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sexta-feira, 11 de abril de 2014
segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014
Há autores
que, se calhar de uma forma inconsciente, possuímos um
sentimento de antipatia derivado de várias factos ocorridos ao longo do tempo,
quer sejam entrevistas, posições políticas, de opinião, etc.
Eu, já o admiti em diversos locais, há um autor cuja minha antipatia
é imensa, só de olhar para o homem vem-me logo o fel à boca tal a embirração
que sinto por tal ser. Aquela postura abestalhada fumante lunático, parecendo,
em cada entrevista que lhe vi ou li, estar a gozar com os leitores, a sua
postura face aos outros autores que, aqui e ali, vai menorizando como se fosse
ele o único escritor de qualidade à face da Terra, é algo que acho asqueroso e,
obviamente, isso tem repercussões na minha postura face aos livros desse autor,
pois e embora já o tenha tentado por diversas vezes, não consigo ler qualquer
obra sua, aliás, nem consigo chegar à página 100.
Nestes últimos dias tentei pela enésima vez.
Peguei o “Cú de Judas” do execrável António Lobo Antunes e
não consegui avançar para além da página 50 tal a insanidade de texto. Perdoem-me
a imensa legião de fãs do autor, mas acho o homem um péssimo ser humano. Não o
conheço de lado nenhum, apenas faço esta constatação pelas entrevistas que já
li e vi e pela sua postura face aos outros autores. Aliás, foi o único escritor
que um dia vi dizer que tal livro de tal escritor era lixo. Mas a sua escrita
densa, feita de descrições vagas, de analogias figurativas e labirínticas que
nos enviam de um lado para o outro, por vezes sem grande coerência, é algo que
me aborrece.
No entanto, admito, a minha postura é mais pela embirração que
sinto pelo homem.
Até arrepia!
sexta-feira, 31 de janeiro de 2014
Águia e os Lobos (A) – Simon Scarrow
Neste 4º volume das aventuras de Macro e Cato, série que
Simon Scarrow dedica ao império romano na sua Série Águia, a localização da acção
situasse nas ilhas britânicas no ano 44 d.C. quando, no segundo verão da
campanha para a conquista da Britânia, Cato e Macro vêm-se no papel de comandantes
de duas coortes de guerreiros locais aliados de Roma, os Atrébates.
O imperador Cláudio havia nomeado no anterior o General Aulo
Pláucio que, com o apoio do rei dos Atrébates, Vérica, conquistasse e
pacificasse toda a ilha. Os seus vizinhos, os Catuvelauni comandados por
Carátaco, fazem obviamente oposição cerrada, originando daí uma série de
batalhas pela conquista da ilha que vão acabar em enormes combates corpo a
corpo e as correspondentes chacinas.
De notar que quase todas as personagens são reais. Excluindo
Macro e Cato, o autor utiliza os personagens para desenhar a época e narrar os
primeiros anos da conquista da Britânia. O resultado são batalhas formidáveis de
uma violência inaudita.
Pessoalmente foi o melhor livro que li desta série. Tinha
lido os anteriores três e embora tenha gostado, sempre me pareceram um pouco
fracos, com situações muito forçadas. Não no aspecto da explanação da situação
histórica, mas sempre um pouco sem sal no aspecto da realidade quotidiana,
sobretudo na forma como Cato, com apenas 18 anos se desenvencilha de formidáveis
oponentes nas batalhas. Mas enfim, confesso que desta vez gostei imenso das
descrições e as narrativas das batalhas são bastantes reais, emocionantes e
brutais. As páginas finais são de uma impressionante violência, num ritmo
alucinante que nos tira o folego face às situações que surgem em catadupa.
Confesso que fiquei mais entusiasmado com em ler o 5º volume
do que com este, que há uns dois anos estava na “pilha”.
terça-feira, 28 de janeiro de 2014
Crónicas do Sul – Luis Sepúlveda
É sempre um enorme prazer voltar a ler autores
que admiramos, não só pela sua qualidade literária como também pelo papel que
desempenham em expor ao mundo situações ou estados da sua nação.
Luis Sepúlveda é um desses autores.
Chileno, exilado há muitos anos em Espanha, não
hesita em apontar o dedo às mais variadas situações que grassam no Chile,
sobretudo nos terríveis anos em que Pinochet governou.
“Crónicas do Sul”, é um conjunto de crónicas escritos
em 2005 e 2006, em que Supúlveda se debruça sobre uma enorme galeria de
acontecimentos que marcaram os anos de horror de Pinochet.
Exercício de liberdade, grito de revolta, uma
espécie de autor incómodo para os neoliberais de todo o mundo, o autor vai
dissertando sobre vários episódios do seu Chile e também um pouco do resto do
mundo. É inegável o seu asco ao neoliberalismo que demonstra, com exemplos
claros, funcionar sempre contra o povo em prol das classes mais ricas.
