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segunda-feira, 14 de agosto de 2017

Agincourt – Bernard Cornwell



Eis que depois de vários anos, volto a ler um livro empolgante de Bernard Cornwell, um daqueles livros que me fizeram considerar este autor como o meu preferido e um livro onde é a rara a página em que não existam descrições de sangrentas batalhas.

Agincourt ou Azincourt foi uma batalha, travada em 1415 entre os franceses e os ingleses e onde, reza a lenda, surgiu o símbolo do V da Vitória, feito com os dedos indicador e médio. Mais do que uma batalha, Azincourt tornou-se para os franceses símbolo de humilhação (tirando a época de Napoleão, a História francesa está cheia de humilhações) e para os ingleses símbolo de uma batalha mítica que tornou Henrique V rei de Inglaterra e França.

Conforme é seu apanágio, Bernard Cornwell é exímio na explanação de toda a época medieval e dos acontecimentos que antecederam esta batalha, salpicando, como é normal, pois trata-se de um romance, de vários acontecimentos ficcionais. No entanto poucos são esses acontecimentos ficcionais, pois até as personagens, na sua grande maioria, são reais e Cornwell é mestre em lhe dar vida e voz.

Seguimos assim as peripécias de Nicholas Hook, jovem arqueiro, que a contas com uma inimizade familiar ancestral se vê fugido para França, iniciando-se aí o seu périplo o irá levar ao serviço de um poderoso senhor e à presença do Rei de Inglaterra. Inserido no exercito que ataca França em 1415, Hook toma parte nesta brutal batalha e é face ao seu discurso que somos levados a conhecer o que sucedeu nesse dia, uma batalha que foi uma das mais importantes e sangrentas da Europa medieval.

Em todo o caso e após já ter lido quase todas as obras de Bernard Cornwell, não considero esta livro como um dos melhores e explico porquê. Pese embora seja brutal na sua narrativa, quanto a mim deixa algo a desejar em alguns aspectos. Primeiro, achei-o muito repetitivo. A constante inimizade de Hook com outros personagens vai-se desenrolando ao longo do livro com quase nenhuma evolução, salpicada aqui e ali por episódios quase caricatos e pouco consistentes. Depois, as cenas de batalha são muito semelhantes entre elas: ventres estripados, golfadas de sangue, elmos amolgados, albardas afiadas espetadas nos olhos até ao cérebro, machados esmagando armaduras e é sempre o mesmo. São páginas atrás de páginas com descrições muito semelhantes, de uma brutalidade inaudita que de certo irá impressionar aqueles que não estão habituados ao estilo de Cornwell. Finalmente, e não sendo apenas mais esse pormenor, penso que o autor poderia ter trabalhado mais na história afectiva de Hook que até começa bem, mas que depressa perde fôlego até se tornar numa mão cheia de nada.

Ou seja, gostei do livro, deu para voltar a sentir aquela adrenalina e intensidade apenas sentidas nos romances de Bernard Cornwell, mas, a meu ver, este “Agincourt” fica aquém de outros do autor, sobretudo no excepcional “Crónicas do Senhor da Guerra”, uma trilogia poderosa, brutal e muito bem narrada e recriada.

Finalmente sinal negativo para a revisão da obra efectuada pela Planeta Editora. Possui várias gralhas, palavras com letras trocadas e inclusive incompletas. Mas enfim, é um pormenor menor.


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