sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Águia e os Lobos (A) – Simon Scarrow

Neste 4º volume das aventuras de Macro e Cato, série que Simon Scarrow dedica ao império romano na sua Série Águia, a localização da acção situasse nas ilhas britânicas no ano 44 d.C. quando, no segundo verão da campanha para a conquista da Britânia, Cato e Macro vêm-se no papel de comandantes de duas coortes de guerreiros locais aliados de Roma, os Atrébates.

O imperador Cláudio havia nomeado no anterior o General Aulo Pláucio que, com o apoio do rei dos Atrébates, Vérica, conquistasse e pacificasse toda a ilha. Os seus vizinhos, os Catuvelauni comandados por Carátaco, fazem obviamente oposição cerrada, originando daí uma série de batalhas pela conquista da ilha que vão acabar em enormes combates corpo a corpo e as correspondentes chacinas.

De notar que quase todas as personagens são reais. Excluindo Macro e Cato, o autor utiliza os personagens para desenhar a época e narrar os primeiros anos da conquista da Britânia. O resultado são batalhas formidáveis de uma violência inaudita.

Pessoalmente foi o melhor livro que li desta série. Tinha lido os anteriores três e embora tenha gostado, sempre me pareceram um pouco fracos, com situações muito forçadas. Não no aspecto da explanação da situação histórica, mas sempre um pouco sem sal no aspecto da realidade quotidiana, sobretudo na forma como Cato, com apenas 18 anos se desenvencilha de formidáveis oponentes nas batalhas. Mas enfim, confesso que desta vez gostei imenso das descrições e as narrativas das batalhas são bastantes reais, emocionantes e brutais. As páginas finais são de uma impressionante violência, num ritmo alucinante que nos tira o folego face às situações que surgem em catadupa.

Confesso que fiquei mais entusiasmado com em ler o 5º volume do que com este, que há uns dois anos estava na “pilha”.

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Crónicas do Sul – Luis Sepúlveda

É sempre um enorme prazer voltar a ler autores que admiramos, não só pela sua qualidade literária como também pelo papel que desempenham em expor ao mundo situações ou estados da sua nação.

Luis Sepúlveda é um desses autores.

Chileno, exilado há muitos anos em Espanha, não hesita em apontar o dedo às mais variadas situações que grassam no Chile, sobretudo nos terríveis anos em que Pinochet governou.

“Crónicas do Sul”, é um conjunto de crónicas escritos em 2005 e 2006, em que Supúlveda se debruça sobre uma enorme galeria de acontecimentos que marcaram os anos de horror de Pinochet.

Exercício de liberdade, grito de revolta, uma espécie de autor incómodo para os neoliberais de todo o mundo, o autor vai dissertando sobre vários episódios do seu Chile e também um pouco do resto do mundo. É inegável o seu asco ao neoliberalismo que demonstra, com exemplos claros, funcionar sempre contra o povo em prol das classes mais ricas.

E, mesmo sabendo que a intenção de Sepúlveda é o de narrar e expor as vis políticas e accões de Pinochet e dos seus compinchas, é arrepiante ver na situações descritas exemplos do que está a acontecer em Portugal.

Veja-se este exemplo: “Enquanto as bases da economia, da cultura e da história social do Chile eram destruídas através de privatizações dos bens nacionais que incluíram a saúde e a educação, qualquer tentativa de oposição era esmagada por meio de assassínios, tortura e desaparecimentos ou exílio. Isto é tudo o que Pinochet deixa, um país falido e sem futuro, um país onde os direitos elementares , como o contrato de trabalho, a informação, a saúde publica e a educação, são quimeras mais difíceis de alcançar.” Ou ainda “… que aceitaram sem contestar as tropelias impostas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e pelo Banco Mundial, interessados em fazer parte dessa «realidade económica global» que apenas consegue miséria e êxodos maciços de população

Pois é, a política neoliberal segue um pensamento ideológico bem organizado que opera sempre da mesma forma em beneficio da alta finança e que traz a reboque a corrupção e o trafego de influências e, em muitos casos, como no Chile, governos ditatoriais ao serviço desses interesses.

Isto não vos soa a algo familiar?

