Esta
é talvez a opinião mais complicada que alguma vez escrevi sobre algum livro,
não que sinta que não tenha capacidade, mas porque este é daqueles livros e
disso tenho a certeza, que para se ter uma opinião mais abalizada, é necessário
ler-se mais de duas vezes, pois é uma obra tão complexa que se torna muito
complicado extrair grande parte da essência da obra em todas as suas facetas,
mas enfim, vou tentar.
O
Som e a Fúria, obra maior de Faulkner, editada em 1928 e que é a grande
responsável pelo Nobel da Literatura em 1949, é um dos clássicos da literatura
que aparecem sempre nas listas dos Melhores Livros de Sempre, e uma daquelas
obras que é escalpelizada em diversos sistemas educativos por todo o mundo,
sobretudo na área da literatura, pois o que o autor faz nas suas quase 300
páginas, é um poderoso jogo literário em que contrapõe várias técnicas e
sobretudo no grande desenvolvimento da técnica narrativa do fluxo de
consciência, técnica essa que, confesso, não sou um grande fã.
Pessoalmente
posso-o já considerar aquele livro que mais me deu trabalho ler e pelo qual
sinto um misto de sensações. Ou seja, fiquei fascinado com as técnicas de
Faulkner e a forma como ele encadeia uma narrativa linear com narrativas
completamente subjectivas onde, efectivamente, o fluxo de consciência toma
conta do romance para, se necessário for na mesma linha, alterar completamente
a técnica e desencadear uma narrativa sem qualquer pontuação que nos deixa
completamente “à nora”, sem saber de quê o autor está a falar.
No
entanto, e por outro lado, torna-se cansativo seguir essa(s) linha(s), essa forma
intercalada de narrar e, muitíssimas vezes, levam-nos à exasperação por,
simplesmente, não percebermos ou perceber muito pouco, o que se está a passar.
Ou
seja, este livro não é um livro com uma história linear que se leia de uma
forma descontraída, até porque o livro é dividido em quatro capítulos em que
nem o elemento tempo-espaço é linear, e nesses capítulos não há quaisquer
intervalos, ou seja, quase que nos obriga a ler de enfiada uma média de 80
páginas, ainda por cima um texto que, página a página, faz pouco sentido e que,
só muito perto do fim, é que Faulkner vira a narrativa, tornando-a mais linear,
logo, mais perceptível.
Sobre
a história em si não vou referir coisíssima nenhuma porque facilmente se
consegue sinopses desta obra, mas o que estou a tentar elaborar, é a minha
percepção pessoal e a consideração se gostei ou não do livro.
Gostei
do livro, mas para ser sincero comigo mesmo, e conforme referi no início, esta
é daquelas obras que obriga a novas leituras e, confesso, depois desta batalha
em que sai exausto mas satisfeito (por ter terminado o livro), tão cedo não lhe
vou pegar, talvez daqui a uns valentes anos.
Durante
a sua leitura e à medida que ia tentando compreender aquilo que estava a ler,
sem contudo o conseguir sobretudo nos dois primeiros capítulos, ia também
tentando compreender o porquê desta obra ser tão debatido e considerado, por
muitos, como o “livro da sua vida”.
O
ser debatida e conforme já referi anteriormente, até que compreendo pelas
diversas técnicas utilizadas por William Faulkner e pelos elementos literários
que ele trabalha, pois ele subverte completamente as “regras” da literatura ao
trabalhar, dar peso a todos os elementos de um romance ao ponto de construir
uma narrativa extremamente complexa e complicada de entender e que nos vai
dando ferroadas à medida que vai sendo desenvolvida.
No
entanto ser considerado “o livro de uma vida”, já tenho mais dificuldade em
entender e simplesmente porque este é um “daqueles” livros que é forçosamente
necessário ter-se alguma bagagem literária e até cultural para se conseguir
levar até ao fim. Notem, não digo conseguir entender mas sim levar até ao fim,
pois é necessário uma enorme força de vontade para seguir um rumo com pouco
sentido e que nos faz sentir que nos vai levar a algum sítio mas que só é
desvendável no fim.
No
fim fiquei com aquela sensação de quando admiramos um quadro expressionista, ou
seja, esta obra é uma espécie de deformação da realidade que expressa,
subjectivamente, vários aspectos dos seres humanos e que à medida que vamos
olhando esse quadro de diversos ângulos, outras sensações nos ocorrem, por isso
é que considero ser esta obra ser lida por diversas vezes, pois tenho a certeza
que uma outra vez, a minha percepção será diferente.
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