No
final de cada ano, quando é costume postarmos os melhores e piores leituras
desse ano, há bloggers que afirmam ler uma média de 1 livro por dia, ou seja,
há quem afirme que leu 365 livros ou até mais. Honestamente sempre achei isso
muito difícil, para não dizer impossível, a menos que a pessoa faça da leitura
profissão e dedique a ela, 7, 8 ou 9 horas por dia, aí sim, é possível ler um
livro por dia com umas 350 páginas ou mais. Em todo o caso, pessoalmente, faço
da leitura momentos de prazer e de vazão do meu dia-a-dia, podendo ler mais ou
menos por dia ou, simplesmente, nem sequer ler, pois é algo que adoro mas não o
faço enquanto obrigação/dever, nem para mim e muito menos para ninguém.
Há uns
anos, muito anos antes do surgimento dos blogues (sensivelmente em 1995),
aprendi que gostava de falar com outras pessoas do que havia lido e do que elas
liam e, mesmo nos primórdios da internet, achei um site onde uma comunidade
colocava opiniões sobre diversos produtos, inclusivamente livros, comunidade
essa que, como tudo na vida, acabou por definhar e morrer tempos depois. Depois
surgiram os blogues, mas e a meu ver não é a mesma coisa, pois torna-se algo “muito”
nosso e com pouca interacção com outros leitores, mas enfim, acaba também por
ser uma catarse de cada um, um pequeno mundo onde se conhecem algumas pessoas e
suas preferências literárias.
E é como
um escape a forma como olho para os blogues. Uma forma de narrar para o
universo aquilo que pensamos sobre determinadas situações. Mesmo que ninguém
nos leia, que importa isso? O que importa é o acto de escape que o blogue
permite.
Nina
Sankovitch tem um choque traumático na sua vida e como qualquer mortal, tenta
combater esse choque alienando-se um pouco da realidade, entregando-se tão
febrilmente à família, casa, trabalho, que não tem tempo, e é isso que ela
pretende, de combater a dor do falecimento da sua irmã mais velha. No entanto
três anos depois sente que a dor é mais profunda, que em nada amainou e chega à
conclusão que necessita de um escape, algo que a faça reencontrar com a vida.
E,
simplesmente, decide ler um livro por dia e escrever sobre ele (sim, há um
blogue da própria com todas as recensões). Para quê?
Diz
ela: “Quando decidi ler um livro por dia
e escrever sobre ele, parara finalmente de fugir. Sentei-me, imóvel e comecei. Todos
os dias lia e devorava e reflectia sobre todos os livros…”, “… mergulhava no mundo que os autores tinham
criado e testemunhava novas formas de enfrentar as reviravoltas da vida…”, “… através da minha leitura, atingi o ponto
de compreender isso.”
Na
minha opinião, ela diz tudo o que este livro simboliza.
Ela começa
por explicar como é o seu projecto. Ou seja, continua a ter tempo para a família,
amigos, casa, mas decide dar um ano a ela própria e faz da leitura a sua
profissão, dedicando largas horas por dia à mesma. Desta forma consegue ler um
livro por dia onde a premissa é apenas não ler livros que já tivesse lido e não
repetir autores. Dessa forma vai avançando, livro a livro, enquanto nos dá
várias reflexões do mesmo. No entanto não se julgue que se trata de um livro
que fala de outros livros. Nada disso, é a catarse de Nina que nos é dado a ler
e vamos observando como ela vai vencendo, através da leitura, o trauma e a dor
da perda de alguém muito querido. Por outro lado ela aborda em várias ocasiões o
passado traumático da sua família e a forma como o mesmo serviu de alicerce
para a pessoa que é e para a educação que dá aos filhos.
Em
suma, um livro que gostei muito de ler e que me fez reflectir sobre muitos
factores da nossa vida, chegando a conclusão que de facto pode ser na leitura
que exista explicação para muitas das questões que colocamos a nós próprios e
que a mesma pode ser um veiculo de prazer, sabedoria, paz e amizade.
Nota
final para algo que sinceramente acho que podia ter tido um trabalho melhor por
parte do tradutor. No fim do livro Nina coloca o nome e autor de todos os
livros que leu, no entanto tirando três ou quatro livros, todos eles vêm no seu
nome original. Nada que transcenda a nossa inteligência, pois pelo autor
depressa descobrimos que livro se trata, mas penso que teria sido um trabalho
de excelência por parte do tradutor se essa lista estivesse traduzida para
português e já nem refiro na importância de colocaram a editora, mas isso até
compreendo a publicidade.
1 comentário:
Olá!
Li este livro há algum tempo, mesmo no inicio do meu blog. E gostei muito.
Gostei da ideia de nos organizarmos a conseguirmos ler um livro por dia.
Mas não consegui... :)
Beijinhos e boas leituras
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