Portugal,
à semelhança do que sucede em todas as culturas do mundo, possui uma herança
cultural vastíssima em que, como não podia deixar de ser, as lendas, mitos e
histórias de assombrações são parte importante que ajudam a explicar o que
somos como povo.
Quem nunca ouviu falar das lendas das moiras encantadas, ou da
lenda da costureirinha que é mantida em muitas das aldeias do país (que
curiosamente não é referida neste livro), ou na dama de branco que aparece
translucida numa curva famosa pelos acidentes mortais ou até no mega sucesso
que foi “A Curva” na serra de Sintra?
E foi utilizando muitas dessas lendas, mitos urbanos e histórias
que são narradas boca-a-boca (no diz que disse ou alguém ouviu), que a
jornalista Vanessa Fidalgo criou este livro. Ou seja, trata-se apenas e só de
um amontoado de histórias que de assombrações pouco tem e de investigação
própria, nada.
Confesso
que me senti muito tentado a ler esta obra. Não só porque sempre fui um curioso
da temática, mas também porque sempre desejei conhecer alguns dos casos mais
enigmáticos sucedidos em Portugal. Pois bem, a autora traz-nos de facto a
narração de alguns desses casos, no entanto assenta quase todo o livro em
lendas (as lendas das moiras são folclore puro), mitos urbanos e muito pouco em
histórias estranhas e cujas investigações de facto sucederam.
Esquecendo
esses mitos e lendas que pertencem mais ao folclore cultural, a autora
simplesmente narra as histórias conforme as pesquisou em blogs, sites da
internet ou em algumas publicações, sobressaindo aqui e ali, alguns telefonemas
que a autora deve ter efectuado (pelo menos é o que subentende).
Confesso
que me senti ludibriado com o livro. Embora sendo jornalista, a autora, que até
se baseou em trabalhos de outros colegas, não foi ao local investigar nada, e
inclusive traz para este livro relatos de pessoas que, dizem, ter passado por
experiências paranormais em determinados locais, mas sem existir outras
testemunhas. É como se, por exemplo, eu agora fosse dizer que um dia ia numa
qualquer rua em Lisboa e que tinha sentido uma força invisível a barrar-me o
caminho e que depois tinha fugido com medo. Pronto, siga, está bom para colocar
no livro.
Embora
tenha gostado de ler algumas dessas histórias, acabei o livro a saber quase o
mesmo que sabia antes. Lugares supostamente assombrados em Portugal deve haver
muitos (onde está, por exemplo, o moradia dos vasos em Rio de Mouro?), mas este
livro mostra poucos e se mesmo assim pretendemos saber o que deu a suposta
investigação de alguns dos casos mencionados, então o melhor é pesquisar na
net, pois o livro é quase omisso nessas explicações, sem falar em explicar ou
teorizar, enfim, népias.
Em todo o
caso o livro não é assim tão mau.
A forma
como está dividido ajuda a descortinar algumas características entre tipos de
assombrações, ou lendas ou outra coisa qualquer. Acima de tudo, o livro é útil
porque reúne muitas lendas e mitos que povoam o nosso país e que são, acima de
tudo, de uma riqueza cultural a preservar e, nesse contexto, a autora está de
parabéns pelo trabalho desenvolvido.
A meu ver
o livro peca pela falta de investigação. Talvez a minha expectativa fosse
elevada face ao que li na sinopse, no entanto, repito, algumas dessas histórias
estranhas, mereciam e deveriam ter sido melhor aprofundadas, sem falar na
ausência de outros casos já conhecidos e investigados. Por outro lado não me
parece que a autora se tenha deslocado aos locais. A maioria dos relatos e a
própria admite, são retirados de fóruns que comentam sobre os casos, são
retirados de artigos da net e inclusive até uma reportagem da revista Sábado é
aqui utilizada. Ou seja, achei o livro fraco, uma espécie de trabalho escolar
de um aluno do secundário e muito longe de um suposto trabalho de investigação.
2 comentários:
Ouvi hoje falar sobre este livro na TV, fiquei com curiosidade e daí a vir pesquisar criticas na net foi um passo... parece que afinal não é aquilo que eu pensava. Obrigada pela clarificação...
Sim, a ideia parece ser boa, mas se peca falha na construção… :P
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