Tendo sido nomeado para algumas
categorias dos Óscares 2019 (ganhou o Óscar de Melhor Argumento Adaptado), este
filme, realizado por Spike Lee foi o filme que mais me surpreendeu pela
positiva dos últimos tempos, não apenas porque é um filme politicamente
incorrecto e incómodo, como também porque coloca o dedo na ferida, ou seja,
consegue ir ao âmago de Ser do norte-americano, dando-nos a perspetiva racial
de ambos os lados.
Mais curioso é saber que a história
que está na génese do filme é real.
Ron Stallworth, um detective
negro, caso raro nos anos 70, consegue infiltrar-se no Ku Klux Klan (KKK) simultaneamente
que se consegue infiltrar e insinuar em reuniões dos panteras Negras. Ou seja,
logo desde início temos perspetivas antagónicas de um dos maiores flagelos da
Humanidade: O Racismo e xenofobia, sobretudo nos Estados Unidos, um país com
uma enorme tradição secular racista (basta ver o que esteve por detrás da
guerra civil 1861-1865), sendo que ainda hoje o Sul dos Estados Unidos são
altamente racistas e é fácil perceber isso sobretudo em pequenas cidades do
interior onde a bandeira da confederação surge em muitos quintais
orgulhosamente hasteada.
Não vou abordar como Ron
Stallworth se consegue infiltrar na KKK, para isso convido a ver o filme que
valerá bem a pena, mas o que sobressai no filme e, penso que foi a intenção de
Spike Lee, é demonstrar e sobretudo alertar, para o facto de os Estados Unidos estarem
a regressar a esse passado com o governo de Donald Trump. Não é por acaso que o
principal lema do KKK é: America First!
Mas para dar um toque do quanto
absurdo isto tudo é, Spike Lee dá-lhe um toque mesmo paradoxal na forma como
explora a violência verbal, o ódio nas expressões e no próprio desenrolar do
filme, escarnecendo com a situação e com os cargos políticos.
Obviamente que o realizador
destaca mais a comunidade negra, tornando-a mais dócil, dando até uma imagem
que ser negro é “um modo de vida”, não sei se me faço entender, mas consegue
evitar diabolizar e ridicularizar os brancos, dando até uma imagem algo cómica
do KKK que, às tantas, começa a parecer uma daquelas organizações cheias de
intenções ilusórias dirigidas por alucinados que não fazem mal a ninguém, mas
que, de repente e levados por um ódio insano que nem eles conseguem explicar,
explodem com algo causando várias vitimas.
Ou seja, o filme vai alterando
entre um Drama e uma comédia, sempre colocando o dedo na ferida na complexa
teia em que tudo se vai formando.
Dos protagonistas, pese embora o papel central esteja em John
David Washington e Adam Driver, que efectivamente estão muito bem, eu confesso
que gostei muito da representação de Jasper Pääkkönen no papel de ultra fascista
membro dos KKK, Félix, sinceramente, achei a sua interpretação brilhante,
chegando ao ponto de ser hilariante a forma como ele pensa e vê a organização.
Classificação: 4 Estrelas em 5
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