Antes
de mais há que definir o que são clássicos da literatura.
Segundo
Italino Calvino, clássicos são aqueles livros dos quais, em geral, se ouve
dizer: “Estou relendo” e nunca, “estou lendo…”, ou então, "Um clássico é um livro que nunca acaba de
dizer o que tem para dizer".
Pois
bem, definições à parte, a grande maioria obviamente subjectivas, tenho para
mim que ler um clássico da literatura é, sobretudo, entrar no contexto
histórico da obra, no seio do seu escritor, conhecer ou percepcionar os motivos
que o levaram a escrever aquela obra, as metáforas ou analogias que encerram e
o que o escritor quis passar para o leitor.
Por
vezes dou por mim a pensar porque é que, hoje em dia, tão poucos lêem obras
clássicas? Posso falar com diversas pessoas que afirmam, e acredito que o
façam, ler 60, 70, 80 livros por ano, para depressa constatar que geralmente
nunca leram Dostoievski, Tolstoi, Cervantes, Victor Hugo, Dickens, Amado, Duras,
Kafka, etc. Ao questionar do porquê a resposta é indubitavelmente a mesma “ah e tal não me convence, prefiro ler
romances policiais ou autores actuais”.
Vão-me
desculpar, mas, na minha opinião, o facto de nunca terem lido ou lido raramente
uma obra clássica é porque, simplesmente, a grande maioria das pessoas não sabe
ler!!!
O
principal motivo para que exista tanta resistência para se ler um clássico, é
porque, simplesmente, a grande maioria dos leitores não sabe ler. Simplesmente
isso!
Não
querendo ofender quaisquer susceptibilidades, pois nem me outorgo no direito de
o fazer, mas constato que a grande maioria das pessoas que se dizem leitores, e
que efectivamente até lêem muitos livros, não entendem, na maioria dos casos, a
mensagem dos autores. Lêem um pouco na diagonal sem pensar que se calhar o
escritor tinha um objectivo por detrás daquela “simples” história que estão a
ler. E isso é perfeitamente perceptível quando nos deparamos com opiniões sobre
certas obras em que mencionam o essencial sem sequer aludir ao fudamental, e
não é porque se esqueceram ou porque não lhes apetece, é porque, simplesmente,
nem se deram conta que havia uma outra mensagem.
E,
na minha opinião, um clássico, encerra precisamente esse facto. Mais do que o
essencial, o autor pretendeu abordar algo mais profundo, a maioria dos casos
sob a capa de metáforas ou analogias, mas que, dado o contexto histórico do seu
tempo, só assim conseguiu fazer passar o livro para o grande público. Depois
temos os clássicos que abordam factos históricos. Recordo-me, por exemplo, de
Guerra e Paz de Tolstoi que é um manancial histórico sobre a sociedade russa e
francesa do século XIX e sobretudo sobre as guerras napoleónicas. Podem sempre
afirmar que isso não interessa nada… pois, então vão-me desculpar, NÃO SÃO
LEITORES se assim pensam.
Dou
outro exemplo: Metamorfose de Kafka. A maioria das pessoas que leram o livro
que opinião ficam do mesmo? Geralmente do personagem que um dia acorda
transformado num insecto monstruoso e que depois tudo é muito fafkaniano, tudo
muito estranho e ponto final. Poucos são aqueles que se debruçam sobre a obra e
procuram entender qual o objectivo de Kafka quando erigiu essa obra monumental.
Tentem perceber a época e o contexto social, cultural, político e económico do
próprio autor… eu dou uma dica: Em Metamorfose Kafka faz um jogo de paralelismos
com a realidade que ele própria vivenciava. Ele traça praticamente uma
caricatura de todos os seus familiares nesta obra… e mais não digo, pesquisem!
Independentemente
do gosto de cada um, o que eu respeito, meus amigos e amigas, não virem as
costas aos grandes clássicos da literatura. Diante de vocês estão obras
fenomenais que viraram clássicos precisamente pela sua Qualidade. Não digo que
os livros actualmente não têm valor, não. Decerto que há muitos livros actuais
que no futuro serão clássicos, mas os grandes autores clássicos sabiam
efectivamente escrever. Escreviam numa escala de valores bem definidas e que
nos proporcionam um conhecimento profundo do passado da Humanidade e acreditem
numa coisa, conhecer o passado é conhecer o futuro, pois a História é cíclica e
há livros que abordam questões que são actuais hoje em dia e serão no futuro.
