Há
já algum tempo que tinha curiosidade em ler este livro e, sobretudo, em ler
algum livro de Michel Houellebecq, um autor que é uma espécie de “enfant terrible” da literatura francesa,
mas que tem visto muitas das suas obras premiadas com diversos prémios.
Ao
ler este “Submissão”, entendi esse epíteto de “enfant terrible”, pois é notório a intenção de Houellebecq em
provocar, uma espécie de ser politicamente incorrecto, estando-se completamente
nas tintas para a opinião pública. O que ele pretende é abanar convicções,
apontando claramente o dedo à sua sociedade.
Logo
à partida a sua linguagem é crua, sem grandes floreados linguísticos ou
literários, Houellebecq chega a usar vocábulos vernáculos, sobretudo de cariz
sexual. Nesse ponto, é clara a intenção do autor em chocar, no entanto o que
ele faz é simplesmente desenhar retractos do dia-a-dia de qualquer ser humano
que não envereda por colocar máscaras sociais, logo e utilizando essa
dialéctica, é normal que muitos leitores se identifiquem, nem que seja em
segredo, com as suas personagens e com os retractos que ele vai pintando.
Dessa
forma o livro torna-se, acima de tudo, divertido, face à constante provocação
do autor que, por diversas vezes, parece que nos está a dizer: “sim, é de si
que estou a falar”.
Neste
título concreto, Houellebecq idealiza todo um contexto provável em que o
partido político Fraternidade Muçulmana conquista o poder em França. O ano é de
2022 e, de repente, a sociedade francesa, por sua inteira culpa, vê o islão açambarcar
o seu modo de vida e alterar tudo, tornando a França num país islâmico onde,
obviamente, a lei islâmica terá de ser respeitada.
Agora
imaginem o que é um país católico, no meio da Europa, tornar-se, de repente
islâmico?
Só
lendo!
oda esta perspectiva é-nos narrada por um
professor universitário, já quarentão, que vai saltando de casos amorosos em
casos amorosos, quase todos com ex-alunas e prostitutas, e que nos vai narrando
toda essa transformação.
Achei
o livro muito interessante, sobretudo devido ao facto de existir diversos
diálogos onde é efectuada reflexões sobre os valores da liberdade e da
democracia e de como a religião, desde sempre, tem o condão de influenciar essa
liberdade, sufocando-a e, na maioria dos casos, matando-a.
Livro
que antecipa um cenário muito provável, se calhar mais provável do que a
maioria das pessoas julga, julgo que Houellebecq poderia e deveria ter feito
muito melhor e irei tentar explicar porquê.
A
ideia é boa, bem como e como já referi, as várias explanações filosóficas e políticas
sobre a importância da liberdade e da democracia, no entanto desde as primeiras
páginas a sua principal personagem nunca me conseguiu cativar, quiçá mesmo,
teve o condão de me criar até repulsa. Sendo um professor universitário, sempre
esperei que a sua cultura fosse mais elevada do que a que vai demonstrando. Nesses
diálogos, a atitude de François é quase sempre apática, parecendo sempre estar
mais preocupado e virado para a sua satisfação sexual do que propriamente com o
que o rodeia. A viagem que ele faz, sinceramente, não a entendi bem nem os
cenários que ele vai observando. Francamente fiquei sem perceber do porquê
dessa viagem e o posterior regresso a Paris. Depois são as constantes referências
literárias, que admito ser interessantes, mas que não levam a lado nenhum, ou
seja, fora de contexto, sem grande sentido, bem como com pouco sentido as
insistentes alusões a Huysmans.
Sendo
efectivamente um bom livro, um daqueles livros desafiantes que decerto não irá
ser do agrado de leitores soft, sempre me pareceu que Houellebecq poderia, e
tinha perfeitamente campo para isso, desenvolver mais, edificando provavelmente
um romance épico mas que, como ficou, peca muito por essas falhas que apontei e
que se torna um pouco decepcionante.
Ou
seja, gostei mas não adorei.
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