Sou espião e tenho medo...
Assim começa uma obra que prometia muito mas que nos deixa com
uma sensação que podia ser melhor explorada, não apenas ao nível do seu
conteúdo narrativo, como igualmente ao nível do conteúdo histórico que, quanto
a mim, podia e devia ter sido melhor aproveitado.
Mas vamos por partes.
A premissa deste terceiro título de Júlia Navarro, que é uma
verdadeira campeã de best-sellers e que eu, confesso, apreciei os dois romances
que havia lido para além deste, é bastante apelativo o que, por si só, me fez
pegar no livro.
A autora começa por nos situar no século XIII aquando do cerco
de Montsegur pelos Cruzados. Utilizando um personagem fictícia que serve de fio
condutor a toda a narrativa (Frei Julián), as primeiras páginas são bastante
empolgantes e de leitura compulsiva. A partir de uma certa altura, a autora dá
um salto temporal até 1939 onde nos deparamos com um investigador que tem
acesso à crónica de Frei Julián. Estava-se em pleno início da Segunda Guerra,
numa Europa profundamente dividida que deixava antever o terror que aí vinha.
Essa Segunda parte também gostei bastante, sobretudo do personagem do investigador
que analisa a fundo a crónica de Frei Julián. Posteriormente novo salto
temporal e, já nos nossos dias, a autora, obviamente tendo como elo de ligação,
embora já algo ténue, a tal crónica do século XIII, dá-nos uma perspectiva de
vários atentados que estão a ser planeados por grupos extremistas árabes e
também por alguém que pretende vingar o sangue dos inocentes.
E confesso que é essa terceira parte que me fez esmorecer do
livro porque a achei bastante forçada e, a meu ver, a autora tinha imenso campo
para conduzir a história por outras direcções.
Desde o século XIII, dessa tal perseguição aos Cátaros, a
1939 e até aos nossos dias, obviamente que sobressai o fanatismo e a
intolerância religiosa. De facto é aqui que está o fulcro do romance, é nítido a
intenção da autora em fazer-nos ver que fanatismo e intolerância é algo comum
em todas as religiões e não apenas de uma e que a forma como os muçulmanos
fanáticos vêm o mundo e leem o Alcorão, os Cristãos já o fizeram séculos atrás.
Na prática é a essência do Ser Humano que vem ao de cimo no aspecto da
intolerância em compreender e respeitar o seu próximo.
Desta forma o livro acaba por cair num ritmo algo repetitivo
e em acontecimentos previsíveis, ou seja, a partir de certa altura a história
torna-se bastante previsível e o desenlace é de todo muito mau engendrado,
ficando uma série de pontas soltas ou, se quiserem, factos por explicar.
Por outro lado achei curioso estarem aqui várias sementes do
último livro da autora, “Dispara, Eu já Estou Morto”, esse sim, um livro muito
bem construído e com um conteúdo, do principio ao fim, coerente e muito
interessante.
2 comentários:
Olá Iceman,
Gostei muito da tua opinião sobre o livro, nunca li nada desta escritora. Contudo estava curiosa com o livro"Dispara, que eu já estou morto" que pelo que referes é um bom livro. Quando as finanças me permitirem irei adquirir.
Beijinhos e boas leituras.
Olá Carla.
Já deixei a minha opinião sobre o livro "Dispara, eu já estou morto" que, quanto a mim, é a sua melhor obra.
Beijinho e boas leituras.
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