sábado, 16 de maio de 2020

Autobiografia - José Luís Peixoto

José Luís Peixoto é um escritor do qual nutro uma enorme simpatia, pese embora não seja um escritor cujas obras anseio ler, pois, as que li até à data, revelaram-se sempre leituras difíceis, embora muito prazerosas.

Dessa forma, na minha opinião, JLP “exige”, dos seus leitores, uma leitura apurada e atenta, pois os seus romances não são meros romances de entretenimento, revelando-se sim, romances onde as diversas realidades se fundem, onde a ficção se funde com a realidade num puzzle que se vai construindo a pouco e pouco, através de diversos jogos, onde a linguagem ocupa, sempre, lugar primeiro.

Neste seu último romance, o autor propõem-nos uma organização estrutural onde o cruzamento entre o realismo e a ficção se apoiam no autor e em José Saramago.

Dois Josés, étimos narrativos que se encontram e onde, um deles, se propõe a escrever a biografia do outro que, aos poucos, se vai revelando uma autobiografia.

È neste jogo, espécie efetiva de puzzle filosófico, que personagens reais se misturam com personagens ficticias retirados da obra de Saramago. Pilar, Bartolomeu de Gusmão, Lídia e os dois Josés, compõem assim um quinteto que chega a ser surrealista face às voltas e ao rumo que o romance toma.

E, à medida que a narrativa se vai desenvolvendo, eis que um segredo nos é atirado de chofre à cara, segredo esse que, na minha opinião, é subentendido a meio do livro face à interligação das personagens, porém, e não querendo desvendar qual o segredo, torna-se difícil compreender quais os objectivos de todos os pormenores, pelo menos torna-se difícil saber se estamos a interpretar corretamente.

Em suma, é um livro que exige a melhor atenção do leitor. Não é um daqueles livros para consumo imediato. É um livro que requer atenção. Quero crer que estamos na presença de um dos grandes livros da literatura portuguesa.