, enfim, há de tudo e não se pense que é só na Ásia que isso sucede, não!
Pasmem-se, é na Europa onde reside a maior corrupção!
São aqui mencionados muitos clubes de nomeada na Europa. Alguns conhecidos que desceram de divisão e tardam em recompor-se. Outros que continuam a ganhar pese embora todos lhes conhecerem os vícios, haver nomes de envolvidos e até provas (basta ir ao Youtube). É aqui mencionado ao de leve, pois não fosse Portugal o país periférico com pouca expressão mas cujo o autor afirma “… o futebol português sempre este sob alvo de suspeitas de corrupção. Alegações de envolvimentos mafiosos são quase rotineiras…” , no Capítulo intitulado “O Sexo e os Homens de Negro”. Mas e embora tudo isso não me surpreende-se, o que de facto me espantou é quando o autor aborda a viciação de resultados no Campeonato do Mundo de Futebol.
Fiquei, confesso, siderado com o que li e não é que depois fui ver ao Youtube as imagens dos jogos mencionados e, vendo por esse prisma, é de facto muito estranho como é que essas equipas sofrem certos golos, alguns deles perfeitamente infantis. E aí sim, senti-me triste pela quantidade de milhões de pessoas que acreditam na honestidade do jogo, naqueles milhares que pagam fortunas para ir aos estádios, naqueles que pagam canais televisivos, naqueles que poupam durante quatro anos para depois acompanharem as suas selecções ao Campeonato do Mundo e sobretudo, fiquei triste pelas pessoas que nada têm e cujo futebol, é um escape que dura hora e meia e onde eles se esquecem da dureza da vida. Tudo em prol do lucro, destrui-se o jogo.
Um livro excelente. Narra como se procede aos arranjos, como se formam os esquemas, os interesses das apostas ilegais, os interesses nos arranjos de jogos com equipas mais pequenas. Jogos que supostamente são fáceis de ganhar mas que interessa ter já como garantido para impedir lesões que impeçam os jogadores de jogar o jogo seguinte, esse sim, muito mais importante. Dá para compreender porque é que certas equipas jogam de determinada forma com uma equipa A e depois dão tudo quando jogam com uma outra equipa B, rival da equipa A.
Em suma, arrepiante o que é descrito no livro e algo que pode fazer com que muitos adeptos se desliguem desse jogo que é de facto maravilhoso.