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Há casos que me fascinam!

Alguns pelo mistério que encerram, outros pelos factos que estão por detrás desses casos, as atitudes que levaram ao surgimento desses casos, aos motivos.

Um desses é o caso do Assassino do Aqueduto, um caso ocorrido em Lisboa na década de 30 do século XIX. Nessa altura várias pessoas foram assassinadas por um misterioso que, no escuro do Aqueduto das Águas Livres, se aproximava sorrateiramente por detrás e, depois as assaltar e para ninguém o denunciar, as atirava de cima do Aqueduto. Eram 65 metros em queda livre e, de manhã, aparecia o corpo estilhaçado no Vale de Alcântara, hoje zona da Av. Ceuta.



Muito se falou na época sobre esse desconhecido que, embora não oficialmente, fez mais de setenta vítimas.

A agitação causada na cidade foi tão grande, que as autoridades encerraram o Aqueduto o que obrigou o assassino a mudar de esquema, tendo sido finalmente apanhado por outros crimes e condenado à morte em 1841, pondo fim à sua enorme carreira criminosa. Para além dos crimes do Aqueduto, o que torna este caso mais relevante é o facto do criminoso, Diogo Alves, ter sido o último condenado à morte em Portugal e com o pormenor da sua cabeça ter sido conservada em formol na Faculdade de Medicina de Lisboa, onde se encontra até hoje.



Eis que agora surge uma obra que me cativou e que se predispõe a narrar, sobre a forma de romance histórico, este caso que aterrorizou Lisboa: “O Assassino do Aqueduto”, escrito por Anabela Natário, sob a chancela da Esfera dos Livros.


sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Se Isto é um Homem – Primo Levi

Eu: “Terrível. Depois de ter lido a Segunda Guerra Mundial de Martin Gilbert, quis reler "Se Isto é Um Homem" de Primo Levi, autor que esteve em Auschwitz desde Janeiro de 1944 até Janeiro de 1945, altura em que os russos chegam ao campo.”

O Outro: “Já ouvi falar desse livro. É mais um relato de um prisioneiro nos campos de extermínio nazi”

Eu: “Mas não é MAIS UM! Não é justo considera-lo dessa forma, pois o livro é, acima de tudo, ou pelo menos é o que sobressai desde as primeiras páginas, uma reflexão sobre a condição humana”.

O Outro: “Ok, mas o livro não narra o dia-a-dia dos prisioneiros durante esse ano?”

Eu: “Sim, mas é mais profundo. Escrito logo depois de ter sido libertado, Levi narra a forma como foi apanhado e extraditado para Auschwitz que, na altura, era um nome como qualquer outro, sem qualquer tipo de conotação. Com ele ia milhares de pessoas que, um ano depois, apenas duas dezenas estavam vivas. Logo à chegada ele narra a selecção e o desaparecimento das mulheres, crianças e doentes.”

O Outro: “Mas na altura eles sabiam para onde iam essas mulheres e crianças?”

Eu: “Não… quer dizer, logo desconfiaram, embora e isso é algo intrínseco à condição humana, quiseram acreditar que essas mulheres e crianças estavam bem.”

O Outro: “sim... continua…”

Eu: “Bom, logo aí ele descreve os primeiros aviltamentos. Todos se despiam e ficavam nus à espera de coisa nenhuma. E a partir desse dia, era apenas fome, maus tratos, trabalho violento e a sombra da morte que pairava constantemente”

O Outro: “E como é o dia-a-dia desses prisioneiros?”

Eu: “Como deves calcular, uma miséria humana. A luta pela sobrevivência aguçava o engenho e ele descreve a forma como a pouca comida tinha cotação. Ou seja, roubava-se e trocava-se vários instrumentos pelo pouco pão que tinham direito. As doenças minavam o campo e, de vez em quando, lá vinha a selecção. É brutal a forma como ele explica o processo. Bastava o simples gesto do oficial das SS para que centenas de homens fossem parar ao gás, e eles sabiam que era esse o seu derradeiro destino.”

