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quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

Unfriended: Dark Web


Pese embora seja uma amante do cinema, confesso até que tenho dificuldades em dizer se gosto mais de livros ou de filmes, mas criei o blog para divagar sobre alguns livros que leio, não recensões, mas mais divagações sobre as minhas considerações literárias, porém resolvi abrir um parêntese, mais de dez anos depois de ter criado o blog, para iniciar um novo capítulo precisamente abordar vários dos filmes que vejo.

Não tenho qualquer pretensão de efectuar grandes considerações, mas sim abordar o que vejo e o que achei, ou seja, se gostei ou não, se me marcou, se considero o assunto importante, sei lá, sobre o que me apetecer.

É o caso do filme que inicia esta rubrica que vou chamar “Cinema”.
Unfriended: Dark Web

O filme é considerado de terror, tema que, confesso, é o meu preferido, mas o que me fez ver o filme é o interesse que o Lado Negro da Internet me proporciona.

Tenho lido que a Internet é como um iceberg, ou seja, o que é visível na internet corresponde a 20% os outros 80% está no lado negro, ou seja, o que se passa nesses 80% quando se sabe que páginas como a dos Anonymous, o  Reddit's, o surgimento da Bitcoin, fóruns de hackers, vendas de drogas ilícitas, enfim, um universo gigantesco e misterioso. E isso é algo que me foi despertando algum fascínio, pois já percebi que muitos dos crimes cibernéticos que por vezes ouvimos falar, nascem nesse lado negro.

O filme aborda essa temática e foi isso que me despertou a atenção.

De uma forma muito concisa, este filme norte-americano de 2018, realizado por Stephen Susco, é uma espécie de continuação de um outro de 2014 e segue um grupo de amigos que, em casa, se ligam uns aos outros através de várias redes sociais.

De início o filme é um pouco confuso e algo parvo, com aquelas piadas tipicamente adolescentes, mas começamos a perceber que o principal protagonista começa a abrir ficheiros no seu computador que lhe mostra uns filmes de raparigas a serem raptadas. Ou seja, ele admite que achou o computador em questão e que achou estranho que o disco de 1TB estivesse praticamente cheio. Abrindo essa pasta, dá com uma série interminável de arquivos obscuros e, mais, uma aplicação que o convida a entrar num programa que lhe permite a entrada no lado Negro da Net, uma espécie de vírus.

Ele resolve partilhar a sua tela com os amigos, e todos eles começam a perceber que estão a ser observados por alguém que começa a enviar mensagens afirmando que o computador em questão é dele e que o quer devolvido, se não… assassina a namorada no protagonista.

A partir daí um imenso clima de suspense se instala e o terror acontece.
Não vou afirmar que o filme é excelente, não é, longe disso, mas aborda uma temática muito interessante e demonstra que brincar com o fogo é extremamente perigoso e pode acarretar danos muito graves. É uma espécie de aviso à navegação sobre algo que, estou certo, tem sido motivo de apuradas investigações de todas as entidades policiais do mundo, mas que arranja sempre subterfúgios e basta ver, por exemplo, a temática do roubo da correspondência privada ao Benfica que surge precisamente no anto da Dark Web com um hacker já identificado que tem ligações intimas à Football Leaks.
Um filme interessante!

terça-feira, 29 de janeiro de 2019

Breve e Assombrosa Vida de Oscar Wao (A)


Prémio Pulitzer em 2008, a Breve e Assombrosa vida de oscar Wao é o primeiro romance do autor dominicano Junot Diaz que efectua, acima de tudo um retrato da Rep. Dominicana assente sobretudo no período da ditadura de Trujillo.

Na minha opinião é aqui que reside o interesse do livro, pois confesso que conhecia Trujillo apenas pelo nome mas estava longe de imaginar o inferno e brutalidade que foi o período de ditadura (1930-1961), uma Era marcada por um culto á personagem tão habitual nas ditaduras indo ao ponto de rebatizar cidades com o seu nome e dando-se ao luxo de considerar como propriedade própria qualquer cidadão.

Extremamente narcisista, o seu ego era do tamanho do mundo e a repressão aos cidadãos era violentíssima e isso está muito bem descrito nesta obra de Junot Diaz.

É este o principal tema de interesse, pese embora a história assente na figura de Oscar, um rapaz gordo, feio, com poucos amigos e que não consegue despertar qualquer interesse de nenhuma mulher, sendo que isso se torna uma obsessão e um trauma e um assunto que serve para que sofra de bulling diariamente, pois as suas paixões são de “caixão à cova” e motivo de gozo por parte dos seus colegas e conhecidos.