E, mesmo sabendo que a intenção de Sepúlveda é
o de narrar e expor as vis políticas e accões de Pinochet e dos seus compinchas,
é arrepiante ver na situações descritas exemplos do que está a acontecer em
Portugal.
Veja-se este exemplo: “Enquanto as bases da
economia, da cultura e da história social do Chile eram destruídas através de
privatizações dos bens nacionais que incluíram a saúde e a educação, qualquer
tentativa de oposição era esmagada por meio de assassínios, tortura e desaparecimentos ou exílio. Isto é tudo o que Pinochet deixa, um país falido e
sem futuro, um país onde os direitos elementares , como o contrato de trabalho,
a informação, a saúde publica e a educação, são quimeras mais difíceis de
alcançar.” Ou ainda “… que aceitaram sem contestar as tropelias impostas pelo
Fundo Monetário Internacional (FMI) e pelo Banco Mundial, interessados em fazer
parte dessa «realidade económica global» que apenas consegue miséria e êxodos
maciços de população”
Pois é, a política neoliberal segue um
pensamento ideológico bem organizado que opera sempre da mesma forma em
beneficio da alta finança e que traz a reboque a corrupção e o trafego de
influências e, em muitos casos, como no Chile, governos ditatoriais ao serviço
desses interesses.
Isto não vos soa a algo familiar?
sexta-feira, 24 de janeiro de 2014
Há casos que me fascinam!
Alguns pelo mistério que encerram, outros pelos factos que
estão por detrás desses casos, as atitudes que levaram ao surgimento desses
casos, aos motivos.
Um desses é o caso do Assassino do Aqueduto, um caso
ocorrido em Lisboa na década de 30 do século XIX. Nessa altura várias pessoas
foram assassinadas por um misterioso que, no escuro do Aqueduto das Águas
Livres, se aproximava sorrateiramente por detrás e, depois as assaltar e para
ninguém o denunciar, as atirava de cima do Aqueduto. Eram 65 metros em queda livre e,
de manhã, aparecia o corpo estilhaçado no Vale de Alcântara, hoje zona da Av. Ceuta.
Muito se falou na época sobre esse desconhecido que, embora
não oficialmente, fez mais de setenta vítimas.
A agitação causada na cidade foi tão grande, que as
autoridades encerraram o Aqueduto o que obrigou o assassino a mudar de esquema,
tendo sido finalmente apanhado por outros crimes e condenado à morte em 1841, pondo fim à sua enorme
carreira criminosa. Para além dos crimes do Aqueduto, o que torna este caso
mais relevante é o facto do criminoso, Diogo Alves, ter sido o último condenado
à morte em Portugal e com o pormenor da sua cabeça ter sido
conservada em formol na Faculdade de Medicina de Lisboa, onde se encontra até
hoje.
Eis que agora surge uma obra que me cativou e que
se predispõe a narrar, sobre a forma de romance histórico, este caso que
aterrorizou Lisboa: “O Assassino do Aqueduto”, escrito por Anabela Natário, sob
a chancela da Esfera dos Livros.
sexta-feira, 10 de janeiro de 2014
Se Isto é um Homem – Primo Levi
Eu:
“Terrível. Depois de ter lido a Segunda Guerra Mundial de Martin Gilbert, quis
reler "Se Isto é Um Homem" de Primo Levi, autor que esteve em Auschwitz desde
Janeiro de 1944 até Janeiro de 1945, altura em que os russos chegam ao campo.”
O
Outro: “Já ouvi falar desse livro. É mais um relato de um prisioneiro nos
campos de extermínio nazi”
Eu:
“Mas não é MAIS UM! Não é justo considera-lo dessa forma, pois o livro é, acima
de tudo, ou pelo menos é o que sobressai desde as primeiras páginas, uma
reflexão sobre a condição humana”.
O
Outro: “Ok, mas o livro não narra o dia-a-dia dos prisioneiros durante esse
ano?”
Eu:
“Sim, mas é mais profundo. Escrito logo depois de ter sido libertado, Levi
narra a forma como foi apanhado e extraditado para Auschwitz que, na altura,
era um nome como qualquer outro, sem qualquer tipo de conotação. Com ele ia
milhares de pessoas que, um ano depois, apenas duas dezenas estavam vivas. Logo
à chegada ele narra a selecção e o desaparecimento das mulheres, crianças e
doentes.”
O
Outro: “Mas na altura eles sabiam para onde iam essas mulheres e crianças?”
Eu:
“Não… quer dizer, logo desconfiaram, embora e isso é algo intrínseco à condição
humana, quiseram acreditar que essas mulheres e crianças estavam bem.”
O
Outro: “sim... continua…”
Eu:
“Bom, logo aí ele descreve os primeiros aviltamentos. Todos se despiam e
ficavam nus à espera de coisa nenhuma. E a partir desse dia, era apenas fome,
maus tratos, trabalho violento e a sombra da morte que pairava constantemente”
O
Outro: “E como é o dia-a-dia desses prisioneiros?”
