Passados seis anos sobre o mega-sucesso-best-seller “Código Da Vinci”, seis anos esses onde o autor se entreteu a enriquecer e a negociar com Hollywood a produção de, pelo menos, dois dos seus títulos, títulos esses que se transformaram em sucessos à pala do Da Vinci Code, eis que, seis anos depois como já referi três vezes, Dan Brown lança “O Símbolo Perdido”, obra que, segundo ele próprio, é o seu melhor livro.
Em Portugal, antes que a generalidade do público desse pelo logro, colocou-se logo à venda a edição no idioma original no sentido de começar logo a lucrar com o mrs. Best-seller, pois há que fazer render o peixe antes que apareça carne.
E, meses depois de ter sido editado na maior parte dos países do planeta, eis que Novembro foi o mês propício, até porque há que pensar nas prendinhas para o Natal e era encantador oferecer esta pretensa pérola a quem gosta de ler.
A sinopse é deveras simples mas, em simultâneo, intrigante, apelativa e motivadora, ou seja, pela sinopse parece que estamos ou vamos estar na presença de um excelente thriller cheio de enigmas, mistérios novos que nos assaltam a imaginação e a curiosidade acerca de qualquer parte ou facto Histórico perdido nos anais do Tempo.
Pura especulação!
Mas vamos à sinopse:
Tom Hanks, perdão, Robert Langdon, doutor em simbologia em Harvard, é contactado de madrugada por alguém que lhe é muito próximo convidando-o para dar uma palestra no Capitólio em Washington D.C. Tem tudo à sua disposição: avião, carro com motorista, enfim, todos os mimos para o convencerem a fazer a palestra naquela mesma noite…
É o início para uma aventura que mete praticamente tudo o que foi metido no “Código Da Vinci”. Um vilão paranóico, sociedades secretas, segredos antigos que aparentemente colocam em perigo toda a humanidade, corridas contra o tempo, enigmas que depois de decifrados ocasionam outros enigmas que, por sua vez, originam chaves para outros códigos que, por sua vez, dão origem a símbolos e segredos perdidos algures no tempo e cujo interesse é suposto ser da humanidade mas que, aqui, deve ser apenas do próprio Dan Brown.
Enquanto livro de entretenimento e confesso que de facto um dos objectivos de qualquer livro é entreter, mas enquanto isso e dada a sua acção louca e fulminante, o livro consegue prender a atenção, no entanto, questiono, o que andou Dan Brown a fazer nestes seis anos? O livro está muito mal construído de início ao fim, o escritor, se lhe podemos dar esse nome, não se preparou minimamente, não efectuou, ou se efectuou não se nota, uma pesquisa séria e honesta do que tenta escrever. Todo o trama tem pouco sentido, é confuso, engonha, engonha, vai por aqui, por ali e não desagua em lado nenhum. Todo o livro é um amontoado de informações e supostos segredos maçónicos como se a maçonaria fosse uma Ordem que estivesse na posse de segredos vitais à humanidade e como se os edificadores da nação norte-americana estivessem escondido algo de importante e valioso.
Toda a acção é quase uma cópia exacta do “Código Da Vinci”. Substitui-se as cidades, as ordens secretas e, voilá, o mesmo estilo de enigmas, a mesma acção e até nem falta o quadro famoso com símbolos escondidos nem a personagem histórica que, sabe-se, estava na posse de grandes segredos e que os quis ocultar. Em vez de Leonardo Da Vinci eis que a fava calha agora a Isaac Newton.
E depois de toda uma desenfreada alucinada correria onde o tal psicopata, que diga-se é muito previsível a sua identidade (Dan Brown deixa várias pontas soltas), o epílogo é, no mínimo, ridículo, um atentado à inteligência do leitor. Risível, brutalmente obtuso que, depois de tantos enigmas, tantas ameaças por causa de um suposto segredo… aquilo, estúpido até dizer chega!
Que grande fraude, que falta de imaginação para quem esteve seis anos sem escrever nada. Todo esse tempo, mesmo partindo do principio que o senhor andou por aqui e ali a dar entrevistas e a saborear a fama, tinha a obrigação de ter escrito algo que empolgasse, que fizesse de facto sentido, que, conforme ele tanto e gosta assim como os leitores do “Código Da Vinci”, abanasse os alicerces de uma coisa qualquer, mas não, ah e tal… só quis foi aparecer.
E sobre o estilo?
Ui, podemos falar de estilo?
Dan Brown repete a formula. Numa linguagem deveras simples, não consegue explorar o conteúdo científico que lança (que até era interessante), não consegue criar uma sequência coerente porque simplesmente não consegue explicar ou transmitir o interesse do assunto. Enquanto thriller e mesmo admitindo que tem bases interessantes, o autor parece escrever aos repelões, sem energia, tudo a martelo (será que escreveu o livro nos intervalos das entrevistas?). Há ali personagens que surgem, que parece terem alguma importância e que depois se esvaziam, são abandonados sem qualquer tipo de contemplações. É uma narrativa muito fraca, muito mal construída onde a maçonaria é apresentada como sendo uma Ordem com muitos segredos mas que, em momento algum, consegue credibilizar essa ideia ou essa pretensão. Ele bem tenta associar os maçons a supostos segredos que estão na base da nação americana, mas é tudo sensaborão, um longo e interminável bocejo ainda por mais denotando presunção, uma mescla de vaidade com oportunismo
Em suma, um romance construído às “três pancadas” assente num assunto desinteressante cheio de inverosimilhanças construídas em capítulos pequeníssimos (alguns de meia página), escrito de uma forma vulgar sem ponta de adrenalina e que, na minha óptica, desvirtua completamente a imagem de Robert Lagdon e do seu criador.
Classificação: 2