A minha atracção pelos clássicos
da literatura, levou-me, desta vez, a pegar num romance que há muito estava na
minha lista e que usufrui de imensas apreciações positivas em todo o mundo.
Publicado em 1847, Jane Eyre é
uma espécie de autobiografia da sua autora (ela própria admitiu isso),
misturada com diversos episódios ficcionais mas que vão servindo de contraponto
para o que Brontë pretendia expor.
Acompanhamos assim Jane Eyre da
infância à fase adulta, pese embora exista um hiato de 8 anos que, segundo Jane
Eyre, não se passou nada de especial. Desse modo e após a narrativa mostrar a
sua difícil e traumatizante infância, eis que nos surge Jane Eyre com 18 anos e
completamente adaptada ao ambiente onde vive.
Sempre confrontada com dilemas
éticos e morais, Jane Eyre vai-nos traçando um esboço da sua personalidade,
sobressaindo a sua imensa força psicológica, a sua força de vontade, que irá
fazer com que a sua vida, de uma forma gradual, vá mudando.
O trama em si mesmo, é
vincadamente vitoriano (como é natural), completo de críticas sociais que
envolvem a circunstância da mulher, sobretudo a sujeição, razão pela qual se
percebe ter tanto sucesso junto do público feminino, pois Jane Eyre representa
a figura que qualquer mulher defende e anseia, ou seja, uma mulher que mesmo crescendo
num ambiente hostil, consegue encarar as dificuldades da vida de uma forma
frontal, que tem atitude e força para viver a sua vida de forma digna.
Considerado uma romance de
formação, e isso a meu ver é claríssimo dada o desenvolvimento da narrativa
estar interligado com a evolução humana da protagonista, a autora vai
efectivamente contra aquilo que na altura se pensava, ou seja, à época, a
mulher era considerada um ser que não era apta para trabalhar. O seu dever era
casar, ter filhos e gerir a casa. Charlotte Brontë demonstra que as mulheres
eram tão capazes de trabalhar quanto os homens e isso foi uma espécie de
pedrada no charco na época, pois é amplamente conhecida o forte puritanismo que
envolvia a sociedade europeia, sobretudo a britânica onde as tradições e o
moralismo estavam muito enraizados.
Jane Eyre é assim um romance da
sua época que necessita de uma abordagem prévia no seu contexto histórico, pois
e caso contrário, perde completamente a sua intenção, tornando-se, de forma
injusta, um romance algo supérfluo e sem sentido aos dias de hoje. E isso ao
acontecer, é injusto, pois não se pode retirar a sua importância e, sobretudo,
a coragem, em expor a condição da mulher da primeira metade do séc. XIX.
Pessoalmente gostei muito de ler
este clássico e perceber que, independentemente da época e das tradições
culturais, o Ser Humano, na sua essência, é sempre igual, seja nos dias de
hoje, seja no séc. XIX ou há dois mil anos.
Tenho alguma curiosidade a respeito deste livro. Quem sabe um dia destes...
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