Eu:
“Como deves calcular, uma miséria humana. A luta pela sobrevivência aguçava o
engenho e ele descreve a forma como a pouca comida tinha cotação. Ou seja,
roubava-se e trocava-se vários instrumentos pelo pouco pão que tinham direito.
As doenças minavam o campo e, de vez em quando, lá vinha a selecção. É brutal a
forma como ele explica o processo. Bastava o simples gesto do oficial das SS
para que centenas de homens fossem parar ao gás, e eles sabiam que era esse o
seu derradeiro destino.”
O
Outro: “Sim, deve ser impressionante. Sobretudo tentar perceber como foi
possível homens terem sujeitado outros homens a tão cruel e vil destino”
Eu:
“Exacto e essa questão está latente em toda a obra. Levi questiona-se
constantemente sobre isso, sobre os aspectos da alma humana, até que ponto um
homem deixa de ser um homem diante de outros homens. O mal absoluto sem piedade
pela condição humana. É assustador ver que o ser humano pode perder facilmente
a sua consciência, tornando-se numa besta maléfica. E curioso perceber que, ao
longo de toda a obra, ele vai colando alguns dos episódios, ou efectuando
analogias, ao Inferno de Dante”
O
Outro: “De facto. A História da Humanidade está cheia de episódios macabros em
que a condição humana é esquecida, onde a natureza humana acaba por se mostrar
como é violenta e sádica”
Eu:
“E curioso constatar que, depois de ele escrever o livro, o mesmo foi recusado
pelas grandes editoras italianas.
O
Outro: “Estás a brincar!”
Eu:
“Não, a sério! Devia ser ainda resquícios da ideologia fascista que inundou a
Itália e que levou o país a unir-se aos nazis na Guerra Mundial. Mas o certo é
que o seu relato pungente, objectivo e sereno sobre o dia-a-dia em Auschwitz,
foi considerado sem interesse.
O
Outro: “Poderá um homem sobreviver depois de sobreviver a Auschwitz?”
Eu:
“Bela questão, pessoalmente acho que não!”
Vós
que viveis tranquilos
Nas
vossas casas aquecidas,
Vós
que encontrais regressando à noite
Comida
quente e rostos amigos:
Considerai
se isto é um Homem
Quem
trabalha na lama
Quem
não conhece paz
Quem
luta por meio pão
Quem
morre por um sim ou por um não.
Considerai
se isto é uma mulher,
Sem
cabelos e sem nome
Sem
mais força para recordar
Vazios
olhos e frio o regaço
Como
uma rã de inverno.
Meditai
que isto aconteceu.
terça-feira, 7 de janeiro de 2014
Homem de Constantinopla (O) – José Rodrigues dos Santos
Já aqui referi que gosto de
ler os livros de José Rodrigues dos Santos. Longe, muito longe, de serem
grandes obras literárias, decerto jamais irá vencer ou perto disso o Nobel da
Literatura, o certo é que os seus livros me entretém e têm a capacidade de me
despertarem a atenção para outros assuntos que, por diversas vezes, me têm
levado a descobrir outros autores e outras obras muito boas.
A presente obra que, vá lá,
direi o primeiro volume de dois em que o autor se propõe a narrar a vida de
Kaloust Gulbenkian, é pois mais um dessas obras de puro entretenimento, um
pouco num estilo cinematográfico, que explana a narrativa de uma forma muito
simples e com capítulos muito curtos de uma forma de takes cinematográficos e
que nos vai traçando o percurso de Gulbenkian desde quase o seu nascimento até
1913, altura em que se inicia a Primeira Grande Guerra.
No entanto e de todos os
livros que já li do autor, e posso dizer que já os li efectivamente todos, este
é o mais fraco em todos os aspectos.
A narrativa é muito fraca e
algo incoerente. Parece que o autor escreveu o livro imaginando um roteiro de
um filme. As situações surgem um pouco desligadas e há outras, que a meu ver
mereciam uma maior profundidade, que são narradas de uma forma muito simplista,
como e por exemplo a perseguição turca aos arménios. Depois, há situações que
são explicadas ou resolvidas de uma forma muito tosca. Ou seja, o autor aborda
de facto essa e outras questões mas pouco ou nada a explica, deixando-nos a
ideia de um trajecto feito de facilidade quando, sei, não foi bem isso que
sucedeu. Para além disso, não gostei igualmente da forma que o autor encontrou
para começar a história nem do encadeamento dos episódios da sua vida. Obviamente
que sei que se trata de um romance, mas, a meu ver, o autor tem obrigação de
fazer um trabalho mais apurado, nem que seja apenas e só devido á sua formação
académica.
Tenho já o segundo volume
para ler mas, face à enormidade volumosa da obra e ao tempo que demorou a
escrever, não acredito que melhore, pois esta é uma obra escrita algo a “martelo”
e deve ser mais do mesmo. No entanto nem tudo é mau. Entretém e dá-nos um
aspecto, frágil é certo, da vida de Gulbenkian e da forma como granjeou fortuna
e fama. Vou ler decerto.