O séc. XIV foi um século muito importante para o Mundo. Um século de importantes acontecimentos que mudaram para sempre a face do planeta assim como estiveram na origem de alterações sociais e culturais que impuseram o fim da época medieval e o começo da Idade Moderna.
Atente-se que é na época temporal documentada no livro que sucede o Descobrimento da América, do Brasil, do caminho marítimo para a Índia, a travessia do estreito de Magalhães, a expulsão dos judeus de Espanha, a conversão forçada ou expulsão dos judeus de Portugal, o tratado de Tordesilhas e tantos outros. Penso que em altura nenhuma da Humanidade tantos acontecimentos se sucederam num tão curto espaço de tempo.
Só por estes acontecimentos o livro deveria ter interesse bastante, no entanto a autora optou por centralizar-se na figura de D. Manuel I, deixando para cenários secundários todos esses importantes acontecimentos acima mencionados, porém, na minha opinião e embora no final fiquemos com uma ideia da vida de D. Manuel, penso que a autora não conseguiu explorar a vida do rei, acabando por o transformar também ele numa figura secundária.
Mas, dirão, o livro não é sobre as mulheres de D. Manuel?
Sim, é suposto ser!
D. Manuel, que aqui é caracterizado como um homem bom e apaixonado, casou com D. Isabel de Aragão, depois D. Maria (ambas filhas dos reis católicos) e, finalmente, D. Leonor, irmã de Carlos I de Espanha e sobrinha de D. Isabel e D. Maria.
Todos os casamentos obedeceram a propósitos políticos, porém a autora prefere dar-lhe um cunho pessoal, que até faz sentido, fazendo de D. Manuel um homem algo obcecado por uma figura de mulher comum às três que com ele casaram.
O livro centra-se de facto na vida destas três mulheres.
Cartas, que deduzo ficcionais, expõem um pouco das suas intimidades que ajudam a descobrir o ser humano por detrás das rainhas, no entanto há qualquer coisa que na narrativa não convence.
A explanação das suas vidas é algo sensaborona, tirando essas cartas que pouco contam, o resto é uma narrativa de capítulos muito curtos que apenas vão aflorando alguns dos acontecimentos da época. Ou seja, na minha opinião, a autora consegue a proeza de construir um romance onde tudo é secundário, onde nada ocupa uma posição de destaque, onde nada se destaca.
Findo o livro ficamos com uma ideia da época mas nunca com a imagem real do esplendor dessa época e sobretudo da grandeza e importância de Portugal. Veja-se que é no reinado de D. Manuel I que Lisboa passa de uma vila com pouca importância mercantil para uma das mais importantes cidades do mundo. Uma cidade que pululava de vida, de figuras importantes, altos dignitários das principais casas reais, uma cidade que recebia diariamente navios carregados de riquezas. Tudo isso é relegado para segundo plano.
Penso que a autora, mesmo centrando-se no propósito de escrever sobre as três mulheres de D. Manuel, poderia e deveria ter sabido explorar todo um manancial que estava à sua disposição. Foi pelo caminho mais fácil e elaborou um livro que se lê bem mas que não deixa grandes saudades.
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