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terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Balanço Pessoal de 2013

Há muitos anos que não lia tão pouco livros como em 2013. Razões são várias, mas as principais foram porque, para além de ter lido livros com muitas páginas (pelo menos dez deles tinham mais de quinhentas páginas e cheguei a ler dois livros que excediam as mil páginas), confesso que foram muito os livros que deixei ainda antes de ter atingido as cem páginas, livros esses que, obviamente, não contabilizo.

Livros Lidos: 41
Páginas lidas: 16892   
Média diária (páginas): 46 
Média Livros mês: 3,4
Média Página/Livro: 412

Em todo o caso li alguns bons livros mas confesso que tive dificuldade em selecionar dez que merecessem constar num top, pelo que me decidi a fazer um top de apenas cinco livros, ei-lo:









O Mais Prazeroso: - "Os Anjos Morrem das NossasFeridas” e “Diz-me Quem Sou

Conforme referi no início da minha opinião do “Os Anjos Morrem das Nossas Feridas”, é sempre um bálsamo, uma bênção de puro deleite literário os livros de Yasmina. Descobri este autor em 2012 e, desde essa altura, já li vários dos seus títulos e há outros ainda por ler. É sempre uma alegria voltar a esse autor e foi o que sucedeu com este título que, considero, a melhor leitura de 2013.

“Diz-me Quem Sou” foi o primeiro romance histórico de Júlia Navarro e também o primeiro título que li desta autora. Fiquei muito surpreendido pela qualidade da sua escrita e pelo trama desenvolvido. Pese embora não seja uma obra extraordinária, li as suas mais de mil páginas num ápice e fiquei deveras agradado com as histórias que a autora me foi dando.

  
Mais Divertido: - "Cordeiro, Evangelho de Biff"

Este é um livro algo apatetado mas que, aqui e ali, vai falando sério. A premissa é a infância de Jesus Cristo e a sua vida é-nos narrada pelo suposto melhor amigo de Jesus, Biff, e a narrativa tem períodos de paródia que, de facto, nos leva às lágrimas de tanto rir. Num tom hilariante, o autor traça-nos os primeiros anos de Jesus e os milagres que já fazia, no entanto cai muitas vezes num absurdo algo aborrecido, mas que não deslustra toda a narrativa.




Trabalho a Ler: -  "Segunda Guerra Mundial"

Este foi um livro que me demorou cerca de três meses a ler. Martin Gilbert faz um trabalho notável, traçando-nos passo-a-passo e de uma forma muito minuciosa, a guerra desde o seu início até ao seu epílogo e os anos consequentes. Foi também um livro cansativo face às imensas descrições de atrocidades cometidas por todos os lados. Muitas vezes parei porque não tinha estomago para continuar e vivi dias, acreditem, atormentado por tanta bestialidade humana.

  


Decepção: - "Grandes Esperanças"

Já li muitas obras de Charles Dickens e confesso a minha imensa admiração pelo autor e pelas suas obras. No entanto “Grandes Esperanças” revelou-se um tormento, sobretudo a segunda parte, tal o aborrecimento que me foi provocando. Pessoalmente este é o livro mais desinteressante de Dickens e aquele, que de certeza, jamais vou voltar.



Não consegui acabar: -  "O Hobbit" de Tolkien

Foram muitos os livros que iniciei e que nem à página cem consegui chegar, no entanto tentei, juro que tentei com todas as minhas forças ler o Hobbit de Tolkien, até porque o queria colocar no desafio Book Bingo, mas, debalde, não consegui nem consigo ler fantasia. Tinha jurado a mim mesmo nunca mais ler qualquer livro de fantasia e, uma vez mais, vi que não vale a pena, pois não consigo inserir-me naqueles universos e o enfado é tão grande que sou capaz de ler dez páginas sem me lembrar sequer do parágrafo anterior. Respeito quem elege a fantasia como o seu género preferido, mas eu não consigo achar o mínimo interesse.




O Pior: "O Fenómeno Ovni - Factos, Fantasia e Desinformação"

Já li muita literatura sobre ovnis e seres extraterrestres a ponto de eu próprio ter uma tese sobre a hipotética vida, inteligente, fora do planeta Terra. Este foi apenas mais um. Cheio de histórias conhecidas, com as habituais fotos difusas, foi um livro sem chama e que não trouxe rigorosamente nada de novo a este fenómeno. Aliás, é uma espécie de livro que mais parece um conjunto de artigos tirados da internet e ali colocados.

  

A Revelação:

Para mim, Júlia Navarro. Nunca tinha lido nada dela e gostei bastante do estilo em “Diz-me Quem Sou”. Fico a aguardar o novo romance histórico que já saiu em Espanha e que aqui deve estar por dias.


Um Bom Ano a todos!


domingo, 29 de dezembro de 2013

Cerco de Leninegrado (O) – Michael Jones

Iniciei o ano de 2013 a ler sobre a 2ª Guerra Mundial e acabo o ano a ler sobre um dos piores e mais terríveis episódios deste conflito: O cerco de Leninegrado.

