Esta obra trata-se de um ensaio
histórico assente em variadíssimos documentos que Amin Maalouf analisou e todos
com um ponto em comum, foram escritos por historiadores árabes.
Dessa forma o que Maalouf
pretendia era o de dar a conhecer a perspetiva árabe sobre as invasões cristãs
iniciadas em 1096 e terminadas em 1272, ou seja, na prática o que o autor quis
mostrar foi uma visão completamente diferente daquela que é conhecida no mundo
ocidental e a questão é: são assim tão diferentes.
Primeiro e depois de ler o livro,
sinceramente, não me parece que as versões sejam assim tão díspares. Há factos
antecedentes que o autor se esquece, propositadamente ou não, de narrar. Ele
mostra a invasão cristã como algo monstruoso, mas omite as razões e sobretudo
os precedentes históricos que estão por detrás dessas invasões.
Depois, salta à vista que efectivamente
os árabes tinham um pavor imenso dos Franj (Francos), mas que a principal razão
do fácil desbravar dos cristãos, deu-se porque os árabes se fragilizavam entre
eles com tricas, e guerras que eram aproveitadas pelos ocidentais. Isso é
claríssimo, pois e embora o autor tente criar dois grupos (os árabes e os
cristãos), o certo é que no seio dos árabes, haviam variadíssimos povos que se
gladiavam entre si. Por esse motivo, cidades caiam face ao poderio dos cristãos,
sendo o povo dizimado.
Há também uma tentativa de passar
uma má imagem dos cristãos. Pese embora ele admita da sua tenacidade e coragem,
o certo é que vai traçando uma imagem depreciativa, abordando a pouca higiene,
os modos bruscos, a sede por saques e a ignorância cultural. E isso até achei
curioso, pois naquela altura, embora ao nível da medicina os árabes estarem de
facto bastante à frente, os anos de ouro da civilização muçulmana já tinham
terminado diante de uma religião fanática que chegou até aos nossos dias.
E por falar nisso, para terminar,
arrepiou-me em constatar que de facto o Ser Humano não consegue aprender com a
História, pois ao ler aqueles episódios, a similaridade com os dias actuais é assustadora,
e isso é algo que se retira muito facilmente desta obra.
Ora aqui está um escritor que estava à espera que lesses! Só não foi o mesmo livro.
ResponderEliminarLi "Samarcanda" e não achei grande piada. Mas acredito que este Cruzadas seja melhor, sendo não-ficção: uma das razões porque não gostei do escritor em Samarcanda foi pelo seu estilo demasiado jornalístico. Aqui deve adequar-se.
Fiquei com a ideia de que Amin Maalouf é um escritor de presença mundial que escreve sobre o Médio Oriente, e aí reside o segredo do sucesso: não há muitos escritores com presença no mundo ocidental a escrever para o grande público sobre a História do mundo oriental. Duvido um pouco que fosse tão aclamado se fosse um tema mais explorado.
Dito isto, não será um livro que devo ler em breve, mas é um tema que apontei para estudar.
Maalouf foi durante muitos anos jornalista e chefe de redacção, por isso é perfeitamente normal o estilo literário dele que, de facto, é directo e objectivo.
ResponderEliminarEsta obra, sendo um ensaio, nada tem de romance e ele limita-se a utilizar os textos que pesquisou para traçar a História das cruzadas mas vistas pelo mundo árabe.
No entanto, confesso, que não gostei da forma depreciativa como ele vai tratando os Franj (era o nome que os árabes davam a todos os cruzados), e sobretudo omitindo os antecedentes que originaram essas invasões.
Lendo o livro, ficamos com a ideia que os cruzadas, a mando do Papa, invadiram o mundo árabe com o sentido de chegar a Jerusalém e à medida que iam avançando, iam destruindo, matando, violando, etc. Porém e embora não deixe de ser verdade, ele omite o facto de isso ter sido uma resposta às invasões árabes séculos antes. Ou seja, quem deu o "tiro de partida" foram os árabes.
Porém é um livro interessante que desmistifica efectivamente algumas histórias que são tidas como verídicas no Ocidente, porém o que fica claro é que o grande culpado de mais de dois séculos de ocupação cruzada, foi a desorganização e interesses antagónicos dos lideres muçulmanos.
Para quem gosta de História, revela-se um livro muito interessante.