A Mónica Pinho Silva foi uma das vencedoras do passatempo "A Brisa do Oriente" que o Blog NLivros, em conjunto com a editora Saída de Emergência, efectuou no passado mês de Julho.
Simpaticamente aceitou o meu repto para que escrevesse uma opinião quando terminasse a leitura da obra. Eis o resultado.
Esta
obra, dividida em dois volumes de soberba qualidade, narra a história de Umberto de Quéribus, um jovem monge cujo percurso de vida
semeado de perigos e inesperadas reviravoltas forçam o seu crescimento e a
perda da sua candura infantil. A autora promove constantemente o contacto de
Umberto com situações extremas que lhe permitem analisar o sentido da sua vida
e põem em causa a manutenção da sua fé.
Como pano
de fundo de toda a narrativa, destaca-se uma notável caracterização da Europa
Medieval do séc. XIII, uma época delineada pela violência e intolerância
religiosa. A origem da Inquisição, descrita no segundo volume, fortalece ainda
mais esta perceção, na medida em que o clero aumenta o seu poder sobre a vida e
a morte dos seus súbditos. Toda a trama é descrita de uma forma intensa,
empolgante e sem pudores desnecessários, retratando fielmente uma época negra
da História da Humanidade.
Ao
longo desta narrativa encontra-se patente um paralelismo entre os membros do
clero que promovem este poder desmedido, não apresentando quaisquer valores
éticos ou morais e potenciando atos hediondos, e aqueles que ousam questionar
estas atitudes em prol do que consideram correto. A desilusão de Umberto
perante as ações dos que se consideram os “verdadeiros cristãos” e da
crueldade, ganância e insensatez da igreja católica, fornece-lhe uma nova
perceção do mundo que o rodeia. Assim, Umberto, ao longo da sua jornada,
interroga-se acerca da legitimidade de perseguir crenças distintas – ditos
“hereges” – quando os seus detentores apenas pretendem viver uma vida pacífica
e muitas vezes mais moral do que o próprio clero. Neste sentido, surge uma
questão bastante atual: será que crenças diferentes não poderão coexistir
pacificamente? Tudo isto facilita o distanciamento de Umberto da obediência
cega e dos ensinamentos rígidos que apresenta no primeiro volume, culminando
numa consciência mais abrangente da sociedade em que vive.
A
autora é também exímia na criação de personagens com as quais se torna fácil
desenvolver uma relação, na qual sofremos com as injustiças e as perseguições
aos inocentes, perpetradas em prol do fanatismo religioso, e rejubilamos quando
os planos dos vilões fracassam. De igual modo, esta obra possui o típico
romance impossível mas com uma pureza que nos faz torcer por um final feliz. No
fundo, esta é uma narrativa acerca, não apenas da capacidade de ultrapassar as
injustiças de uma era, mas principalmente do sentido profundo da amizade e do
amor.
Na minha opinião, o desfecho foi talvez um pouco previsível e
algo banal, pois considero que o resto do argumento teria potencial para um
final com maior impacto. Contudo, não deixa de constituir um romance histórico
verdadeiramente notável, cuja leitura recomendo vivamente.
Obrigado Mónica pela brilhante opinião. Fiquei contente por a leitura te ter agradado e convido todos aqueles que venceram livros nos passatempos do blog, que enviem as opiniões para serem posteriormente publicadas.
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