Aquando da leitura da obra de Martin Gilbert, um dado sobressaiu: de todos os países envolvidos no conflito, a União Soviética foi aquele que mais perdas humanas teves. Entre civis e militares calcula-se que morreram vinte milhões de pessoas!

Nesta presente obra, esta evidência ressalta com toda a força e percebemos também a causa de tanto morticínio. O autor refere, por variadíssimas vezes que muitos factos só foram conhecidos publicamente após o fim da União Soviética e que muitos dados ainda estão por conhecer. Ou seja, é claro que muitas dessas vitimas se deveram a incúria de políticos e chefias militares que demonstraram uma total desprezo pela vida humana. São aqui relatados, não só as causas que colocaram à frente do exército chefias vaidosas e incompetentes, como também da instabilidade dos seus líderes, inclusivamente Estaline, que não só mandavam os soldados para a morte como também foram um dos grandes responsáveis pelo cerco de Leninegrado.

E é assustador o que este livro revela, mais assustador quando sabemos que o que aconteceu pode vir a acontecer outra vez, pois a essência do Ser Humano é maldosa e a História repete-se vezes sem conta, pois este cerco pode ser a que melhor está documentado, mas não é caso único na História onde uma força sitiadora tenta conquistar pela fome uma cidade.

Durante 872 dias (entre 1941 e 1944) as forças alemãs sitiaram a cidade condenando à fome milhões de civis. Foi uma atitude propositada, os próprios soldados alemães tinham disso consciência e há inúmeras provas que o atestam.  E é baseado em relatos dos próprios sitiados, a maioria escritos em diários agora em exposição num museu dedicado ao cerco, que o autor vai construindo um cenário monstruoso e terrífico do quotidiano dos cidadãos e pelo que passaram.

Confesso que em muitas alturas tive de parar de ler tal a agonia que me metia. Casos de canibalismo de virar o estomago são narrados de uma forma crua, tornando este episódio ainda mais brutal, pois num conflito armado até podemos perceber os combates, mas é inimaginável conceber a angústia da fome ao ponto de fazer seres humanos matar outros para os comerem. De bandos de canibais organizados que fomentaram mercados negros de carne humana e isso com o beneplácito indirecto dos dirigentes da própria cidade. Declaradamente foram 1.400 pessoas presas por actos de canibalismo e 300 executadas, no entanto facilmente se percebe que foram muito, mas mesmo muitos mais casos, assustadoramente muitos mais.

Não conhecia esse lado, propositadamente escondido da opinião pública e que inclusive Martin Gilbert omite, não sei se propositadamente ou não, na sua obra “Segunda Guerra Mundial”, mas confesso que foi o aspecto que mais me enojou mas que acabou por não me surpreender, pois e, repito, a História está cheia de factos desses.

Um livro brutal que revela, uma vez mais, a essência do Ser Humano e do que o mesmo é capaz de fazer ao seu congénere (para o bem e para o mal), no entanto é uma obra que revela também a enorme capacidade de resistência e de adaptação que o Ser Humano revela quando confrontado com situações extremas.

Uma leitura perturbadora, nada aconselhável a estômagos fracos.

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Há dias comecei a colectar as minhas leituras de 2013

para poder efectuar o último post do ano onde, mais para mim mesmo, refiro o número de livros que li, total páginas, etc e cheguei à conclusão que nunca li tão pouco como este ano.

Independentemente de alguns motivos intrínsecos, dei por mim ou dou por mim com pouca ou nenhuma razão motivacional para pegar em qualquer livro e, quando o faço, em numerosas ocasiões custa-me avançar tal o desinteresse que o mesmo me motiva.

A razão principal é a falta de qualidade dos livros que me chegam às mãos. Mesmo tendo acabado com as parcerias há mais de um ano, são ainda dezenas de livros que me foram enviados por diversas editoras que tenho em fila de espera e, parece-me, que por lá vão continuar, pois por ocasião da escolha do próximo, dou uma leitura pelas sinopses e o entusiamo é nulo.

Outras das razões é que, hoje em dia, poucos são os escritores que me entusiasmam, poucos são aqueles que me motivam a comprar assim que editam (este ano comprei apenas três livros, algo impressionante), logo e espremendo todo o ano, há apenas dois ou três livros em que isso aconteceu e aí, de facto, foram leituras prazerosas.

Este ano, pese embora o número de posts estejam dentro da média, foi também o ano em que menos tempo dediquei ao blog e à leitura de outros blogues. Sem referir nenhum em especial, até porque continuo a admirar um rol deles e as pessoas que estão por detrás, mas confesso que há muito tempo acho a blogosfera literária aborrecida, repetitiva, focada mais na promoção de editoras e pouco na elaboração de textos opinativos de qualidade que me despertem a curiosidade para alguma obra literária. Não lhes aponto o dedo, nem sequer acho que tenho o direito de achar o que quer que seja, mas é impressionante a quantidade de blogues que se limitam praticamente a “vomitar” passatempos e notícias de editoras, sem que tenham opiniões, ou então aquelas que elaboram, são fracas, praticamente sinopses melhoradas que denotam pouco conhecimento do que leram e até mesmo criando-me a dúvida se de facto leram mesmo o(s) livro(s). Ou seja, são blogues desinteressantes, aborrecidos, que estão apenas ao serviço de um conjunto de editoras que pretendem publicidade constante e gratuita. Mas enfim, isso é algo que eu já expressei em alguns locais e a tendência é até para isso aumentar.

