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sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

Que Faria Eu Se Estivesse No Meu Lugar (O)? – Celso Filipe



Quem me conhece ou quem acompanha ou acompanhou este blog, sabe que detesto a escrita de António Lobo Antunes assim como não tenho qualquer simpatia pela pessoa em si devido ao facto de, era a minha opinião, acha-lo um tipo vaidoso, arrogante, que não tem qualquer problema em catalogar outros autores como “merda”, achando que ele sim, é o melhor escritor de todos os tempos.

Tempos houve que tentei ler livros dele. Sinceramente nunca consegui chegar à página 100 de qualquer da sua obra, pois penso que os livros dele são muito confusos, cheios de vozes que misturam o passado e o presente de uma forma ilógica, um pouco como se o autor escrevesse ao “sabor do vento”, sem qualquer ideia na cabeça. Ou seja, sempre considerei que Lobo Antunes goza com os leitores e sempre o vi a rir a bandeiras despregadas ao ler e ouvir criticas tão favoráveis de livros que são uma autêntica merda, até para ele.

Em todo o caso uma pergunta se levanta: se não gostas do homem, porque empreendeste a leitura deste livro?

Pois bem, de facto não gosto da sua literatura mas há uma coisa que me atrai sempre, que é perveber ou tentar perceber o autor por detrás das obras e o seu método de escrita e foi por isso que resolvi ler esta livro de 10 entrevistas a António Lobo Antunes efectuado pelo jornalista Celso Filipe.

Sinceramente não desgostei e confesso que até a minha ideia sobre o autor mudou um pouco.

Primeiro, constatei que ele de facto se julga o melhor escritor de todos os tempos e o resto, é pouco mais que bosta (exceptuando alguns casos).

Depois porque de facto percebi que ele escreve sem qualquer roteiro, aos repelões e de acordo com as “vozes” que vai ouvindo e que o chamam para fazer os livros.

No entanto descobri também um homem que nada tem de arrogante ou vaidoso, um homem muito humilde e que acima de tudo ama a família e os amigos e que não se considera uma celebridade. Nesta 10 entrevistas, pese embora se repita muito, sobretudo nas lembranças da guerra cujo trauma é notório, Lobo Antunes revela um pouco o seu método de escrita, um pouco porque ele própria afirma que não tem nenhum. Escreve à mão, em blocos médicos e em letra miudinha e afirma carradas de vezes que o segredo de um bom escritor é a correcção. Ou seja, escreve e corrige tantas vezes que, por vezes, da página original só sobra uma palavra.

Depois vai falando da mesma forma como escreve: ao sabor do vento. Tanto fala de guerra como de políticos, passando pelo futebol e acabando nos amigos, sempre cheio de referências a frases de grandes escritores e poetas, aliás, Lobo Antunes demonstra uma enormíssima cultura.

Em todo o caso fiquei com pena que o autor não tivesse coragem de ter ido um pouco mais além. Ou seja, Lobo Antunes cataloga grandes autores portugueses como, por exemplo, Eça de Queirós ou Virgílio Ferreira, como mediocres , no entanto nunca explora essas afirmações e sobretudo nunca explora essa “inimizade” que existia em entre ele e Saramago e da possível inveja que Lobo Antunes sentiu aquando do Nobel de Saramago. Só um parágrafo sobre o Nobel para ele dizer que Saramago não sabia escrever e que era sim uma excelente máquina de marketing.

Mas enfim, desmestificou um pouco a imagem que eu tinha de António Lobo Antunes sem que, no entanto, ficasse com vontade de ler algum dos seus livros.

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