O Outro: “Sim, deve ser impressionante. Sobretudo tentar perceber como foi possível homens terem sujeitado outros homens a tão cruel e vil destino”

Eu: “Exacto e essa questão está latente em toda a obra. Levi questiona-se constantemente sobre isso, sobre os aspectos da alma humana, até que ponto um homem deixa de ser um homem diante de outros homens. O mal absoluto sem piedade pela condição humana. É assustador ver que o ser humano pode perder facilmente a sua consciência, tornando-se numa besta maléfica. E curioso perceber que, ao longo de toda a obra, ele vai colando alguns dos episódios, ou efectuando analogias, ao Inferno de Dante”

O Outro: “De facto. A História da Humanidade está cheia de episódios macabros em que a condição humana é esquecida, onde a natureza humana acaba por se mostrar como é violenta e sádica”

Eu: “E curioso constatar que, depois de ele escrever o livro, o mesmo foi recusado pelas grandes editoras italianas.

O Outro: “Estás a brincar!”

Eu: “Não, a sério! Devia ser ainda resquícios da ideologia fascista que inundou a Itália e que levou o país a unir-se aos nazis na Guerra Mundial. Mas o certo é que o seu relato pungente, objectivo e sereno sobre o dia-a-dia em Auschwitz, foi considerado sem interesse.

O Outro: “Poderá um homem sobreviver depois de sobreviver a Auschwitz?”

Eu: “Bela questão, pessoalmente acho que não!”

Vós que viveis tranquilos
Nas vossas casas aquecidas,
Vós que encontrais regressando à noite
Comida quente e rostos amigos:
Considerai se isto é um Homem
Quem trabalha na lama
Quem não conhece paz
Quem luta por meio pão
Quem morre por um sim ou por um não.
Considerai se isto é uma mulher,
Sem cabelos e sem nome
Sem mais força para recordar
Vazios olhos e frio o regaço
Como uma rã de inverno.

Meditai que isto aconteceu.

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Homem de Constantinopla (O) – José Rodrigues dos Santos

Já aqui referi que gosto de ler os livros de José Rodrigues dos Santos. Longe, muito longe, de serem grandes obras literárias, decerto jamais irá vencer ou perto disso o Nobel da Literatura, o certo é que os seus livros me entretém e têm a capacidade de me despertarem a atenção para outros assuntos que, por diversas vezes, me têm levado a descobrir outros autores e outras obras muito boas.

A presente obra que, vá lá, direi o primeiro volume de dois em que o autor se propõe a narrar a vida de Kaloust Gulbenkian, é pois mais um dessas obras de puro entretenimento, um pouco num estilo cinematográfico, que explana a narrativa de uma forma muito simples e com capítulos muito curtos de uma forma de takes cinematográficos e que nos vai traçando o percurso de Gulbenkian desde quase o seu nascimento até 1913, altura em que se inicia a Primeira Grande Guerra.

No entanto e de todos os livros que já li do autor, e posso dizer que já os li efectivamente todos, este é o mais fraco em todos os aspectos.

A narrativa é muito fraca e algo incoerente. Parece que o autor escreveu o livro imaginando um roteiro de um filme. As situações surgem um pouco desligadas e há outras, que a meu ver mereciam uma maior profundidade, que são narradas de uma forma muito simplista, como e por exemplo a perseguição turca aos arménios. Depois, há situações que são explicadas ou resolvidas de uma forma muito tosca. Ou seja, o autor aborda de facto essa e outras questões mas pouco ou nada a explica, deixando-nos a ideia de um trajecto feito de facilidade quando, sei, não foi bem isso que sucedeu. Para além disso, não gostei igualmente da forma que o autor encontrou para começar a história nem do encadeamento dos episódios da sua vida. Obviamente que sei que se trata de um romance, mas, a meu ver, o autor tem obrigação de fazer um trabalho mais apurado, nem que seja apenas e só devido á sua formação académica.

Tenho já o segundo volume para ler mas, face à enormidade volumosa da obra e ao tempo que demorou a escrever, não acredito que melhore, pois esta é uma obra escrita algo a “martelo” e deve ser mais do mesmo. No entanto nem tudo é mau. Entretém e dá-nos um aspecto, frágil é certo, da vida de Gulbenkian e da forma como granjeou fortuna e fama. Vou ler decerto.