segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Império de Areia – Robert Ryan


D.E. Lawrence foi uma personagem fascinante na revolta árabe durante a 1ª Grande Guerra. Fascinante e deveras misterioso, pois a sua história ainda hoje não é totalmente conhecida, existindo muitos pormenores e factos por esclarecer, assim como acontecimentos sem quaisquer explicações.

Em todo o caso esta é uma obra de ficção, mas os acontecimentos descritos sucederam mesmo e isso faz com que o presente livro seja, de facto, um romance notável.

Mas a estrutura e a escrita simples do autor ajudam. Uma escrita simples que nos faculta todas as informações necessárias para a percepção da época e do seu contexto, o autor constrói uma narrativa que nos envolve e nos situa na acção e na época.

Aqui presenciamos o nascimento da lenda e do porque de ele ter tido uma importância tão elevada na revolta.

Gostei muito deste romance e da forma como o autor conseguiu situar toda a acção, pois é precisamente isso um dos propósitos do romance histórico: situa e envolver o leitor na época descrita.

Uma obra aconselhável.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Império dos Pardais (O) – João Paulo Oliveira e Costa


Felizmente que dentro do género histórico, a literatura portuguesa tem já alguns títulos de imensa qualidade e autores que já olham para o género sem o olhar de desdém que era usual.

Desde há uns anos para cá o panorama mudou e começou-se a assistir ao surgimento de romances históricos escritos por autores portugueses, tendo como protagonistas momentos e figuras da nossa rica e vasta História.

João Paulo Oliveira e Costa, historiador, lança-se no género com este “O Império dos Pardais” e em boa hora o fez, pois deu à estampa uma obra de eleição.

O título, por si só, é uma homenagem à gesta dos Descobrimentos, sendo também uma metáfora à forma como um pequeno país conseguiu construir um império tão vasto e poderoso, enquanto outras nações bem maiores andavam entretidas a digladiarem-se entre si.

Situando-nos sobretudo no reinado de D. Manuel I, o autor, assente em diversas personagens fictícias, narra com uma clareza impressionante, numa escrita, diria cinematográfica, como foi possível acontecer tal milagre do império.

E facilmente concluímos onde esteve o segredo, sendo inegável o orgulho que sentimos por pertencer a uma nação que soube ser grande e soube-o sendo perspicaz e extremamente inteligente.

Um livro envolvente que se lê num sopro e que tem a capacidade de nos envolver de uma tal forma, que somos transportados para a Lisboa do séc. XVI, onde percorremos as ruas de Alfama, Alcântara e o Cais da Ribeira, sentimos o pulsar das suas gentes, do rei e dos seus amigos.

Em simultâneo, jogos de espionagem e lutas sangrentas contra os Mouros em terras africanas que a coroa portuguesa procurava conquistar, pois era aí que residia o segredo do Império dos Pardais.

Um livro imperdível e inesquecível!

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Jogo do Anjo (O) - Carlos Ruiz Záfon


Záfon é um autor de best-sellers vendendo milhões de livros em todo o mundo e criando um conjunto de fãs que o veneram como um Deus, sendo comum lermos considerações que o intitulam como o melhor escritor da actualidade.

Exagero, sem dúvida, face à escrita, que até é agradável, mas sobretudo face ao argumento que o autor se utiliza na criação das suas histórias e, para isso, estou a pensar nos dois títulos emblemáticos: “A Sombra do Vento” e “O Jogo do Anjo”, nitidamente romances escritos para um público alvo mais juvenil, num género que oscila entre a Aventura, policial, fantástico e gótico, sobressaindo claras influências de outros autores como Allan Põe no gótico, Victor Hugo na aventura, e até situações em que nos debatemos em questões de foro psicológico que fazem lembrar Dostoeivsky ou até no absurdo se nota influências de Lovercraft.

Em todo o caso Záfon tem um estilo próprio que o distingue da maioria dos escritores e que faz dele, não só um autor muito lido, como também muito solicitado pela industria do cinema, pois e nisso confesso a minha simpatia, ele consegue transmitir imagens do que escreve, ou seja, tem uma escrita muito cinematográfica e isso é ainda mais surpreendente quando estamos a falar num estilo que tem tanto de policial, como de aventura, fantástico ou terror e gótico.

