As Mil e Uma Noite era daquelas obra que há muito constavam na minha lista de clássicos. No entanto e aproveitando a recente edição do Jornal de Notícias, só agora é que me lancei neste aventura de a ler, porque acreditem que é mesmo uma grande aventura ler este conjunto de contos.
As Mil e Uma Noite é pois um conjunto de contos que estão elaborados de forma a contemplarem-se entre si, no entanto estes mesmos contos podem ser lidos de uma forma independente, pois cada um é uma metáfora, uma alegoria a algo.
Estes contos não têm autor ou autores conhecidos, desconhecendo-se mesmo as suas origens e em que altura surgiram reunidos em volume, embora se saiba que estes contos derivam das tradições populares que foram sendo transmitidos de forma oral de geração em geração. Porém existem registos que já mencionam a existência deste volume no séc. VII, pelo menos grande parte dos textos. Mas o que se sabe com certeza, é que esta obra é um retracto magnífico das antigas culturas orientais, grande parte das tradições árabes são aqui mencionadas, sendo muito usual nome como Bagdad, Cairo, Pérsia, Constantinopla, Damasco, etc.
Esta obra chega á Europa no séc. XVIII, através de Antoine Galland, arqueólogo e diplomata francês que, apaixonado por uma cultura em que esteve inserido durante grande parte da sua vida, acabou por efectuar a primeira tradução desta obra para o francês, oferecendo assim ao Ocidente uma descrição do pensamento, modo de vida e cultura popular de um povo tão desconhecido.
Quanto à obra:
Há muito, muito, mas mesmo muito tempo, em terras do Oriente, existia um poderoso sultão que era muito amado pelo seu povo devido à sua generosidade e justiça que demonstrava. Esse sultão tinha uma esposa, tão jovem e casta, que amava muito e que cuja presença davam aos seus dias uma luz só comparável à luz do divino. Porém, a sua doce e bela sultana era-lhe infiel e quando o poderoso sultão descobriu a traição de que era constantemente alvo (e logo em flagrante), uma onda de violência varreu o palácio, acabando o sultão por assassinar a sua esposa e decretando que a partir daquele dia, todos os dias desposaria uma jovem de entre as jovens do povo, assassinando-a quando o Sol nasce-se, impedindo assim qualquer traição. Surge então Xerazade, filha do vizir (espécie de primeiro-ministro) que, mesmo indo contra a vontade do pai, disponibiliza-se a contrair matrimónio com o sultão. Assim, graças à sua inteligência, beleza e cultura, ela consegue adiar a sua morte noite após noite, devido às histórias que vai contando, deixando sempre as mesmas em situação de suspense quando o Sol nasce. O sultão, ansioso por saber o fim dessas histórias, acaba sempre por adiar a execução.
É desta forma que, através de Xerazade, vamos tomando conhecimento de dezenas de fábulas que nos narram as tradições culturais do povo oriental, de personagens que actualmente pululam no nosso imaginário: Aladino, Ali Bábá, Sindbad, Zobeida e a própria Xerazade. Todas estas histórias das quais destaco aquelas que mais apreciei: ”O Mercador e o Génio”; ”História do jovem Rei das ilhas negras”; ”História do Invejoso e do Invejado”; ”História de Zobeida”; ”Sindbad o Marinheiro”; ”Nuredine”; ”Aladino”; ”O Princípe Ahmed”, acabam por ser metáforas didácticas, sendo também e na minha opinião, pelo menos gosto de pensar assim, histórias que caricaturam situações reais.
De notar que e segundo a tradição oriental em relação a estes contos, os mesmos, na sua génese, tinham um forte cariz erótico, alguns eram mesmo ostensivamente sexuais, no entanto, Galland retirou ou omitiu todas essas alusões, o que na minha opinião é uma pena, pois para além de podermos perceber o aforismo dessa cultura nesse aspecto, o ambiente e as situações descritas são, sem dúvida, propícias ao erotismo.
Em suma: embora contenha alguns contos pouco interessantes e repetitivos (existem sempre mercadores, sultões e vizires), esta obra, no seu todo, dá-nos realmente uma visão da cultura oriental e do seu modo de vida. As paisagens descritas são exóticas e a componente mágica está quase sempre presente (muitos génios e outras situações irreais).
Assim e para os curiosos desta cultura, será uma obra para ser lida e analisada com calma. Para os outros (onde me insiro), é uma obra curiosa, cheia de contos sobre a moral, com muitas princesas, sultanas, sultões, vizires, mercadores e génios, que entretém e que nos transporta a um mundo e uma cultura muito diferente da nossa.
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