Desde a sua edição em Portugal
que a trilogia Millenium me despertou atenção, sobretudo porque desde o início
gostei da sinopse e o facto de ter tido tanto sucesso foi algo que,
pessoalmente, me veio dar a certeza de estar diante de uma obra com densidade e
qualidade.
Em todo o caso fui adiando a sua
leitura, até à presente data e, embora não tenha considerado este primeiro
volume uma obra excepcional, foi uma obra que me deu prazer ler e cuja leitura
foi rápida, pois e para além da história que considero bem conseguida, tem um
ritmo bastante elevado.
Mikael Blomkvist éw um jornalista
da área de economia que se vê em tribunal acusado, e condenado, por difamação
de um importante personagem da área financeira. Condenado a três meses de
prisão, Blomkvist decide afastar-se temporariamente da revista Millenium,
revista do qual é director. Nesse afastamento, que é na prática uma espécie de
ano sabático, ele decide aceitar o convite de um dos mais importantes
industriais da Suécia para investigar o estranho desaparecimento, há cerca de
40 anos, da sua sobrinha-neta que, de uma forma misteriosa, desapareceu sem
deixar vestígios. Mikael decide assim partir para a pequena ilha, domínio
daquela importante família, onde empreende uma apurada investigação no sentido
de descobrir o que de facto sucedeu à sobrinha-neta de Vanger.
Confesso que gostei da história,
mas principalmente o que me foi cativando foi a densidade e força de certas
personagens. Primeiro, todas as personagens estão muito bem conseguidas e,
penso, ser uma das chaves de sucesso da obra. Todas elas contendo idiossincrasias
diferentes que, interligadas, tornam o trama atraente e fascinante. Em todo o
caso há algumas que se vão sobrepondo, não apenas pela minuciosidade com que
são descritas, como igualmente pela importância que vão tendo. Mikael Blomkvist
é descrito como um solteirão empedernido, mulherengo, mas de uma determinação e
profissionalismo que fazem dele um jornalista conceituado e temido pelos
políticos. Depois surge uma das personagens que mais me fascinou e que,
considero, residir nela a grande força da obra, Lisbeth Salender, jovem cheio
de problemas, com uma infância perturbadora e difícil mas que revela uma inteligência
além da média e que, com as suas acções, nos vai prendendo e cuja envolvência e
influência são vitais em todo o livro. Para além destas duas personagens,
surgem mais uma série delas que têm igualmente uma enorme força e influencia.
Pese embora seja um livro
volumoso, a sua fácil e rápida leitura, tornam-no pequeno face ao trama que o
autor conseguiu construir e desvendar. Um thriller onde o autor procurou permutar
uma das grandes problemáticas do mundo moderno: a violência doméstica,
sobretudo a exercida sobre as mulheres. Em variadíssimos capítulos, o autor vai
dando dados estatísticos sobre essa violência, obviamente centrada na Suécia,
mas que, de uma forma transversal, está presente em todas as sociedades. No fundo
e por detrás do argumento, o que sobressai é que todos os acontecimentos se
foram sucedendo devido a mulheres que odeiam homens e odeiam-nos porque tiveram
motivos para isso.
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