Escrito, produzido e dirigido por
Jordan Peele, “US” (traduzido literalmente por NÓS), é um filme do género suspense/terror
que vem na senda do primeiro filme de Jordan Peele, o nomeado para os Óscares, “Get
Out”, filme que recebeu inúmeras opiniões favoráveis, dado a inteligência do
argumento.
Como parte do elenco temos Lupita
Nyong'o, Winston Duke e Elisabeth Moss, entre outros, “US” consegue-nos cativar
logo desde o início, criando uma aura misteriosa e nebulosa, perspetivando
acontecimentos estranhos que dão o mote ao filme.
Porém, à medida que o filme se
vai desenrolando, é percetível, porque o realizador a isso nos habitou, que não
se trata de um mero filme de terror e sim uma alegoria à sociedade norte-americana,
com alusões a várias outras obras, realçando as profundas diferenças sociais
entre a população, sobretudo entre a comunidade negra, simbolizados por aqueles
que vivem na parte de baixo, no subsolo, e a classe alta, simbolizada por
aqueles que vivem na parte de cima, pelos originais, e que vivem em liberdade.
E isso torna-se claro quando
constatamos em dois pormenores:
O trocadilho com o título do
filme: “Us” (NÓS) = United States.
E quem são os NÓS?
Isso é respondido pela dupla da
personagem principal protagonizada por Lupita Nyong’o: Somos Americanos!
O filme, que possui algumas
falhas e pontas soltas, que, na minha opinião, são produzidas de forma
propositada a fim de parodiar os clichés dos filmes de terror, é extremamente
inteligente, tanto no desenrolar dos acontecimentos, como igualmente nos
diálogos, vai desfilando várias alusões a outras obras, como por exemplo, é
clara a referência a “Alice no País das Maravilhas” e a toca do Coelho, pois
note-se que uma das sequência finais é, na prática, retirada das primeiras
páginas da obra de Lewis Carroll.
Assim como fica subentendido a
Alegoria da Caverna de Platão. Nos diálogos, afirmava Sócrates – “Agora, imagina a maneira como segue o estado
da nossa natureza relativamente à instrução e à ignorância. Imagina homens numa
morada subterrânea, em forma de caverna, com uma entrada aberta à luz; esses
homens estão aí desde a infância, de pernas e pescoços acorrentados, de modo
que não podem mexer-se nem ver senão o que está diante deles, pois as correntes
os impedem de voltar a cabeça; a luz chega-lhes de uma fogueira acesa numa
colina que se ergue por detrás deles; entre o fogo e os prisioneiros passa uma
estrada ascendente. Imagina que ao longo dessa estrada está construído um
pequeno muro, semelhante às divisórias que os apresentadores de títeres armam
diante de si e por cima das quais exibem as suas maravilhas”.
Longe de ser um daqueles típicos
filmes de terror, cheio de tentativas de sustos e muito sangue, aqui, num ritmo
propositadamente lento, o realizador consegue agarrar o público, erguendo um
clima de tensão que se vai construindo através de um conjunto de teias e
labirintos que, no fim, se vão entrelaçar.
E é nos pormenores que a
inteligência da realização se torna notável. Para além do já referido nos
parágrafos anteriores, existem alusões a trechos bíblicos que nos vão dando
pistas sem que nos apercebamos, para além disso, há outros sinais que julgamos
irrelevantes, mas que se revelam fundamentais.
Em suma, um excelente filme.
Mordaz, irónico e corrosivo, que demonstra a profunda desigualdade que grassa,
não apenas na sociedade norte-americana, como igualmente em qualquer outra
parte do globo.
Fiquei curiosa!
ResponderEliminarEu penso que vais gostar.
ResponderEliminarMas nota que não é um daqueles filmes de terror cheio de sangue, etc.
Aqui é a inteligência dos pormenores que é valor acrescentado, criando um clima de tensão e de situações verdadeiramente surrealistas mas que representam uma imensa alegoria.
Também me parece que vou! Acho que já tenho filme para este fim de semana ;)
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