Eis
que depois de vários anos, volto a ler um livro empolgante de Bernard Cornwell,
um daqueles livros que me fizeram considerar este autor como o meu preferido e
um livro onde é a rara a página em que não existam descrições de sangrentas
batalhas.
Agincourt
ou Azincourt foi uma batalha, travada em 1415 entre os franceses e os ingleses
e onde, reza a lenda, surgiu o símbolo do V da Vitória, feito com os dedos
indicador e médio. Mais do que uma batalha, Azincourt tornou-se para os
franceses símbolo de humilhação (tirando a época de Napoleão, a História
francesa está cheia de humilhações) e para os ingleses símbolo de uma batalha
mítica que tornou Henrique V rei de Inglaterra e França.
Conforme
é seu apanágio, Bernard Cornwell é exímio na explanação de toda a época
medieval e dos acontecimentos que antecederam esta batalha, salpicando, como é
normal, pois trata-se de um romance, de vários acontecimentos ficcionais. No entanto
poucos são esses acontecimentos ficcionais, pois até as personagens, na sua
grande maioria, são reais e Cornwell é mestre em lhe dar vida e voz.
Seguimos
assim as peripécias de Nicholas Hook, jovem arqueiro, que a contas com uma
inimizade familiar ancestral se vê fugido para França, iniciando-se aí o seu périplo
o irá levar ao serviço de um poderoso senhor e à presença do Rei de Inglaterra.
Inserido no exercito que ataca França em 1415, Hook toma parte nesta brutal
batalha e é face ao seu discurso que somos levados a conhecer o que sucedeu
nesse dia, uma batalha que foi uma das mais importantes e sangrentas da Europa
medieval.
Em
todo o caso e após já ter lido quase todas as obras de Bernard Cornwell, não
considero esta livro como um dos melhores e explico porquê. Pese embora seja
brutal na sua narrativa, quanto a mim deixa algo a desejar em alguns aspectos. Primeiro,
achei-o muito repetitivo. A constante inimizade de Hook com outros personagens
vai-se desenrolando ao longo do livro com quase nenhuma evolução, salpicada
aqui e ali por episódios quase caricatos e pouco consistentes. Depois, as cenas
de batalha são muito semelhantes entre elas: ventres estripados, golfadas de
sangue, elmos amolgados, albardas afiadas espetadas nos olhos até ao cérebro,
machados esmagando armaduras e é sempre o mesmo. São páginas atrás de páginas
com descrições muito semelhantes, de uma brutalidade inaudita que de certo irá
impressionar aqueles que não estão habituados ao estilo de Cornwell. Finalmente,
e não sendo apenas mais esse pormenor, penso que o autor poderia ter trabalhado
mais na história afectiva de Hook que até começa bem, mas que depressa perde fôlego
até se tornar numa mão cheia de nada.
Ou
seja, gostei do livro, deu para voltar a sentir aquela adrenalina e intensidade
apenas sentidas nos romances de Bernard Cornwell, mas, a meu ver, este “Agincourt”
fica aquém de outros do autor, sobretudo no excepcional “Crónicas do Senhor da
Guerra”, uma trilogia poderosa, brutal e muito bem narrada e recriada.
Finalmente
sinal negativo para a revisão da obra efectuada pela Planeta Editora. Possui
várias gralhas, palavras com letras trocadas e inclusive incompletas. Mas enfim,
é um pormenor menor.
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