Gostei da “A Sombra do Vento”! Não tanto pela história, mas sim por esta mistura de estilos e pela forma como o autor vai buscar situações  a outros livros e as encaixa no seu argumento, assim como gostei das várias metáforas criadas e da forma como o autor explora as várias facetas humanas. Numa escrita ora poética, ora objectiva e por vezes bem directo e incisivo, é, acima disso, original como conjuga os estilos e os géneros e, no final, admiti estar na presença de uma belíssima obra que merecia a fama que lhe tinham dado.

No entanto “O Jogo do Anjo” já não é bem assim, revelando-se um livro muito semelhante à “Sombra do Vento”, não bem no seu conteúdo, mas na forma como o autor procura conduzir a história e na forma como vai criando as situações e a encruzilhada que é o enredo.

Gostei de ler sobre a Barcelona dos anos 20 e acho que o início do livro está fantástico. David Martín, um jovem escritor que recebe uma proposta de um estranho editor chamado Andreas Corelli para escrever um estranho livro a troco de uma fortuna. Claramente que aqui se encontra o conceito de “vender a alma ao Diabo” que o autor vai sabiamente explorando ao longo do livro. A livraria Sampere e Hijos e o Cemitério dos livros esquecidos que já connosco coabitaram na Sombra do Vento, e até a relação de amizade que mantém com D. Pedro me fez lembrar Dorian Gray e Basil Hallward no “Retrato de Dorian Gray”, ou seja, um conjunto de personagens extraordinárias que vão espalhando o seu perfume nas letras do autor.

No entanto Záfon envereda por um caminho demasiadamente fantástico, traçando uma teia cheia de mistérios que roçam o absurdo e que, na minha opinião, tiram beleza ao livro e a alma que o escritor cria no primeiro terço, pois, às tantas, o que parece não é e o que não parece vai dar em becos com pouco sentido que desvirtuam a realidade e que dão pouca coerência à história. A parte final então é surpreendente pela forma como o autor não consegue dar um término aceitável, terminando tudo num amontoado de inexplicáveis situações, num labirinto literário que não vai dar a lado algum e que nos deixa deixa com uma sensação de “esperem, acho que perdi qualquer coisa”.

É um bom livro sobretudo para os amantes do género fantástico, mas que está longe do brilhantismo da “A Sombra do Vento”

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Guia para ficar a saber ainda menos sobre as mulheres – Isabel Stilwell


Confesso que peguei neste livro sem qualquer expectativa e com apenas duas pretensões: 
1) Lê-lo o mais rápido possível para o tirar da pilha (o que consegui em duas horas); 
2) perceber que género de livro se tratava, pois a autora merece-me o maior respeito devido a outros livros que li e gostei.

E até que é engraçado!

Escrito de uma forma mordaz e cheio de humor, Isabel Stilwell elabora um género de manual onde expressa as tremendas capacidades femininas que tanto baralham e irritam os homens. No entanto vai mais longe, admite que as mulheres são complicadas por natureza e que, mesmo inconscientemente, manipulam os homens a seu belo prazer.

Achei muito curioso constatar situações já vividas por mim próprio, ficando também mais descansado por perceber que o mal nem é tanto meu, mas sim dessa inata capacidade feminina em complicar.

É pois um guia que dá dicas de como o homem agir, do que as mulheres gostam, do que a faz feliz, pelo menos temporariamente, pois a seguir já não serve e voltam a complicar.

O tom é sempre irónico e cheio de humor. A autora vai ao ponto de publicar cartas supostamente escritas por diversos tipos de homens (o charmoso, o macho latino, o gentleman, etc) e a sua resposta “merecida”. É hilariante algumas das cartas em reacção a este livro, acabando em beleza com um sms de um leitor e a resposta de Isabel com um sms merecido.

Uma obra muito curiosa e divertida que proporciona aos homens e se calhar até às próprias mulheres, um bocadinho de conhecimento do intrincado, misterioso e complicado mundo das mulheres.