Filha de Henrique VIII e de Ana Bolena, Isabel teve uma infância muito atribulada, vivendo sempre no limbo face aos constantes boatos de traições aos reis que lhe antecederam.
Quando nasceu, Isabel ocupava a primeira posição na sucessão ao trono, no entanto acaba por cair em desgraça quando a sua mãe é acusada de adultério e condenada à morte por decapitação. Isabel, na altura quase a fazer 3 anos de idade, é declarada ilegítima e perde o título de princesa.
Após a morte do seu pai, Isabel passa a viver com Catherine Parr e o marido, Tomás Seymour. Catherine Parr foi a última esposa de Henrique VIII e nutria por Isabel verdadeira afeição. Pouco meses após a morte do rei, Catherine desposa Tomás Seymour de Sudeley, indo viver para a zona de Chelsea. Essa convivência ainda hoje levanta várias conjecturas, pois sabe-se que Seymour se dava a certas liberdades com a jovem Isabel sem que esta, aparentemente, lhe agradasse. O certo é que Catherine acaba por descobrir essas folias e toma o partido do marido, expulsando Isabel em Maio de 1548.
Desse envolvimento, que hoje em dia seria tido como pedofilia e que se julga tinha como intenção de Seymour a ascensão dele próprio ao trono de Inglaterra, Isabel tem um primeiro e horrível contacto com os tramas da corte e conhece ou toma contacto com as teias conspirativas, as intrigas palacianas que irão acompanhá-la durante toda a sua vida.
Até subir ao trono, Isabel irá passar por outros tumultos e desgostos. No entanto, em Janeiro de 1559 é coroada Rainha de Inglaterra, iniciando-se um reinado de 44 anos, conhecido por período isabelino e marcado por acontecimentos vitais para a História da Europa e da própria Inglaterra.
Obviamente que esta exposição é muitíssima diminuta, não só da vida de Isabel, como do seu reinado. A importância do reinado de Isabel foi fundamental para o poderio da Inglaterra. É um período riquíssimo, cheio de acontecimentos e de personagens que, ainda hoje, são falados e estudados. Em todo o caso o que aqui é importante é analisar o livro de Isabel Machado.
Confesso que até conhecia muitos acontecimentos e factos do reinado de Isabel I, no entanto desconhecia a atribulada juventude de Isabel e a forma como sobe e, principalmente, como conduziu o seu reinado e o seu legado, e isso foi algo que me surpreendeu.
Surpreendeu-me também, pela positiva, a qualidade e a forma límpida como a autora conseguiu narrar toda uma vida, porque é precisamente isso que a autora faz: conta toda a vida de Isabel, desde o seu nascimento até à sua morte. Pelo meio, que não é pouco, consegue a magia de colocar e dar substância a vários importantes personagens que povoaram a vida de Isabel, com especial incidência para o médico português, D. Rodrigo Lopes, que virá a ser médico pessoal da rainha durante décadas.
Não é possível, numa mera opinião, expressar toda a densidade e excelência da obra de Isabel Machado. Não vou referir que é uma obra imaculada. Para mim o maior defeito é a falta de descrições das principais batalhas que ocorreram em todo aquele tempo. No entanto isso é algo que muito aprecio nos romances históricos e este versa essencialmente sobre figuras, destacando-se a de Isabel e de Rodrigo. Pessoalmente também me maçou a insistente discussão à volta do casamento da rainha e da necessidade de deixar sucessão. A partir do momento em que Isabel sobe ao trono, a principal discussão entre os seus ministros e conselheiros é o seu casamento que Isabel conduziu de uma forma estratégica até ao final da sua vida. Em todo o caso achei algo maçuda essa insistência, pois passam-se páginas atrás de páginas com essa discussão, parecendo que mais nada de interessante se passa no reino. Também não apreciei o tom algo piegas com que a autora descreve os encontros amorosos entre a rainha e o seu protegido. Percebo da necessidade de dar um tom mais apimentado e romântico ao livro, até por se tratar de ficção baseada em factos verídicos, no entanto e também face à fama de Isabel que ficou conhecida como a “rainha Virgem”, chegou a ser irritante esse tom meloso com que os encontros são descritos.
No entanto a autora realiza um enorme trabalho. Consegue abordar a época e situar muito bem os acontecimentos que marcaram aquela época. O problema de Portugal e do vazio que fica quando D. Sebastião perece em Alcacer Quibir. A invasão em 1589 de Filipe II a fim de reclamar o trono e da revolta de D. António, prior do Crato, que Isabel irá conhecer muito bem, a fim de reclamar o trono de Portugal. A União Ibérica que daí ocorre e que será o único entrave ao estabelecimento da Inglaterra enquanto maior potência mundial. Um sem número de acontecimentos que a autora coloca e situa de uma forma excelente, mas que, por vezes, torna o livro maçudo e denso.
Um livro que me deu imenso prazer ler. Não diria que se lê de uma forma compulsiva, mas que merece ser lido com calma e cuidado. Um livro que merece algumas análises à medida que a leitura vai decorrendo, pois e como antes referi, há acontecimentos, sobretudo os bélicos, que são mencionados, mas que são pouquíssimo descritos e, pessoalmente, tive a necessidade de perceber da sua importância e impacto que tiveram.
Nota final para D. Rodrigo Lopes, médico português que debanda para Inglaterra com a esperança de encontrar um país mais tolerante com a sua religião. Com a ajuda da comunidade portuguesa, aí se fixa, chegando, pela sua fama de bom médico, ao posto de médico pessoal da rainha e seu confidente. Rodrigo Lopes existiu e teve, de facto, um papel preponderante na vida de Isabel I, estando também envolvido na política externa, nomeadamente no problema da invasão de Portugal. Este é um personagem que a História de Portugal esqueceu ou que nem sequer chegou a considerar. Em todo o caso a autora empreendeu uma brilhante investigação e descobriu importantes informações sobre essa figura e o seu trabalho na corte. A partir daí, a autora, explana uma figura muito interessante que vem abrilhantar ainda mais esta obra.