Ler
clássicos é beber directamente na fonte, é absorver cultura. Os clássicos
encerram vários assuntos que nos dão uma bagagem intelectual brutal, pois não é
só dizer que lemos X ou Y, mas e sobretudo ter consciência do que lemos, o que
o autor estava a pensar, o seu contexto social e histórico, pois mais do que
uma simples história, o autor clássico pretendeu transmitir o que o rodeava, o
seu pensamento e a sociedade onde estava inserido.
Pessoalmente
sou um amante da cultura e dos clássicos da literatura. Quando vejo aquelas
listas na internet de livros que todos deviam ter lido, geralmente são às
dezenas os livros que li e outros que, embora ainda não o tenha feito, mas
estão na minha agenda. Obviamente que não leio sempre clássicos, por vezes
passam-se largas temporadas que não o faço, mas desde sempre tenho uma regra,
que é ler uma dezena de clássicos por ano. Nem sempre cumpro isso, mas posso
afirmar que já li muitas dezenas de clássicos e sobretudo me debrucei sobre o
seu conteúdo e que o entendi. Ou seja, o que pretendo também passar com este
post é que não lêem por ler. Ok, ler é também entretenimento e eu concordo com
isso, mas, tentem perceber o que está por detrás da história, o que o autor
quis transmitir, tentem ler nas entrelinhas, ou seja, saibam pegar num livro e
absorver o seu conteúdo, pois, acreditem, irão ficar mais ricos quando o
fizerem.
Quando
acabarem de ler uma obra, façam uma interiorização pessoal da obra. Pesquisem
sobre a época e sobre o contexto social, cultural e económico do autor. Na
conjugação de todos esses factores, irão perceber o objectivo do escritor, pelo
menos na sua fase inicial. Depois, há medida que percorrerem os meandros da
obra, irão encontrar respostas a várias questões e perceber o quão actual essa
obra é e constatam, com assombro, que o livro pode ter sido escrito há 100,
150, 200 anos, mas que podia ter sido escrito há meia dúzia de meses atrás,
pois ali encerra a História do Ser Humano.
Não
ignorem os clássicos. Eles têm muito a ensinar!
Muito pertinente este post. A leitura de clássicos normalmente é feita por quem quer obter algo mais da leitura do que apenas lazer. Por norma tratam-se de livros extensos ou de leitura menos fluida. Sempre li clássicos desde nova, mesmo sem o saber e acredito que nessa altura não tinha maturidade para perceber as críticas e as metáforas dessas obras, até porque nunca tive ninguém com quem discutir literatura. Acabei por adequar as minhas leituras às leituras dos meus amigos até conhecer blogs como este que nos permitem alargar os nossos horizontes de leitura.
ResponderEliminarOlá Landa!
ResponderEliminarUm dos benefícios da internet, para nós leitores, é poder rapidamente navegar por diversas opiniões sobre qualquer livro e até mesmo, na grande maioria, em entrevistas aos seus autores e até resenções apuradíssimas.
O que é que eu pretendo dizer com isto?
Antes de pegarmos num livro, eu faço-o e aconselho qualquer pessoa a fazê-lo também, procuro artigos dos autores desses livros, entrevistas, sei lá, faço sempre uma breve análise a quem escreveu determinado livro. Obviamente isso é impossível com obras clássicas do século XIX para trás, mas é perfeitamente possível, hoje em dia, ler artigos de Hemingway, Saramago, Cormac McCarthy, sei lá, autores do século XX. Desta forma, mesmo que seja de uma forma exígua, conseguimos sempre ler nas entrelinhas alguns dos objectivos do escritor. Depois é sempre necessário perceber o contexto e a sociedade do autor.
Por exemplo Kafka. Se analisarmos um pouco da sociedade de Kafka e a sua vida, facilmente entendemos o objectivo da sua obra assim como sucede com todos os escritores, pois todos eles escreviam para abordar o meio onde viviam e o que sentiam. E isso aplica-se a Kafka, Dostoevski, Tolstoi, Garcia Marquez, Vitor Hugo, Dickens, etc.
O que eu penso é que as pessoas não efectuam qualquer tipo de análise e poem-se a ler obras do século XIX com a mentalidade do século XXI e, dessa forma, é totalmente impossível, percepcionar a intenção do escritor e o fulcro dessas obras.