Somerset Maugham é um dos meus
autores preferidos e o seu nome significa para mim genialidade em diversos
aspectos, não apenas como “contador” de histórias, como o considero um génio na
arte de conduzir um texto ficcional, ou seja, considero-o um dos Grandes
escritores de todos os tempos.
“Servidão Humana” é uma obra-prima
da literatura, um portento. Uma daquelas obras que considero obrigatória a
qualquer leitor, uma obra que atinge patamares literários ao nível de um “Guerra
e Paz”, “D.Quixote”, “Crime e Castigo”, entre outras preciosidades literárias.
Hoje em dia o nome de Somerset Maugham é muito pouco divulgado, e eu lamento
muito por isso, no entanto, há 40 anos atrás, Somerset Maugham era considerado
um clássico no mesmo patamar de Heminghway, Tolstoi, Victor Hugo, Dostoievsky
ou Dickens, porém e actualmente, vivemos numa Era de profundo e desalmado
consumismo, onde qualquer um publica e onde a Qualidade parece não contar
muito, pois e prova disso, basta ver os autores best-sellers e os títulos que
mais vendem, a grande maioria que narram histórias fúteis, vazias de conteúdo e
que têm apenas como única e exclusiva intenção entreter. Mas enfim, é apenas um
desabafo e quem sou eu para criticar quem escreve esses livros e quem os
consome.
Mas Somerset Maugham foi efectivamente
um escritor genial. Nascido em 1874, pertence à velha escolha de Conan Doyle,
Louis Stevenson, Walter Scott, Joseph Conrad, Bram Stoker, George Shaw, Oscar
Wilde, Dostoievsky, Tolstoi, entre outros, um século de ouro da literatura e
que legou dezenas de escritores e escritoras simplesmente geniais.
Este “Véu Pintado”, editado em
1925, é mais uma obra que entra na galeria de grandes livros que tive a
felicidade de ler, pese embora, não atinga o brilhantismo de “Servidão Humana”.
Conforme era típico em Somerset
Maugham, neste livro o autor efectua uma análise da condição humana numa perpectiva
mais mundana, ou seja, voltamos a ter o homem bom que é enganado por uma mulher
sem escrúpulos, fútil mas que não em culpa de ser como é, pois foi a educação
que teve que lhe moldaram o caracter, ou seja, é perceptível uma critica do
autor a convenções sociais do seu tempo, convenções que conhecemos por “vitorianas”
e que faziam com que as meninas de “boas” famílias, fossem educadas para casar
o melhor possível, vivendo num mundo de “glamour”. Depois temos o marido traído
Vs. o tratante que embraia a mulher que, por sua vez, se vê metida num
casamento de conveniência sem ponta de amor pelo marido e que vê no amante o
homem dos seus sonhos, acreditando no “conto do vigário” e que, mais tarde, ela
própria percebe que foi enganada. Lindo, não é?
Maugham, conforme era típico
dele, satiriza com a situação, dando-lhe um cunho trágico no desenlace final,
levando com que o marido traído empreenda uma vingança face à sua traiçoeira esposa
e fazendo, igualmente, com que ela perceba que foi enganada pelo amante,
acabando, finalmente, por perceber onde se encontra o amor.
Pode parecer confuso, mas
acreditem que não é. De leitura muito rápida face aos capítulos igualmente
rápidos, Maugham consegue-nos cativar e prender a uma história aparentemente
com pouco conteúdo mas que tem, na sua intrínseca beleza literária e na sua simplicidade
algo que nos leva a devorar página a página até ao epilogo que, ele também, tem
o condão de nos surpreender, pois ao longo do livro, não conseguimos imaginar,
aliás, vamos assistindo, a um lento processo de transformação da personagem
feminina que não nos deixa de surpreender no fim.
Não podendo afirmar que foi o
melhor título que li de Maugham, este “Véu Pintado” é um livro genial que nos
pinta um cenário da condição humana na sua mais pura essência e mostrando que
há sempre um amanhã e que qualquer ser humano, por mais desprezível que posso
ser, tem o direito à sua abjuração, nem que seja na sua consciência.