Tido
como o 2º volume de uma trilogia em que o autor se propõe a narrar a situação
de Portugal durante três conflitos, sendo que o primeiro volume foi o excelente
“Memória das Estrelas sem Brilho” onde o enredo se situa durante a 1ª Grande
Guerra, este volume, A Vendedora de Cupidos, situa-nos entre 1943 e 1945 em plena
2ª Grande Guerra e tem como plano de fundo um Portugal rural, onde as suas
gentes levam uma vida de trabalho e sofrimento sempre com receio que a guerra
que está a suceder na Europa os envolva.
O
livro inicia-se com a morte do padre da Gralheira em Dezembro de 1943 que
aparece morto na sua cama. Aparentemente falecido de morte natural, o regedor,
autoridade policial da freguesia, é chamado para averiguar a ocorrência,
procedendo a uma série de averiguações que o irão fazer ponderar na hipótese de se
ter tratado de um crime. Nas suas investigações, irá descobrir que o padre de
santo tinha muito pouco e que se havia envolvido com uma mulher casada, e
casada com um homem rico e importante e, para além disso, que esse padre estava
envolvido no desvio de volfrâmio de uma mina explorada por uma companhia alemã.
É,
diga-mos, esse o ponto de partida para um enredo que, na minha opinião, não
tendo a qualidade e o interesse do livro antecedente, é, porém, bem
conseguido e que nos lança numa série de eventos muito interessantes e que nos
irão dar a conhecer um Portugal profundo, cheio de superstições e de conceitos
que, a meu ver, pouco mudaram, ou seja, é possível perceber que a mentalidade lusitana
pouco ou nada mudou desde essa altura.
Por
outro lado temos também a questão da extração do volfrâmio e dos jogos políticos
do governo português que, de bem com Deus e com o Diabo, permitiram Portugal
ser uma nação neutra e assim evitar a invasão nazi que paira desde o início.
Percebemos, dessa forma, como se jogaram os dados, satisfazendo ambos os lados
do conflito e a importância vital que o volfrâmio teve.
Mas
e tirando esse facto histórico, temos um enredo que gira de início a fim sobre
a misteriosa morte do padre, trazendo-nos alguns personagens do livro anterior,
pese embora tenham uma participação secundária, porém uma participação que
gostei, embora não me tivesse importado que a sua participação tivesse sido mais
incisiva.
De
salientar também as várias “considerações” que o autor vai fazendo ao longo da
obra: “A justiça nunca foi
feita para castigar os criminosos. A justiça existe para salvaguardar os seus
interesses e livrá-los do castigo.”. Às tantas, numa
conversa onde se fala sobre os Lusíadas, alguém afirma: “A visão que dá dos portugueses é uma farsa. Nós não somos um povo de
heróis. Somos um povo de ladrões e oportunistas”, e outras considerações
pouco abonatórias para os políticos…
Em
todo o caso gostei muito do livro e vou procurar ler agora o terceiro volume: Heróis
do Capim, este editado em 2016.
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