Vagueando entre várias épocas temporais, o autor vai-nos descrevendo a história de Oscar e da sua família, história essa que está intimamente interligada com o regime desumano de Trujillo. Na prática este livro é mais uma exposição Histórica da Rep. Dominicana da ditadura e, simultaneamente, o autor vai tecendo várias críticas implícitas que nos levam a crer que a actual Rep. Dominicana ainda continua a sofrer com laivos de ditadura, ou seja, aqueles trinta anos deixaram uma mossa tão grande, que ainda hoje é visível e perceptivel sinais do regime de Trujillo.

A escrita de Junot Diaz é muito interessante e efectivamente consegue-nos prender numa narrativa sempre cheia de curiosos episódios, porém este não foi um livro que achasse como exepcional, tornando-se por vezes até enfadonho e curiosamente quando o autor se prendia na narração da vida, sem grande interesse, de Oscar Wao.

Em todo o caso, achei o livro muito interessante e digno de registo, até porque me despertou a curiosidade em ler mais sobre Trujillo e voltar a um autor que muito admiro e que Junot refere várias vezes, Vargas Llosa, aliás, aqui e ali é visível a influência de Llosa na escrita de Junot Diaz.


segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

O Homem do Castelo Alto - Philip K. Dick


Considerado, quase unanimemente, como um dos gurus da ficção científica distópica, ou seja, um misto de ficção científica e distopia, Philip K. Dick foi um autor controverso que escreveu dezenas de obras num tom provocador, criando, em quase todas elas, uma realidade alternativa e misturando factos científicos que, há data, eram únicos no contexto literário.
Pessoalmente era um autor que há muito tinha referenciado e este “O Homem do Castelo Alto” um livro, considerado por muitos como uma das suas maiores obras, que estava na minha lista e, honestamente, fiquei com um misto de sensações que dificilmente consigo exprimir.
Ou seja, não vou aqui dizer que adorei o livro, não, não adorei. No entanto também não desgostei e prova disso é que não desisti da sua leitura, empreendendo essa tarefa até ao fim, sendo que o seu epílogo me deixou com uma sensação de vazio por estar à espera de uma obra melhor.
Primeiro, a edição que possuo, conta um extenso ensaio de Nuno Rogeiro (é logo um terço do volume) sobre o autor e a sua obra. Dessa forma, situa-nos e consegue dar-nos uma perspetiva da obra geral do autor e mais importante, da sua intenção e densidade psicológica e social. Assim, compreendemos que o autor teve sempre um objectivo bem definido em cada obra escrita, em simultâneo, percebemos que a presente obra não é de todo a mais representativa do autor.
Em o “Homem do Castelo Alto”, obra efectivamente distópica que chega a roçar a sátira, os Estados Unidos e seus aliados perderam a 2ª Guerra Mundial e os nazis dividiram o planeta com os japoneses. Se por um lado isso é-nos logo dito, ficamos também a saber que logo depois do fim da guerra, os nazis trataram de dizimar os povos em África, transformando aquele continente num deserto. Mas vai muito mais longe, explica, até de forma muito coerente, ou seja, é uma “realidade” que poderia ter sido perfeitamente possível, do porquê dos aliados terem perdido a guerra, do porquê da URSS ter ruido em 1941 e da exterminação dos povos. Ou seja, uma realidade alternativa que poderia ter sido a real caso os alemães tivessem vencido o conflito de 1939-1945.
Em todo este cenário arrepiante, eis que um livro, escrito pelo Homem do castelo Alto, uma personagem misteriosa e solitária, descreve um mundo onde quem venceu foi os aliados e de como o mundo poderia ser e somos assim confrontados com duas realidades diametralmente opostas.
Achei a obra muito interessante pela forma realista como o autor conseguiu criar essa realidade paralela e que, se não fossem alguns “acasos”, poderia ser mesmo a nossa realidade, mas confesso que o livro me foi aborrecendo à medida que ia desbravando a suas folhas sem que, mesmo assim, tivesse desistido porque queria saber como tudo iria acabar.
Não desgostei mas também não foi daquelas distopias que me fascinaram e que um dia irei reler.
Aconselhável para quem gosta do género e quem tenha curiosidade em conhecer uma alternativa muito bem criada, à nossa realidade que, efetivamente, só foi possível devido à vitória dos aliados na 2ª Guerra Mundial.