Mais um livro que me levou uma eternidade a ler, não só
porque o meu tempo para dedicar à leitura já não é o mesmo e porque, também e
estranhamente, este livro, ou pelo menos este primeiro volume desta trilogia,
não me cativou, aborreceu-me mesmo.
Muitos sabem o quanto admiro a escrita de Bernard Cornwell.
Exceptuando os inúmeros livros da saga Sharpe, penso que já li tudo o que ele
escreveu e, embora tenha gostado mais de uns do que de outros, fascina-me
sempre a forma viva como Cornwell “pinta” os cenários históricos que cria, a
forma realista como descreve batalhas e quotidianos há muito perdidos na
História.
Nesta presente saga, Bernard Cornwell situa a acção em 1861
em pleno início da Guerra Civil Americana. De um lado os Estados Confederados
do Sul e do outro, os Estados Unidos do Norte. De notar ser este o contexto, no
entanto e neste primeiro volume, Cornwell nunca se debruça sobre questões políticas,
ou seja, quem não souber do porquê deste conflito, nada vai ficar a saber.
O herói dá pelo nome de Nathaniel Starbuck. Nascido no
norte, filho de um pregador anti esclavagista, foge para o Sul atrás de uma prostituta
por quem se apaixona, no entanto, vê-se nas mãos de um bando de sulistas que o
querem linchar. É salvo pelo excêntrico Washington
Faulconer que o convida a incorporar um regimento de tropas para combater os
yankees. Starbuck vê-se assim diante de um dilema: ao alistar-se nas tropas do
sul, vai combater as tropas do seu país, arriscando-se a encarar no campo de
batalha o seu irmão e amigos.
Pese embora o estilo de
Cornwell esteja lá. A forma objectiva, directa e realista, o certo é que ele
perde-se na descrição da composição do regimento Faulconer, assim como em
pormenores da excentricidade desse personagem. De princípio ao fim, a
personagem de Nathaniel não é muito credível. Ou seja, jamais consegue ter aquele
carisma que os principais personagens de Cornwell têm. Não é muito coerente a
sua forma de agir, nem lógico as causas que o levam a tomar parte de um lado
que não é o seu. Depois, um dos principais pormenores das obras de Cornwell, é
ter sempre um personagem forte que combate como um leão e que inspira nos seus
inimigos temor. Com Nathaniel isso não acontece. Pouco mais do que um miúdo,
ele próprio não sabe bem o que anda ali a fazer e, na única batalha que este volume
descreve, Nathaniel assume uma postura e age de uma forma estranha.
Algo que também não
apreciei, foi a quase ausência de cenas de violência militar. Ou seja, qualquer
livro de Cornwell é semeado abundantemente de cenas de batalhas ou de conflitos
extremamente violentos e reais. Aqui isso não se passa. Exceptuando uma ou
outra escaramuça, apenas nas últimas páginas surge uma batalha entre os dois exércitos.
Claro que escorre então muito sangue, homens e cavalos esventrados, etc e tal,
mas o certo é que não chega para elevar este livro a um dos melhores deste
autor que, pessoalmente, é um dos melhores do gênero histórico.
2 comentários:
Boas! Já li várias obras do Cornwell e a opinião com que fiquei foi que ele se sai melhor em cenários mais medievais, com batalhas de espadas e afins; quando li "O Forte", também num cenário semelhante, não me cativou nada pelo excesso de pormenores tácticos e falta das descrições de batalhas que ele faz tão bem.
Jorge
Ora aí está na mouche.
É precisamente isso que eu acho. Em cenários medievais, Cornwell sente-se como peixe em água. A época em si encaixa-se melhor no seu estilo.
Quando ele muda o cenário, o interesse cai um pouquinho porque os cenários de violência já não são tão comuns.
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