Quem
me conhece ou quem acompanha ou acompanhou este blog, sabe que detesto a
escrita de António Lobo Antunes assim como não tenho qualquer simpatia pela
pessoa em si devido ao facto de, era a minha opinião, acha-lo um tipo vaidoso,
arrogante, que não tem qualquer problema em catalogar outros autores como “merda”,
achando que ele sim, é o melhor escritor de todos os tempos.
Tempos
houve que tentei ler livros dele. Sinceramente nunca consegui chegar à página
100 de qualquer da sua obra, pois penso que os livros dele são muito confusos,
cheios de vozes que misturam o passado e o presente de uma forma ilógica, um
pouco como se o autor escrevesse ao “sabor do vento”, sem qualquer ideia na
cabeça. Ou seja, sempre considerei que Lobo Antunes goza com os leitores e
sempre o vi a rir a bandeiras despregadas ao ler e ouvir criticas tão
favoráveis de livros que são uma autêntica merda, até para ele.
Em
todo o caso uma pergunta se levanta: se não gostas do homem, porque empreendeste
a leitura deste livro?
Pois
bem, de facto não gosto da sua literatura mas há uma coisa que me atrai sempre,
que é perveber ou tentar perceber o autor por detrás das obras e o seu método
de escrita e foi por isso que resolvi ler esta livro de 10 entrevistas a
António Lobo Antunes efectuado pelo jornalista Celso Filipe.
Sinceramente
não desgostei e confesso que até a minha ideia sobre o autor mudou um pouco.
Primeiro,
constatei que ele de facto se julga o melhor escritor de todos os tempos e o
resto, é pouco mais que bosta (exceptuando alguns casos).
Depois
porque de facto percebi que ele escreve sem qualquer roteiro, aos repelões e de
acordo com as “vozes” que vai ouvindo e que o chamam para fazer os livros.
No entanto
descobri também um homem que nada tem de arrogante ou vaidoso, um homem muito
humilde e que acima de tudo ama a família e os amigos e que não se considera
uma celebridade. Nesta 10 entrevistas, pese embora se repita muito, sobretudo
nas lembranças da guerra cujo trauma é notório, Lobo Antunes revela um pouco o
seu método de escrita, um pouco porque ele própria afirma que não tem nenhum.
Escreve à mão, em blocos médicos e em letra miudinha e afirma carradas de vezes
que o segredo de um bom escritor é a correcção. Ou seja, escreve e corrige
tantas vezes que, por vezes, da página original só sobra uma palavra.
Depois
vai falando da mesma forma como escreve: ao sabor do vento. Tanto fala de
guerra como de políticos, passando pelo futebol e acabando nos amigos, sempre
cheio de referências a frases de grandes escritores e poetas, aliás, Lobo
Antunes demonstra uma enormíssima cultura.
Em
todo o caso fiquei com pena que o autor não tivesse coragem de ter ido um pouco
mais além. Ou seja, Lobo Antunes cataloga grandes autores portugueses como, por
exemplo, Eça de Queirós ou Virgílio Ferreira, como mediocres , no entanto nunca
explora essas afirmações e sobretudo nunca explora essa “inimizade” que existia
em entre ele e Saramago e da possível inveja que Lobo Antunes sentiu aquando do
Nobel de Saramago. Só um parágrafo sobre o Nobel para ele dizer que Saramago
não sabia escrever e que era sim uma excelente máquina de marketing.
Mas
enfim, desmestificou um pouco a imagem que eu tinha de António Lobo Antunes sem
que, no entanto, ficasse com vontade de ler algum dos seus livros.
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