Atribui-se a Johannes Gutenberg, no século XV, a invenção da imprensa que de facto foi um dos
inventos que veio revolucionar o mundo, pois e até aí os livros que existiam
eram produzidos por copistas e um exemplar demorava bastante tempo a prouzir, pois era
tudo feito à mão. Dessa forma os livros simplesmente não circulavam e os que
havia ou pertenciam ao clero ou então eram propriedade dos grandes senhores
que, na maior parte das vezes, os mandavam fazer apenas com um sentido
ostentatorio da sua posição, ou seja, nem sequer os liam.
A imprensa veio alterar todo esse cenário,
porque permitiu mais cópias em menor tempo e, sobretudo, porque tornou essa
produção mais barata, logo, é a partir do século XV que o livro começa a
circular mais amiúde o que, obviamente, vai ter imensas repercussões no campo
da cultura e da evolução das sociedades.
A obra do catalão Eduardo Roça situa-nos
precisamente nesse contexto, dando-nos uma excelente perspectiva do modo de
vida na Europa renascentista e, sobretudo no aspecto em que a sociedade europeia
estava formada sob o jugo das forças opulentas do clero, dos grandes senhores e
de um povo subjugado pelo medo e pela ignorância.
A época em si era extremamente violenta,
cheia de contrastes que não nos deixam de chocar, no entanto e como em todas as
épocas, surgiam homens decididos a arriscar a sua vida em prol de um futuro
melhor para a humanidade e do progresso. Se não fossem esses homens e mulheres,
alguns deles que morreram nas fogueiras da inquisição, provavelmente hoje em
dia ainda assistiríamos a um controlo insano da parte da igreja sob tudo aquilo
que consideravam ser prejudicial aos seus interesses e o mundo não tinha
evoluído.
Lorenz Block é um ourives viúvo que vive
só com a sua filha adolescente. Embora seja ourives, Lorenz tem um imenso amor
pela escrita o que o leva a inventar uma espécie de máquina que está na origem
da prensa. Consciente da importância do seu invento, Lorenz tem também
consciência que tal invento pode ser visto com desagrado pelas forças da cidade
e, sobre um enorme secretismo, desenvolve a máquina de impressão mecânica, até que recebe, por intermédio de um desconhecido, uma
encomenda de um livro de Aristóteles que deve ser produzido em apenas alguns
dias, feito que ele consegue. No entanto a encomenda seguinte é um livro proibido e algo corre mal...
É um livro sobre livros e essencialmente
um livro sobre a capacidade do Ser Humano em acreditar no progresso e no desejo
em que a cultura esteja disponível a todos e não confinada em bibliotecas dos
mosteiros ou particulares. Para quem gosta de livros, é efectivamente um livro
que dá gozo ler, não apenas pelo objecto livro como também pela descrição do contexto
histórico, isso foi o que mais apreciei e considero o livro muito bem
conseguido.
No entanto não é perfeito e já não gostei
tanto da forma como vários personagens foram evoluindo, algumas delas com uma
evolução sensaborona e, a meu ver, descuidada, sem grande sentido, um pouco
como se o autor se tivesse fartado delas e simplesmente, dando-lhes um final
mal conseguido. Depois também considero o livro um pouco repetitivo em alguns aspectos.
Não os vou mencionar, mas, às tantas, parece que estava a ler cenas já
ocorridas e que pouco sumo tinham, não levando a lado nenhum.
Em todo o caso é um livro muito bom que
aconselho aos amantes dos livros e do género romance histórico, pois dá-nos de
facto uma excepcional perspectiva da Europa dessa época.