Iniciei este blog em Junho de 2007, são mais de seis anos e, confesso, que há bastante tempo me passa pela cabeça fechá-lo, pois e como tudo na vida, tudo tem um fim e a apetência para escrever cada vez é menor, cada vez a satisfação é mais reduzida e acredito que isso se sinta nas próprias opiniões que escrevo. Longe vão os tempos onde escrever uma opinião me levava horas, lia e revia o que escrevia, voltava atrás, muitas vezes mandava fora e escrevia de novo. Agora, conforme está a acontecer com este texto, é tudo de enfiada, sem grandes preocupações estéticas ou de salientar “isto” ou “aquilo”. Escrevo praticamente após o término da leitura e sobre o que penso. 

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Um bom natal!

Independentemente da crise que assolam alguns, deixo aqui os meus sinceros votos a todos os amigos e amigas que me acompanharam ao longo do ano.

Bem haja e muita saúde!


quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Herói - Crónicas de Starbuck (IV) - Bernard Cornwell

Neste 4º volume das Crónicas de Starbuck, Bernard Cornwell continua na senda de Nathaniel Starbuck, jovem nortista que combate na guerra civil americana pelo lado dos rebeldes.

E, quanto a mim, é o livro mais brutal dos quatro.

As peripécias de Nate levam-no ao comando de um batalhão denominado “pernas amarelas”, nome pejorativo que simboliza a cobardia demonstrada por esse batalhão numa batalha anterior. Para além do enorme trabalho que vai ter em educar e motivar esses homens, vai-se deparar com oficiais pouco ou nada interessados em combater e mais em ganhar com a guerra.

No entanto, e obviamente, Nate lá consegue educar esse batalhão e apresenta-se na famosa batalha de Antietam e é a descrição dessa terrível batalha, onde pereceram num só dia mais de 23.000 homens, que Cornwell se ocupa durante dezenas de páginas, descrevendo-a de uma forma viva e intensa, descrevendo situações brutais e as condições onde milhares de homens combateram a pé e em muitos casos corpo a corpo.

Pessoalmente o livro valeu por isso. Já tinha ouvido falar dessa batalha que tem algumas cenas horripilantes no filme de 1989, Glory (http://www.youtube.com/watch?v=4Ix61Fn_3Es), e de facto são cenas brutais, mas Cornwell intensifica, ou se quisermos, dá-nos uma ideia clara da natureza e da realidade dessa batalha e, enfim, deixa-nos a pensar na imensa coragem daqueles homens.

Lamento que Bernard Cornwell não tenha continuado esta saga. Ele afirma que tem planos para continuar, No entanto este 4º volume já tem vários anos e não me parece que a vá continuar nos próximos tempos. Em todo o caso vale a pena ler estes 4 volumes.

Achei este brilhante documentário que retracta muito bem a brutalidade desta batalha: http://www.youtube.com/watch?v=NG0Jg3sulls

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Anjos Morrem das Nossas Feridas (Os) – Yasmina Khadra

Um livro maravilhoso!

Cada livro que leio de Yasmina é, para mim, um bálsamo, uma bênção de puro deleite literário, um fascínio face à arte que é a sua escrita, um eterno gozo que me faz ler, saborear o livro muito devagar, pois eu não o leio, aprecio, degusto frase a frase, letra a letra, como, presentemente, não o faço com mais nenhum autor.

Neste seu mais recente romance, Yasmina situa, conforme aconteceu com os outros que li, na sua Argélia e a acção, inicia-se nos primeiros anos da década de 20 do século XX logo após o final da Grande Guerra. Logo aí, Yasmina aborda o tema dos antigos combatentes que, após regressarem das trincheiras, se depararam com um país que não lhes dá mérito pelo que passaram e, mais grave, pelos traumas que trazem e que os reduzem a sombras dos homens que antes foram.

No entanto, é o percurso obstinado de um jovem que marca toda a narrativa. Turambo, nome de guerra, criança com pai ausente, que se vê, á força dos seus punhos, envolvido no mundo do boxe que o catapulta para a fama e o que, de melhor e pior, daí advém.

No entanto Turambo, no alto das suas virtudes, é um ser humano com altos princípios morais e são esses princípios que estão por detrás da sua queda. É a sua história que, pela sua voz, que nos propomos a ler, e a viagem é belíssima.

E é impossível ficar-se impassível pela narrativa. Indepentemente das condições políticas, religiosas e raciais que Yasmina nos vai situando, na minha opinião, o que marca o livro são as fortíssimas frases que nos assaltam quase folha a folha. São imensas citações que poderia aqui colocar, frases reflectivas que mexem com o nosso ser, que nos fazem meditar na vida e no que aqui andamos a fazer.

Uma narrativa intensa, maravilhosamente trabalhada e que é, para já, a melhor deste ano.