Por muito que não o queiramos, é
quase impossível não tecermos comparações entre este livro e o best-seller “Equador”,
livro excepcional que, até aos dias de hoje, consta na galeria dos meus livros
favoritos.
“Rio das Flores” tem alguma coisa
de “Equador”.
Primeiro, tem aquela fluência e
beleza linguística e narrativa que, honestamente, me faz lembrar Eça de Queirós
e que já o havia constatado em “Equador”. Depois, novamente Miguel Sousa
Tavares (MST) imprime um ritmo alucinante à narrativa que mal nos deixa
respirar, inundando-nos de acontecimentos históricos e de detalhes deliciosos
sobre o modo de vida e das situações sociopolítica da época. E, finalmente mas
de uma enorme importância, a força e o carácter dos personagens principais, as
suas convicções bem enraizadas e fundamentadas que dão ao romance um cunho que
ultrapassa o mero romance histórico.
O Portugal rural está aqui bem
caracterizado assim como o proprietário abastado, dono de uma vasta propriedade
e cuja importância está bem vincada na sociedade local. A república é muito
jovem e em Lisboa sucedem-se as confusões que vão dar origem ao Estado Novo e à
ditadura. MST faz um belíssimo trabalho na explanação dos acontecimentos,
inserindo-os na história da família Ribera Flores.
Ao longo do romance, que li num
ápice, vamos descobrindo as razões por detrás das razões de muitas decisões que
levaram muitos a exilarem-se, a combater por ideais ou a mudar de barricada
conforme as circunstâncias. O autor vai expressando as suas ideias de uma forma
clara mas sem influenciar ou omitir os verdadeiros acontecimentos. É verdade
que, por vezes, MST se excede um pouco nos adjectivos utilizados para
caracterizar certos personagens, no entanto acaba por dizer aquilo que
pensamos.
Um romance excepcional que me
cativou desde a primeira página. Adorei ler sobre o meio rural português dos
anos 20 e 30. Dos ideais políticos e das motivações que transformaram Portugal
e a Europa nos anos 30 e da descoberta do verdadeiro Eu do principal personagem
da obra que, a meu ver, dão um importante tom humanista a esta obra.