sexta-feira, 28 de junho de 2013

Este é o Reino de Portugal – José Brandão



Ciumentos, vingativos, cobardes, invejosos, frívolos, presunçosos, impostores, vaidosos, arrogantes, velhacos, traiçoeiros e desonestos. Eis alguns dos adjectivos com que alguns visitantes estrangeiros caracterizaram o povo português aquando da sua estadia no nosso país. Porém, nem só disseram mal, do povo português disseram também ser bondoso, de brandos costumes, alegre, leal, dócil, paciente e humilde.

A literatura de viagens esteve muito em voga no séc. XVIII, época em que se assistiu, um pouco por  todo o mundo, ao surgimento de várias obras sobre lugares de estadia e descrição dos povos e seus usos e costumes.

Portugal não escapou a isso e, embora em menor número, são vários os personagens, alguns mais conhecidos que outros, que por cá passaram e que escreveram as suas opiniões do que viram e sentiram.

Obviamente que há muito exagero, alguma ignorância e também a influência de outros relatos pejorativos que circulavam sobre Portugal a partir da restauração da independência. Penso mesmo que alguns dessas descrições foram efectuados sem o mínimo conhecimento de causa, apenas baseados em rumores. Em todo o caso, de todos os relatos deste livro, há aqueles que são nitidamente facciosos e outros em que se nota uma preocupação pela verdade e pelo bom senso.

De notar que há muitos pontos em comum entre todos os relatos. Sobretudo nos relatos efectuados na mesma altura temporal, há criticas ao perfil do povo que são muito semelhantes, levando-nos então a crer que de facto era assim mesmo e isso é deveras interessante pois é possível perceber como se vivia em Portugal e sobretudo Lisboa nessa época.

Curioso também constatar das constantes críticas às entidades políticas, à forma como exploravam e maltratavam o seu povo, ter tanto de semelhante com a actualidade. Ou seja, o que se referia há 250 anos como um dos principais males da nação, continua a ser referido hoje em dia.

Um documento muito interessante que nos leva a conhecer como vivia e comportava o povo português a partir de 1676 e que nos transmite muitos dos defeitos que, mesmo não gostando de admitir, estão por detrás da nossa eterna crise que irá continuar a ser eterna. Não adianta pensar o contrário, está-nos no sangue.

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Fim das parcerias

Há cerca de três anos iniciei uma série de colaborações com algumas editoras. Tudo começou num pedido meu a uma editora que considero ser uma das melhores editoras nacionais e, pouco depois, recebi vários mails a proporem-me essas cooperações nas mais diversas condições, sendo que a única que vincou e aquela por que me bati foi o de publicitar no meu blog as novidades e, em retribuição, eu solicitaria, dentro dessas novidades, os livros que bem entendesse para posterior opinião no blog e até hipotético passatempo.

Não escondo que correu muito bem nos primeiros tempos. Livros em barda, a maioria, de facto, que considerava interessantes e eu sempre com a preocupação de ler a sua maioria para por fim escrever a opinião. De ressalvar que uma das condições que sempre impus foi o de ser completamente independente das minhas considerações.

No entanto nos últimos tempos, quiçá devido às centenas de blogues que possuem essas colaborações e que se limitam a vomitar publicidade de tudo o que é livro, lançamento, entrevista e afins, apercebi-me de algum cansaço das próprias editoras, pois decerto estão a chegar à conclusão que o retorno dessas cooperações é menor do que aquele que julgavam.

Pessoalmente penso que as editoras são as principais culpadas pela sua falta de critério em atribuir essas parcerias. Bastaria navegar uma vez por semana nos blogues que com elas colaboram para se perceberem qual o verdadeiro objectivo desses bloggers. Blogues vazios, cujo único conteúdo é publicidade, enfim, pergunto: Serve a uma editora um blogue desses que ninguém visita?

Mas adiante.

O certo é que cansei-me destas parcerias. Cansei-me de receber mails das editoras com as novidades, ter de as ler e analisar e depois trabalhá-las para as postar. Cansei-me de, depois desse trabalho, e embora cada vez peça menos livros (há uma editora que não peço livros há quase um ano), esperar uma eternidade para os receber e é quando, mesmo depois desse eternidade, só enviam alguns. E depois há aquelas que simplesmente enviam as novidades, agradecem quando eu as post mas depois não enviam os livros. Semanas depois de eu insistir, dizem que têm muito trabalho e tal.

Por isso cansei-me disto tudo!

Vou deixar de postar qualquer novidade ou notícia de qualquer editora.

Vou voltar às raízes do meu blog e escrever sobre livros que me apetece ler e não, como por vezes acontecia, livros que tinha de ler porque enfim, tinha-me sido oferecidos e faziam parte do acordo.

Quando quiser determinado livro, compro-o ou vou a uma biblioteca.


segunda-feira, 10 de junho de 2013

Inferno nos Açores – Clive Cussler & Graham Brown




Confesso que não sou um grande apreciador de livros de aventuras, tipo James Bond e afins, em todo o caso gosto de ir intercalando as minhas leituras e, durante o ano, acabo por ler livros de géneros muito diferentes. 

O presente livro captou-me a atenção por ver envolvido o nome dos Açores e também porque o nome do autor já me havia despertado alguma curiosidade, decidi então empreender a leitura do livro.

E de facto a acção é estonteante de princípio ao fim, numa aventura cheia de peripécias que mete assassinos contratados por um ditador que anseia dominar o mundo, os bons que, para além de transpirarem charme por todos os poros, têm jeito para tudo, inclusivamente para comediantes, a bela sedutora ao serviço secreto de uma nação que tem interesses no que se está a passar, os habituais norte-americanos e porrada de princípio ao fim, com muitas mortes, atentados e acidentes. Novidade, falar-se várias vezes de Portugal e de portugueses.

Mas, em todo o caso, não pensem que não gostei.

É um livro que entretém, apenas e só, mas cujo tempo não é mal empregue. Gostei da escrita e da forma como a estrutura do livro foi trabalhada, sempre com pequenos capítulos cheios de suspense.

Para quem aprecia o género, penso que encontrará nesta obra uma leitura prazeirosa que o levará a vários cenários, onde a acção, a violência e a intriga andam alegremente de mãos dadas.

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Jardins de Canela – Shyam Selvadurai

Eis aqui uma obra que me encantou e cuja existência, até do autor, era para mim totalmente desconhecida.

De uma sensibilidade marcante, Selvadurai oferece-nos um livro magnífico que nos emociona, que nos envolve numa teia de sentimentos arrebatadores e que, por fim, nos permite ver que a vida nem sempre é o que queremos que seja, ou, se quiserem, que a vida dá voltas e voltas levando-nos por caminhos que nem sempre são aquilo que desejamos.

A escrita de Shyam é poderosa, cativante, poética.

É dos tais que tem o “dom” da escrita, sabe contar uma história, interligando factos e personagens de uma forma coerente, nunca deixando pontas soltas ou pormenores por explicar.

Neste romance, para além da história, temos o contexto social que o autor sabe situar e explorar, criando personagens fascinantes que se transformam em nossos amigos íntimos, camaradas e companheiros de uma jornada que, quando termina, nos deixa tristes e saudosistas.

Não vou aqui revelar nada da história porque este é um livro que merece ser lido e apreciado de uma forma calma. Não leiam esta obra para ser apenas mais um a juntar á pilha anual, não merece ser tratado assim. Merece ser apreciado, degustado como se de uma garrafa do melhor vinho se tratasse.


Até agora, o melhor livro que li este ano.