Mas Rui Tavares vai muito mais longe.
Inicialmente empreende uma comparação entre várias catástrofes naturais que, segundo ele, ficaram como marcos da humanidade. Assim, salta dos atentados às twin towers no 11 de Setembro de 2001, para o incêndio de Roma de 64 d.C., passando pelo tsunami de 2004 e acabando no terramoto de 1755, o verdadeiro objectivo do livro.
Achei isso deveras interessante, até porque ele aborda o impacto que esses desastres tiveram na mentalidade e o quanto o seu não acontecimento, ou seja, se não tivessem ocorrido, contribuiria para mudar, ou não, o curso da História, até porque a mentalidade da época estava muito encarcerada pela religião e isso é muito importante, se não mesmo vital, para se entender esse curso. E interessante também a forma como ele consegue interligar esses desastres dentro de vários denominadores comuns.
Depois Rui Tavares entra mais densamente na catástrofe de Novembro de 1755. Aí descreve os meses anteriores ao acontecimento, a disposição arquitectónica, a vida social dos habitantes e da côrte.
Mostrando várias figuras da época, vamo-nos apercebendo que Lisboa era uma cidade decadente, extremamente mal organizada ao nível arquitectónico, com ruas muito estreitas e escuras. Isso é alvo de análise, o terramoto veio quase fazer o que o Homem não tinha tido coragem para o fazer: destruir para erigir uma cidade mais moderna. Curioso constatar a enorme e obtusa religiosidade dos habitantes alfacinhas. No entanto, e isso foi alvo de uma profunda questão na época, Lisboa possuía dezenas de igrejas. Umas das razões apontadas à ocorrência do terramoto foi o de ser um castigo de Deus, pois várias dessas igrejas ruíram com centenas de pessoas que estavam na altura na missa, no entanto quem era adepto dessa explicação metafísica ficou extremamente incomodado quando se deparou com a zona de prostituição completamente incólume, enquanto que quase tudo o resto foi arrasado.
É de facto um excelente ensaio que analisa várias perspectivas dessa célebre catástrofe, focando também várias “vozes” que se ouviram do estrangeiro, assim como as influências que o terramoto de Lisboa de 1755 teve na arte, música, literatura e até na mentalidade de todo o mundo.
4 comentários:
Este livro, pelo que descreveste parece-me bastante interessante, até mesmo pelo facto de eu nunca ter lido um ensaio. É capaz de ser um bom sitio por onde começar :D
Se alguma vez me cruzar com este livro por essas livrarias a fora com certeza prestar-lhe-ei atenção.
Olá Mónica.
Sim, este ensaio é muito bom e muito curioso.
Para quem se interessa pelas causas do terramoto e pelo modo de vida da altura, aconselho-o vivamente.
Dois pormenores:
- não aposto muito em ensaios;
- o terramoto de 1755 é dos temas que mais me fascina.
Como é que ficamos?
Eu digo: espero pela Feira do Livro, nessa altura é pegar!
Olá Pedro.
Já tenho lido bons ensaios pese embora também não seja propriamente o meu género preferido.
Em relação a este e se te fascina o Terramoto de 1755, então aconselho-te, porque, para além da descrição do antes e depois do terramoto, o autor dá-nos outros pontos de vista.
Por falar em Terramoto, aconselho-te o livro "A Voz da Terra", um romance histórico muito, muito bom.
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